Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Reprodução Facebook Hangar - Casa do Ócio/Arquivo

hangar

O Hangar Bar, um dos locais mais tradicionais do cenário musical curitibano, reabre nesta sexta-feira (26). A inauguração terá entrada gratuita (com a doação de 1 kg de alimento) e contará com shows das bandas Axecuter, Death Chaos, Chubasa e CrotchRot.

A programação de reabertura continua neste sábado (27), com shows das bandas Sr. Barão, Cobaias Rock Club, Bigode Cheiroso e 3 Way Jam, e no domingo (28), com apresentações dos grupos Dopamina, Insoburdinados, Trouble Paradise e From Here to Eternity (Nightwish Cover).

O Hangar sempre foi palco de festivais importantes da cena underground curitibana, como o Dead Shall Rise. Além disso, o bar também recebeu vários shows de bandas nacionais e internacionais, como  Raimundos,  Inocentes, Velhas Virgens,  Garotos Podres e  Aborted.

A casa, que foi fechada em 2014, agora se chama “Hangar – Casa do Ócio” e foi bastante reformulada. O palco, por exemplo, ganhou um circuito elétrico exclusivo para garantir a qualidade dos shows e viabilizar a construção de um estúdio de ensaio. “O imóvel estava embargado pela prefeitura, pois tinha inúmeras irregularidades. Foi bem difícil para o próprio dono deixá-lo em condições para locação, principalmente pela questão de ser um patrimônio histórico”, explica um dos sócios idealizadores da reabertura do Hangar, Josmar Batista. “Houve o desmembramento do casarão histórico em relação ao palco. A prefeitura determinou a cor da pintura externa, não pudemos opinar em relação a isso”, complementa. O primo de Josmar, Osmar C. B. Leal, e o técnico de som Jandir Barão completam a trinca que comandará o bar.

A luta para reabrir o Hangar já durava três anos. Os idealizadores buscaram várias opções de lugares e, em um golpe do destino, o imóvel onde está localizado o bar acabou aparecendo quase que por acaso. “Procurávamos um espaço para a cena underground e para criar um centro cultural. Um dia, estávamos conversando com o pessoal da imobiliária quando chegou um funcionário com as chaves do Hangar anunciando que o imóvel entraria para locação. Foi ‘providencial’ (risos). Não hesitamos e decidimos no mesmo instante que seria esse imóvel!”, conta.

O grupo assumiu a casa há três meses e deu início aos ajustes necessários para a inauguração. “Não está tudo 100% ainda, mas nós já conseguimos abrir o estúdio há cerca de um mês. Além do bar ser uma casa underground com shows de bandas autorais e cover, nós também tentaremos trazer grupos nacionais e internacionais. O Hangar se transformará em um centro cultural. A ideia é valorizar a cultura underground como um todo, com a tatuagem, o teatro e a galera que desenha. Nós teremos cursos de desenho e, futuramente, pretendemos trazer cursos de latim e de grego, inclusive. Existem muitas bandas que gostariam de ter letras com base nessas línguas. No futuro, nós também queremos montar um selo do Hangar”, revela.

ingresso - festa hangar

A importância para a cena

Para as bandas curitibanas, a reabertura do Hangar gera a expectativa de que a cena musical da cidade possa se fortalecer. “O nome Hangar Bar é mágico, e saber que teremos uma quarta geração desse icônico local é excitante! Eu toquei no Hangar em suas três gerações com as minhas bandas: o Hate, o Legion of Hate e o Division Hell. Nos anos 1990, ganhamos um festival de bandas autorais com o Hate. Lembro que se formavam  filas enormes na porta do Hangar, uma coisa rara de se ver em bares de Rock. A reabertura do Hangar é uma esperança de que o Rock e o Metal tenham mais um espaço relevante na boemia curitibana”, diz o vocalista e guitarrista do Division Hell, Ubour. “Todo lugar que abra espaço para músicos curitibanos é muito importante. O Hangar teve uma história relevante e foi berço para o nascimento de várias bandas”, diz o produtor cultural e músico Vlad Urban.

Obviamente, a histórias vividas por fãs nos inúmeros shows que aconteceram no Hangar ainda permanecem vivas até hoje. “Quando o Joe Lynn Turner (Rainbow, Deep Purple, Yngwie Malmsteen) e o Tony Martin (Black Sabbath). O show estava marcado para uma casa grande, o Moinho São Roque, se não me engano. Só que os caras foram lá à tarde passar som e, em cima da hora, transferiram o show para o Hangar, creio que foi pela baixa venda de ingressos. Chegando lá, eu vi com meus próprios olhos os caras da produção e da banda deles, que eram músicos do Rio, metendo o pau na casa e cancelando o show. Vendo isso, eu e mais uns três doentes mentais pedimos delicadamente que eles se sentassem, ficassem quietos ou se retirassem do local. Eles ficaram amedrontados e pediram para o Joe e o Tony irem para o hotel com eles porque estava ficando perigoso, mas eles falaram que iam permanecer no local. A noite se estendeu com o Turner sentado em uma mesa com um violão, tocando e cantando sons dos anos 1960,70 e 80. Foi muito melhor do que um show!”, conta o vocalista e baixista do Slammer, Eduardo “Urso”.

Como todo lugar que carrega uma história dentro de uma cena, o Hangar foi palco dos primeiros shows de muitas bandas e artistas da capital paranaense. “O Hangar foi um dos primeiros bares de Curitiba no qual eu tive o prazer de subir no palco. Na época, eu tinha uns 18 anos e toquei com a Plastic Dolls, uma banda só de meninas. Nós eramos todas doidinhas e foi incrível olhar aquele palco e aquela galera agitando. Nunca vou esquecer essa alegria de estar em um palco foda! Essa reabertura será muito importante para nossa cena, que precisa de mais lugares para o bom e velho Rock’n’roll!”, diz a baterista do The Shorts e do Wi-Fi Kills, Babi.

A casa abre às 18h e os shows começam às 19h. O Hangar – Casa Do Ócio fica na Alameda Dr. Muricy, 1091, no São Francisco. Relembre alguns shows marcantes na história do Hangar.