Texto: Marcos Anubis
Tradução e revisão: Pri Oliveira
Fotos: Reprodução/Facebook Guana Batz

A Banda é uma das lendas da história do Psychobilly e desembarca em Curitiba como a grande atração da 17ª edição do Psycho Carnival




Uma espera que já está completando 27 anos acaba na próxima segunda-feira (8). Daqui a uma semana, a cena Psychobilly brasileira finalmente poderá reencontrar a banda inglesa Guana Batz. O grupo fecha a 17ª edição do Psycho Carnival e certamente fará um dos shows mais marcantes das quase duas décadas de história do mais tradicional festival Psychobilly da América do Sul. Essa expectativa se justifica. Em 1989 o Guana Batz fez o que é considerado o primeiro grande show internacional de Psychobilly em terras brasileiras.

E se a apresentação foi marcante para os fãs, a ponto de ainda hoje ser comentada, ela também é lembrada com carinho pela banda. “Eu sempre lembro o quão entusiasmados os fãs estavam aí no Brasil! Foi tão louco para nós o fato de irmos tocar em um país tão distante, onde as pessoas conhecem e curtem a nossa música. Isso foi muito emocionante para nós” relembra o vocalista Pip Hancox.

O show também acabou ficando marcado por uma fatalidade. “Eu lembro que fizemos um pequeno show extra, tentando levantar dinheiro para uma família cujo filho havia morrido em um acidente de carro enquanto estava vindo para nos ver tocar. Isso foi muito triste. Mas, no geral, foi uma grande viagem pra nós”, complementa.

O acidente a que Pip se refere aconteceu com o guitarrista e vocalista da banda paulista Grilos Barulhentos, Billy Gato. Na chegada do Guana Batz ao Brasil, ele e seu primo foram até o aeroporto recepcionar o grupo e acertar um show que os ingleses fariam em Santos e que teria a abertura do Grilos Barulhentos. No retorno para casa, Billy e seu primo sofreram um acidente de carro e morreram na hora.

Além de Pip, a formação que vem ao Brasil ainda tem Stuart Osbourne (guitarra), Jared Hren (bateria) e Paul “Choppy” Lambourne (baixo). Essa será a primeira vez que a banda se apresentará com essa lineup.




Letras urbanas

Surgido em 1983 na cidade de Middlesex, na Inglaterra, o Guana Batz é um dos maiores nomes da geração Klub Foot. A casa de shows que fica em Londres é considerada o templo do Psychobilly, da mesma forma que o CBGB em Nova York é lembrado pela geração Punk que nasceu por lá.

Desde o seu início, as letras do Guana Batz buscaram uma temática mais urbana, falando da vida nas ruas. Aos poucos isso foi se tornando uma marca do grupo, pois fazia um contraponto à linha normalmente usada pelo Psychobilly, que é abordar temas como zumbis e ficção científica. “Nós sempre achamos mais fácil escrever canções sobre assuntos que possam se relacionar mais com um pouco do que deveríamos escrever a fim de se encaixar com um estilo de música. Muitos dos temas das nossas canções vêm das nossas experiências saindo juntos pelas ruas de Londres. Nós também falamos sobre carros e motocicletas, já que o Stuart e eu estamos muito envolvidos com esses assuntos, pois são nossos hobbies”, explica Pip.

Outra característica do Guana Batz é tocar alguns covers em seus shows. O setlist de suas apresentações costuma incluir, por exemplo, “Rebell Yell” do inglês Billy Idol e “Rock ‘n’ Roll” do Led Zeppelin. Uma dessas versões mais surpreendentes, e bem executadas, é a da música “I’m On Fire”, faixa do álbum “Born in the USA”, lançado em 1984 por Bruce Springsteen. “Na verdade, essa foi uma canção que havia acabado de ser lançada pelo Springsteen na época, e estava tocando muito nas rádios. Então eu percebi que tinha um estilo muito original e gostei”, explica.

A adaptação ao “estilo Guana Batz” aconteceu quase que por acaso. “Um dia, durante a passagem de som, nós começamos a tocar essa música apenas por diversão, quando percebi que funcionou muito bem com o baixo e com um estilo mais Rockabilly. Eu ainda amo tocar essa música ao vivo, pois ela tem uma grande melodia vocal também”, complementa Pip.

pip




A evolução da cena Psychobilly nas últimas três décadas

Como um dos nomes mais importantes da história do Psychobilly, o Guana Batz pôde acompanhar de perto a evolução do cenário Psychobilly em todo o mundo durante os seus mais de 30 anos de carreira.

Esse conhecimento “in loco” faz com que Pip possa analisar com clareza as sementes que germinaram a partir do Guana Batz. “Eu acho que existem algumas grandes bandas com talento e estilo que nos seguiram. Infelizmente, no final dos anos 1980 e início da década de 1990 a cena ficou saturada com bandas que realmente não tinham talento para mantê-la forte e seguindo em frente, especialmente no Reino Unido. Parecia que qualquer grupo de amigos poderia se reunir e começar uma banda de Psychobilly. Com isso, o status do gênero declinou rapidamente, ferindo a cena de verdade”, diz.

Daquele momento em diante, de acordo com o vocalista, o estilo se revigorou. Parece que o grande segredo para que a cena se mantenha forte mundialmente é o mesmo que vale para qualquer estilo: alma e inventividade. “Desde então, felizmente, muitas bandas boas se juntaram à cena, e isso ajudou o Psychobilly a sobreviver em todo o mundo. Ele sempre foi um estilo divertido de música, mas a musicalidade e a criatividade ainda devem estar lá para que a cena continue a crescer” complementa.

A Meca do Psychobilly nacional

Hoje, Curitiba pode ser considerada a capital do Psychobilly no Brasil. E isso não se justifica apenas pelo Psycho Carnival que atrai fãs de todo o mundo, mas também pela quantidade e qualidade das bandas que a cidade tem produzido nas últimas décadas.

Em 1989, quando o Guana Batz esteve pela primeira e última no Brasil, São Paulo era o centro dessa cena. De lá para cá, muita coisa mudou. A capital paulista ainda produz grandes bandas, mas Curitiba deu um salto de qualidade impressionante. “Isso é uma surpresa para nós. Eu acho que só nos apresentamos em São Paulo antes, então é estranho que toda a cena tenha mudado para uma área diferente, embora pareça acontecer o mesmo na maioria dos países”, analisa Pip.

Segundo ele, esse fenômeno também tem se repetido em outros países. “Los Angeles, por exemplo, tem uma grande presença de fãs do Psychobilly, mas o resto dos Estados Unidos realmente se esforça para conseguir um grande número de pessoas presentes nos shows”, afirma.

Na próxima segunda-feira (8), Pip e o Guana Batz voltam a se apresentar em um país que os respeita e aprecia a sua música. Certamente, a banda se sentirá em casa em Curitiba. “Nós fomos contatados pelo promotor do Psycho Carnival muitas vezes para tocar no festival, mas, por um motivo ou outro, nunca tínhamos feito isso acontecer. Então, estamos superanimados para finalmente tocar no Psycho Carnival. Agora ele realmente parece ser um dos melhores e mais populares festivais de Psychobilly no mundo e por isso deverá ser um grande show para nós. Vejo todos vocês lá!”, finaliza Pip.

O Psycho Carnival começa na próxima sexta-feira (5) no Jokers Pub. Os ingressos para o evento são limitados e podem ser adquiridos no site da Ticket Brasil. Em Curitiba os bilhetes também estão à venda nas lojas Dr. Rock Centro (Shopping Metropolitan, Praça Rui Barbosa, 765, loja 4, Centro), Dr. Rock Jardim (Shopping Jardim das Américas, Av. Nossa Senhora de Lourdes, 63, Loja 73-B, Piso 1, Jardim das Américas) e na Túnel do Rock (Rua XV de Novembro, 74, Centro).  Em São Paulo os ingressos estão à venda na Galeria do Rock (Av. São João, 439, 3º andar, loja 402) e em Blumenau na Blu Rock (Rua Dr. Amadeu da Luz, 132, Centro).

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