Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto e capa do disco: Reprodução/Site Nenhum de Nós

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Formado em 1986 na cidade de Porto Alegre, o Nenhum de Nós está completando três décadas de Rock/Pop. Desde o início o grupo se destacou por unir letras inteligentes e melodias simples, mas bem construídas.

Hoje, Thedy Corrêa (baixo e vocal), Veco Marques e Carlos Stein (guitarras), Sady Homrich (bateria) e João Vicenti (acordeon e teclados), continuam sendo uma das bandas mais produtivas do país, mesmo com todas as drásticas mudanças que o mercado fonográfico sofreu nesse período.

No ano passado o grupo lançou “Sempre é Hoje”, seu 17º álbum. E já na primeira canção do CD, “Milagre”, eles parecem mostrar uma realidade que “amaldiçoou” boa parte dos artistas da geração 1980 nos anos que vieram em seguida. “Pena que perdemos tempo sem saber. Pena que perdemos tempo a escutar. Música sem emoção. Música sem sentimento”, diz a letra. Dessa geração de ouro do Rock nacional, poucos envelheceram mantendo a sua obra em evolução. O Nenhum de Nós conseguiu essa proeza.

A banda segue produzindo material novo, sem se debruçar nos grandes sucessos do passado. Essa parece ser a chama que os mantêm na ativa até hoje. “Gostamos de nossos sucessos. São músicas que contam nossa história. Mas o que nos move, de verdade, é criar. Isso, sem dúvida, nos ajuda a continuar na jornada”, diz o guitarrista Carlos Stein.

Dizer algo aos fãs

Outra característica que se mantém é a preocupação do Nenhum de Nós com suas letras. Isso se torna mais evidente porque hoje é raro encontrar uma banda no cenário nacional que se preocupe com o que está falando aos seus fãs.

Já na década de 1980, era comum os artistas darem a mesma importância ao texto e à música. “Acho que a maioria dos artistas daquela época vinha do meio universitário. Acho que tínhamos muita vontade de falar (risos), algo represado do tempo da ditadura. Talvez nossa referência fosse a MPB, que investia bastante nas letras. Isso acabou sendo uma marca das bandas dos anos 1980. É verdade que ainda hoje, na maioria das vezes, partimos de uma história para construir nossas canções. Nos parece a melhor forma de ‘tentar’ tocar as pessoas”, diz o guitarrista.

No século 21, porém, nem tudo caminhou para trás. O mundo atual é muito mais preocupado com questões como o respeito aos direitos das mulheres, por exemplo.

Uma coincidência interessante é que, há trinta anos, o maior sucesso do Nenhum de Nós, “Camila, Camila”, já abordava esse tema. Dentro desse contexto, a música parece ter adquirido uma alma ainda mais forte nos shows. “Ela fala de nossa indignação em relação à passividade na questão da violência contra as mulheres. Algumas mulheres também parecem assumir essa passividade. Parecem acreditar numa espécie de destino. ‘Camila’ evoca um grito de libertação. Infelizmente é algo que parece que sempre vai existir. A natureza humana é brutal”, explica.

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O novo trabalho

Inicialmente, o CD “Sempre é Hoje” seria um EP com cinco músicas, mas acabou virando um full length. Carlos conta que foi a produtividade da banda que os levou a essa mudança de planos. “Resolvemos nos isolar por dez dias em um estúdio em Caxias do Sul, no inverno. Achamos que só daria para gravar umas cinco canções nesse tempo, mas conseguimos chegar a dez sem forçar a barra. Melhor!”, diz.

A produção do álbum ficou a cargo do músico e produtor J.R. Tostoi, que atualmente toca com o cantor e compositor Lenine. “A grande tarefa de nossos produtores tem sido, além de arbitrar nossas diferenças, cuidar para que não exageremos em informação nos nossos arranjos. Além disso, buscamos pessoas com prática de linguagens diferentes da nossa, mas que também gostemos, é claro, e que acrescentem algo ao nosso estilo. Foi o caso do Tostoi que, para quem não sabe, é um dos parceiros criativos do Lenine. E um ótimo guitarrista”, explica.

Tempos modernos

Hoje o Pop está cada vez mais comercial. Foi-se o tempo em que a criatividade estava na linha de frente do estilo. Atualmente, existem inúmeras bandas e artistas no mercado musical, mas todos praticamente iguais.

Na visão de Carlos, esse é um fenômeno global. “Isso acontece em todo o mundo. Realmente não me incomoda. Eles têm, é certo, muito mais acesso aos meios de divulgação do que nós, mas as pessoas que gostam de nossa música geralmente nos encontram nos meios alternativos. Quem gosta de música a ponto de dedicar seu tempo a descobrir coisas novas já aprendeu que existem outros canais que não os convencionais”, diz.

Entre os sobreviventes da década de 1980, o Nenhum de Nós é um dos poucos que ainda mantém o foco na sua música. E durante os trinta anos de vida do grupo, Curitiba sempre fez parte dessa história. A capital paranaense foi a primeira cidade fora do Rio Grande do Sul em que o NDN se apresentou. “Acho que construímos uma sintonia muito boa. Curitiba se tornou, aos poucos, um de nossos lugares preferidos para tocar”, finaliza Carlos.