Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira

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O Asteroides Trio, de São Paulo, está prestes a completar 14 anos de estrada, o que é um fato raríssimo dentro do complicado cenário underground brasileiro. Porém, essa longevidade diz muito sobre a postura com que Franco Kid (vocal e bateria), Weasel Rocker (baixo acústico) e Formiga (guitarra) sempre procuram ter quando se envolvem com qualquer manifestação artística. Afinal, o underground é (ou deveria ser) muito mais do que uma simples cena musical, pois envolve atitudes que por si só já não se enquadram no status quo.

No dia 21 de fevereiro, o Asteroides será uma das atrações da noite de abertura da 21ª edição do festival Psycho Carnival, que acontece de 20 (quinta-feira) a 24 de fevereiro (segunda-feira) no Jokers Pub, em Curitiba.

Essa será a terceira participação do grupo no evento, mas a vivência do trio dentro da cena Psychobily brasileira é ainda mais antiga. Isso faz com que a banda tenha um entendimento bem amplo sobre a cena e, sobretudo, saiba valorizar o que é feito em prol dessa parcela de bandas que vive fora do mainstream. “Eu vejo o festival como um foco de resistência e, por esse motivo, ele é de grande importância! O underground sempre será efervescente, trazendo muitas novidades, mas para quem está interessado em conhecer coisas novas. A pessoa pode se acomodar e ficar ouvindo somente Classic Rock, os mesmos refrões de sempre, ou interagir com o que está sendo produzido atualmente. Para ser justo, acredito que o clássico deve andar junto com o novo. Mas, no Brasil, na grande mídia, o Rock continua engessado”, diz Franco Kid.

Na visão do baterista e vocalista do Asteroides, a estrutura da cena underground brasileira nos últimos anos, mesmo com todas as dificuldades, ainda conseguiu evoluir. “Acredito que está melhor, mais estruturada e profissional. Quem ama o que faz resiste e supera as dificuldades”, complementa.

Nesses 14 anos de luta, o Asteroides gravou a demo “Asteroides Trio” (2007) e o CD “Geração Drosophila Melanogaster” (2017), além de ter participado das coletâneas “Punkabilly – Tributo Rockabilly ao Punk Nacional (2013), “Coletânea Frequência Alternativa” (2014) e “A 300 km Por Hora – Tributo ao Autoramas” (2018). Atualmente, o grupo está trabalhando em um novo álbum. “Estamos no processo de composição e ensaiando toda semana. Em breve teremos novos lançamentos”, conta.

Além disso, nas últimas semanas, o Asteroides também está realizando alguns ensaios com o vocalista do Ratos de Porão, João Gordo, no que pode vir a se tornar um novo projeto. “Essa parceria pode render alguns frutos, um disco ou alguns shows. Vamos deixar no ar!”, complementa.

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A arte como meio de expressão

Nos últimos anos, os artistas brasileiros vêm enfrentando uma “caça às bruxas”, inclusive com a volta da censura, o que parecia algo impensável no século XXI. Nesse cenário, muitos preferem adotar o silêncio como uma maneira de autopreservação, mas alguns fazem questão de remar contra a maré. “Acredito que a hora agora é de se posicionar, principalmente se você é artista, seja qual for sua atuação, na música, no desenho ou na literatura. Atualmente, temos um governo que é contra a cultura e a educação e que estimula a barbárie”, diz.

O mais recente posicionamento artístico do Asteriodes aconteceu no final de 2019, quando o trio lançou a música “Não à intolerância! (Larissa)”, que aborda um tema sensível na sociedade brasileira atualmente.

A canção teve a participação do artista performático General Sade e fala sobre o assassinato da jovem transexual Larissa Rodrigues, que foi espancada até a morte em um bairro nobre da capital paulista em maio de 2019. “Os casos de violência contra pessoas transexuais aumentaram consideravelmente no Brasil, devido às políticas nazipentecostais apoiadas pelo governo Bolsonaro. Para gravar, nós convidamos o artista performático General Sade, por causa do talento e por pensar como a gente”, conta.

De maneira geral, Leandro procura expressar ideias e assuntos que deveriam, mas que nem sempre são abordados no mundo musical. Além da música, Franco também usa os cartoons como forma de expressão artística e, nesse meio, ele vem criando charges geniais que inclusive foram censuradas nas mídias sociais. “A censura hoje em dia parte de alguns setores da sociedade. Recebo ameaças de processo, xingamentos, etc. Mas se isso acontece, é porque estou acertando. É preciso colocar o dedo nas feridas. Eu até me divirto com essas situações. Acredito que temos uma vantagem sobre estas pessoas, que é a de possuir um cérebro”, opina.

Essa será a terceira participação do Asteroides no festival e, todas elas, de uma maneira de ou outra, ficaram marcadas na trajetória do grupo. “Um show que ficou gravado na memória foi o que fizemos em 2018, na noite do Meteors. Nem tanto pelo Meteors, mas pelas pessoas que estavam ali naquela noite. Tivemos a participação no nosso amigo Barata, do DZK, e lembro que o Iuri Iona (RIP) estava na plateia, além dos amigos que estavam curtindo (punks e psychos). Foi uma grande noite! É sempre ótimo tocar no Paraná!”, diz.

Outra apresentação em Curitiba, que não foi no Psycho Carnival, mas também foi importante para o grupo, aconteceu em 2018, quando eles abriram o show do texano Wayne Hancok, no Jokers, junto com o one man band Chucrobilly Man. “O tiozinho é muito louco, toda a banda, aliás! Eu me lembro de cantar Buddy Holly com eles no camarim. Fomos convidados pelo Edu Lane, do Nervochaos, para acompanhar os shows dele em Curitiba e no interior de São Paulo. Foi muito bom mesmo”, finaliza Leandro Kid.

O Asteroides Trio se apresenta no dia 21 de fevereiro no Jokers, na noite de abertura da 21ª edição do Psycho Carnival. A programação ainda terá as bandas Ovos Presley, The Freeborn Brothers, Kingargoolas, Mongo e Fish’n Creepers, além de shows com o The Jorgettes e as Cigarras no evento paralelo que acontecerá à tarde na Gibiteca de Curitiba.

Serviço

Cinco dias para celebrar a música, a amizade e a diversão. Esse é o espírito da 21ª edição do tradicional festival curitibano Psycho Carnival, que será realizado entre os dias 20 (quinta-feira) e 24 de fevereiro (segunda-feira) no Jokers Pub, em Curitiba. “Boa parte do público que vem todo ano ao festival acabou construindo amizades que permanecem até hoje”, diz um dos organizadores do Psycho Carnival, o músico e produtor cultural Vlad Urban.

Em 2020, o evento reunirá 37 bandas de oito países. A ideia é apresentar um grande panorama do que há de melhor no mundo do Psychobilly, Rockabilly, Punk Rock, Outlaw Country e Surf Music. Entre as atrações deste ano estão o Guana Batz (Inglaterra), o Cenobites (Holanda), e os grupo curitibanos Ovos Presley, Os Catalépticos e Hillbilly Rawhide.

Assim como nos últimos quatro anos, o festival terá como base principal o Jokers Pub, localizado na região central de Curitiba. Porém, nesta edição, também serão realizados alguns shows gratuitos no Lado B Bar, nas Ruínas de São Francisco, no Largo da Ordem (com o apoio da Rádio Mundo Livre FM) e na Gibiteca de Curitiba. “Os eventos gratuitos são muito importantes! Independentemente do apoio ou não do poder público, nós acreditamos que todos devem ter acesso à cultura”, afirma Vlad Urban.

Os ingressos custam de R$ 50 a R$ 250 e podem ser adquiridos no site Sympla. Confira todas as informações sobre a 21ª edição do Psycho Carnival neste link.

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