Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira

flavio

O “choro” da gaita, ou tecnicamente da harmônica, exprime muito bem a alma do Blues. Dentro do estilo, esse instrumento pode ser considerado tão importante quando o canto, pois é por meio dele que o sentimento que a canção carrega chega até os corações e mentes dos ouvintes.

E no Brasil ninguém faz essa ponte melhor do que Flávio Guimarães. No último domingo (28) o músico se apresentou na Caixa Cultural em Curitiba ao lado do guitarrista Netto Rockfeller e brindou os curitibanos com seu talento.

Flávio se apresentou também no sábado (27) e os dois shows fazem parte da divulgação do álbum “Nice And Easy”, lançado no início desse ano. O trabalho foi gravado no estúdio Papagaio Records em São Carlos em apenas quatro horas durante um dia de folga na turnê. Nele, Flávio e Netto foram acompanhados por Thiago Cerveira (guitarra) e Bruno Marques (bateria), mesma formação do show na Caixa Cultural.

A história de Flávio Guimarães se confunde com a do Blues no Brasil. Em 1985 ele participou da criação do Blues Etílicos, grupo que praticamente apresentou o estilo ao grande público brasileiro. Na discografia da banda vários álbuns se tornaram clássicos, como “Água Mineral” (1989), “San Ho Zay” (1990) e “Salamandra” (1994). Em 2015 o grupo está comemorando 30 anos de estrada e existe a possibilidade de se apresentar ainda neste ano em Curitiba.

Além de sua banda e do seu trabalho solo, Flávio participou dos trabalhos de grandes nomes como Cássia Eller, Djavan e Zeca Baleiro.

 

Durante o show, era perceptível a elegância com que Flávio toca cada nota de seus solos e o carinho com que trata suas harmônicas. Sobre as harmonias e os ritmos criados por Rockfeller, Thiago e Bruno, o gaitista desfila sua técnica apurada, mas acima de tudo sua percepção e sentimentos que são claramente percebidos pelo público.

Na década de 1980, em uma entrevista sobre o álbum “New York” (1989), Lou Reed disse que o disco era como um livro onde você ia lendo capítulo por capítulo. No Blues, mais uma vez a comparação é pertinente pois a cada canção, mesmo que não diga uma palavra sequer, Flávio faz com que a gaita conte uma história diferente por meio de suas melodias.

Durante a apresentação, a dupla surpreendeu os fãs ao tocar “Lobo Da Madrugada”, de Luiz Ayrão. Ao explicá-la, Flávio falou sobre a tristeza e, na linguagem popular, a “dor de cotovelo” que ambos os estilos incorporam. “Essa roupa eu já vesti várias vezes, tenho vários cabides lá em casa”, brincou Netto. “Você veio buscar lã e saiu tosquiada. Ovelhinha da manhã, sou o lobo da madrugada”, diz a letra da canção.

No bis, fechando a apresentação, Flávio tocou novamente “Nice And Easy” e deixou o palco recebendo os aplausos e o respeito do público curitibano. Confira a música “Nice And Easy” que abriu a apresentação deste domingo.