Krappulas entrevista Psycho Carnival 2015

Krappulas, um dos mais respeitados grupos curitibanos (Foto – Camila Zanon)

 

Um dos shows mais esperados da 16ª edição do Psycho Carnival é o da banda curitibana Krappulas. Com mais de duas décadas de estrada, o grupo é um dos mais antigos e respeitados da cena psychobilly brasileira.

A banda teve início em 1991 como Dráculas Krápulas e pouco depois assumiu a sua identidade atual. “Consultamos um numerólogo e tarólogo e ele não teve dúvidas ao nos dizer: ‘Para fazer sucesso tem que ser Krappulas’. Aí já era”, diz o vocalista Breno. As influências do grupo passam por nomes como The Cramps, Alien Sex Fiend, Missionários, Meteors e Guana Batz, entre outras. “Nesse tempo todo em que estamos tocando juntos dá para ver a mudança da banda pelos nossos trabalhos lançados. Hoje somos um grupo de Psychobilly com uma forte pegada de Rock ‘n’ Roll”, diz.

A formação atual do Krappulas tem Cris (bateria), Andre Manolo (baixo), David (guitarra) e Breno (vocal). Sua discografia é uma das mais extensas entre as bandas curitibanas, com dez trabalhos lançados, entre coletâneas e CDs autorais. “Dance After Dead” Compacto (1993), “Psychorrendo” Coletânea (1995), “Traidô – Tributo ao Ratos de Porão” Coletânea (1998), “10 anos de 92°” Coletânea (2001), “Escape From Hell” CD “2002”, “Dance With A Chainsaw” Coletânea (2002), “Funeral Music” Coletânea (2003), “Psychoworld” CD (2012), “Bombing Brazil – Tributo ao Motörhead” Coletânea (2013) e “Into the Grave” EP (2013).

O Krappulas é uma presença constante no Psycho Carnival, por conta do tempo de estrada e da importância para a cena psycho nacional. “Tivemos muitos bons momentos, mas acho que o mais emocionante foi quando tocamos antes do Batmobile, uma banda holandesa que seguramente é a maior influência do Krappulas. Esse é o tipo de coisa que faz o rock valer a pena!”, relembra Breno.

 

A importância do Psycho Carnival

 

O Psycho Carnival é reconhecido como um dos mais importantes festivais psycho do mundo, e o mais representativo no Brasil. Esse status foi construído aos poucos, com muita luta e união da cena curitibana. “Cara, o Psychobilly não é um estilo popular. Nem na Europa você esbarra em um psycho em cada esquina, imagine no Brasil! Portanto você não tem uma legião enorme de fãs que consome tudo. A cena é pequena em qualquer lugar do mundo”, explica Breno. “E mesmo assim nós temos em Curitiba um dos maiores e mais respeitados festivais de Psychobilly do mundo, e o mais incrível, em um estado que não tem tradição nem no rock!”, complementa.

Além dos fãs do estilo, muitas pessoas veem no festival uma forma de fugir dos “sambas de fevereiro”. Mas são os membros da cena psycho que mantêm essa chama viva e despertam o respeito de todo o mundo para o festival. Essa interação entre público e bandas no Psycho Carnival é um dos pontos mais importantes ressaltados por Breno. “Além de possibilitar ao público psycho o acesso às melhores bandas do estilo do mundo, o Psycho Carnival é o evento que mais agrega e fortalece a cena brasileira! Se o piá vem pela primeira vez ao festival e tem dúvidas se é isso mesmo que ele quer, basta o primeiro acorde da guitarra, o primeiro slap do baixo que, se ele gostar de Psycho, pode ter certeza que já estará contaminado e não vai aguentar esperar o ano seguinte chegar para voltar ao Psycho Carnival”, diz Breno.

Mas se durante quatro dias por ano o Psycho Carnival coloca em evidência o movimento e as bandas do estilo, as dificuldades enfrentadas pelos grupos são uma constante. “Cara, quanto ao apoio de gravadoras e mídia, simplesmente nunca teve, nem mesmo na época em que gravadora era uma coisa importante. O Psycho é maldito e sempre fez parte da cultura alternativa. O legal é que agora os lançamentos independentes conquistam maior expressão que muita coisa feita pelas majors”, analisa. “Atualmente as mídias sociais equalizam um pouco a diferença entre ser um artista contratado por uma gravadora ou um independente. Acho que podemos decretar que nunca tivemos e não precisamos de gravadoras, sobrevivemos muito bem sem elas”, complementa.

Apesar das barreiras enfrentadas, Breno acredita que o cenário ainda resiste e se fortalece. “Eu diria que hoje é um momento diferente, mais calmo, com bandas novas e uma galera que gosta mesmo de Psychobilly. Tivemos um momento em que a Country Music trouxe muita gente para conhecer esse tipo de rock maldito, por conta das bandas que misturavam os estilos, o que foi muito bom porque divulgou a cultura, aumentando consideravelmente a cena”, analisa. “Muitos dos que naquela época começaram a ouvir Psycho, meio que de carona, acabaram gostando e continuam indo aos shows. A parte boa é que bandas novas continuam surgindo e são muito legais! Um bom exemplo é a Tampa do Caixão, de Santa Catarina”, elogia.

 

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David, peso e agressividade a serviço do Krappulas (Foto – Camila Zanon)

 

A construção do cenário psychobilly curitibano

 

Curitiba é reconhecida como uma das cenas psycho mais fortes do país, talvez a maior de todas. Ela se destaca muito em relação às outras cenas musicais da cidade, se mostrando sempre muito bem organizada, com shows e eventos acontecendo regularmente. Breno acredita que muitos fatores foram responsáveis para que isso, hoje, fosse possível. “Ela foi construída com uma visão de futuro, muito à frente, de gente que adora Psycho. Pessoas como o Vladimir Urban e o Wallace Barreto, principalmente. Mas além deles, historicamente, teve muita gente que ajudou a construir as bases dessa cena”, explica. “O Gustavão do Missionários, que depois no Catalépticos passou a se chamar Gus, sempre foi um cara cheio de planos legais que deram muito certo. O Darwin Dias, que além de ser o cara que conhecia as outras bandas fez um documentário que registrou perfeitamente o Psycho brasileiro, e o Bufunfa que criou uma gravadora e trouxe shows”, complementa.

Breno não se furta a citar várias figuras que ajudaram a construir o cenário psycho de que Curitiba desfruta, atualmente. “Músicos como o David, o Andre Manolo (Krappulas), o Ricardinho (Playmobillies), o Marcio Tadeu (Os Cervejas), o Maurício Lemanski (Missionários) e o Tin Tin (Estúpido Estupro e Missionários), Osmar Cavera (Krappulas e Hillbilly Rawride), o Germano (Estúpido Estupro/Cervejas/Krappulas), além é claro do Mutant Cox, que é um músico genial”, diz. “Alguns loucos também ajudaram a mostrar o que é Psycho, como o Ademir do Ovos Presley, o Eduardo do Missionários e o Erick dos Cervejas, entre outros. Acho que esse conjunto de coisas transformou a nossa cena no que é hoje. Seguramente, o elemento chave para tudo isso é o fato de que nós gostamos muito de Psychobilly e somos amigos”, complementa.

O show do Krappulas será na última noite do Psycho Carnival, na segunda-feira (16/2), antes dos americanos do Barnyard Ballers, que fecharão o festival. O setlist está sendo preparado especificamente para essa nova formação da banda. “Como o Cris está na banda há menos de um ano, optamos por fazer a base do nosso repertório desse ano. O grupo está muito rápido, com o Cris e com o baixo elétrico. Aliás, essa talvez seja a maior surpresa. Ainda não sabemos se vamos de baixo elétrico ou acústico, mas seja o que for vai ser porrada! Estamos preparando algumas músicas mais antigas do segundo disco e um cover surpreendente. Esperem”, revela.

Para os que já conhecem a banda, será uma celebração dos mais de 20 anos de carreira do grupo. Para os neófitos, é uma excelente oportunidade para conhecer um dos pilares do Psychobilly curitibano. “Nós faremos um show sangrento! Pancadaria do início ao fim! Que a psycharada esteja preparada e guarde energias para quebrar os ossos no wreck! Vai ser pedrada na cara, meu irmão”, finaliza Breno. Confira o som do Krappulas.