Pouca participação do público, um problema eterno em Curitiba? (Foto - Marcos Anubis/Cwb Live)

Pouca participação do público, um problema eterno em Curitiba? (Foto – Marcos Anubis/Cwb Live)

 

Texto – Marcos Anubis

Revisão – Pri Oliveira

 

A situação política do país é conturbada e parece não ter solução. Extremismos surgem de ambos os lados, tanto no governo como na oposição, e uma figura com argumentos conciliatórios, que possa fazer um meio-campo entre os gladiadores que se enfrentam nesta arena, parece não existir.

Não, o Cwb Live não foi criado para falar de política. A ideia desse texto é buscar uma reflexão. É possível estabelecer um paralelo entre a situação política do Brasil e a cena musical curitibana? Na capital paranaense, existe sempre uma grande discussão nas redes sociais sobre a cena local. Nela, surgem as mais variadas teorias e soluções para o problema. Mas, fora as palavras de ordem, você faz a sua parte?

Vamos tentar levantar algumas questões e levá-las em consideração. Quantas matérias que mostram o trabalho de bandas curitibanas, publicadas em qualquer veículo, você compartilhou nesses três primeiros meses de 2015? Em quantos shows de bandas autorais você foi, nesse ano? Entenda o questionamento como uma reflexão que precisa ser feita por todos os agentes dessa cena: músicos, produtores, jornalistas e público.

 

Questões a serem entendidas

 

O doutor em ciências da comunicação, Carlos Tourinho, diz em seu livro “Inovação No Telejornalismo” (2009): “Os jovens consideram a Internet uma ferramenta ativa porque permite que o usuário escolha a informação que lhe interessa. Nas demais mídias, outros escolhem por você. Em síntese, rejeitam a figura do gatekeeper, o selecionador, editor de notícias de jornal. A demanda por interatividade é brutal. Basta ver que as matérias postadas na Internet que permitem comentário têm mais procura do que as que não permitem”, afirma.

Curitiba parece ir na contramão dessa afirmação acadêmica. As redes sociais são disseminadoras de conteúdo, mas cabe a nós, usuários, decidirmos o que iremos propagar. Quantas postagens sem sentido, sem nenhum conteúdo, alcançam milhares de views no mundo cibernético? Tomando por base essa “fórmula mágica”, não é óbvio que quanto mais conteúdo sobre as bandas curitibanas você encontrar na Internet, mais elas terão a possibilidade de evoluírem em suas carreiras?

O que se vê em Curitiba é um cenário oposto a essa ideia. A propagação de informações sobre as bandas locais é mínima. Matérias publicadas tanto nos veículos independentes quando na maior empresa midiática que nós temos, a Gazeta do Povo, não “decolam” da forma que poderiam. “Se as pessoas em vez de curtirem, compartilhassem o material que as bandas daqui postam, com certeza elas atingiriam todo o Brasil”, afirma o produtor e músico Renato Ximú.

Como exemplo, ele cita uma postagem em sua página pessoal no Facebook, onde questionava a omissão do público da cidade em relação ao tema. “Muitas pessoas curtiram, compartilharam e comentaram. Todo mundo sabia a resposta. No dia seguinte eu postei uma música minha e ninguém compartilhou. Ou seja, os mesmos que possuem as respostas são os que não divulgam o trabalho de artistas locais”, analisa.

Essa falta de participação é sempre citada pelos músicos locais como um dos motivos que fazem com que o cenário cultural da cidade não evolua. “A cena local não dá certo apenas porque as pessoas daqui não consomem. Ou eles acham que não existe qualidade nos artistas curitibanos ou têm vergonha de consumir”, critica Ximú.

 

A força das redes sociais

 

O poder da Internet como disseminadora de conteúdo não possui limites. Estranhamente, as pessoas parecem não terem adquirido a real consciência desse fato e percebido a forma como podem influenciar o cenário musical da cidade. Cada ação, por menor que seja, pode fazer a diferença dentro desse contexto.

Compartilhar uma matéria que fale de uma banda local, seja ela escrita por quem for, proporciona um cenário muito maior para essa banda. “Essas interações são, de certo modo, fadadas a permanecer no ciberespaço, permitindo ao pesquisador a percepção das trocas sociais mesmo distante, no tempo e no espaço, de onde foram realizadas”, diz a professora e pesquisadora Raquel Recuero em seu livro “Redes Sociais Na Internet” (2009).

O resultado direto dessa maior exposição é ser “notado” pelos produtores e donos de bares. Para um grupo que não tem um staff para trabalhar por ele, o show é seu grande cartão de visitas. Consequentemente, quanto mais público assistir a essas apresentações, mais divulgação a banda vai ter. Mas se essa equação, no papel, é fácil de ser estabelecida, na prática ela não acontece.

Um dos casos de maior sucesso da rede social como disseminadora de conteúdo é a fanpage da Prefeitura Municipal de Curitiba, carinhosamente chamada de Prefs. Em dois anos lutando contra a aura sisuda e fechada que caracteriza o cidadão curitibano, a página conta atualmente com quase 500 mil curtidores e boa parte deles interage com a página. “Cada uma das ações de Facebook precisa de um certo nível de envolvimento. O botão de like é que menos precisa de envolvimento, afinal, só é preciso dar um clique. É meio que um gostei, mas não quero fazer muito por você”, analisa a social media Jana Santos, uma das responsáveis pelo sucesso da Prefs.

Ela complementa que, para se tornar um disseminador de um conteúdo qualquer, o internauta precisa se sentir parte do que vai compartilhar. “Para a pessoa dar um like e comentar, ela precisa se envolver muito, querer entrar na discussão ou expor uma opinião. Para curtir, comentar e compartilhar, ela precisa de um nível de envolvimento ainda maior, afinal, ela está expondo toda sua rede de amigos para aquele conteúdo”, diz.

Dentro dessa análise, o conceito de “bom ou ruim” não é uma ciência exata nas redes sociais. É preciso estabelecer uma relação com o internauta. “O que podemos dizer é que do ponto de vista do conteúdo, não basta só ser uma boa música ou uma banda legal, temos que nos preocupar cada vez mais em criar conteúdos que gerem curiosidade e que as pessoas se identifiquem para compartilhar com a sua rede. Isso é um desafio diário”, finaliza Jana Santos.

Qual é o seu pensamento sobre essa discussão? Deixe a sua opinião.