Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira

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O trio curitibano Os Catalépticos é uma das referências mundiais dentro do Psychobilly. O grupo, que retomou as atividades em 2017 após 12 anos de inatividade, continua sendo respeitado e também requisitado a participar dos principais festivais da cena psycho.

Vlad Urban (vocal e guitarra), Gustavão (baixo) e Mutant Cox (bateria e vocal) se apresentam na sexta-feira (1) no Jokers Pub, em Curitiba, fechando a noite de abertura da 20ª edição do Psycho Carnival. A programação ainda terá shows das bandas Agrotóxico, Tampa do Caixão, Kingargoolas, Mongo e Psycho Daime. “Participar do festival como banda, como atração, é uma satisfação imensa. Essa condição que vem desse público tão especial se reflete em uma energia única na hora do show. Algo acontece e é específico do Carnival. A troca dessa energia faz com que os shows sejam sempre muito especiais”, diz Gustavão.

A relevância dos Catalépticos para o mundo psychobilly ficou muito clara depois que a banda retomou as atividades, afinal, o grupo tocou três vezes nos Estados Unidos e uma no México, todas como headliner. “A ideia, quando voltamos, era fazer apenas um show aqui no Brasil, antecedendo o show na Califórnia, que foi de fato a razão da nossa volta. Já estávamos acostumados com o fim da banda. O Vlad e o Cox estavam levando seus trabalhos e eu estava fora da cena. Mas a receptividade nesses shows foi tão boa que sentimos que ainda poderíamos fazer um pouco mais. Então, deixamos as coisas rolarem sem nos preocuparmos muito com isso. Daí quebramos a regra de que a banda estava acabada e nos fizemos disponíveis para outros shows. Na sequência, engatamos mais dois shows além do primeiro nos EUA, todos em grandes eventos lá na Califórnia, onde temos excelentes amigos e é praticamente a nossa segunda casa”, explica.

Os shows nos Estados Unidos foram realizados para aproximadamente duas mil pessoas, o que é impressionante mesmo em um cenário musical tão organizado estruturalmente. “Isso é algo significativo para o underground. Depois, passamos a receber convites para tocar em lugares que nunca estivemos, como o México, por exemplo. Todos os shows foram muito bons e a energia da plateia me surpreendia sempre. Eu custava a entender que o pessoal ainda se lembrava da gente. Foi tudo muito gratificante e surpreendente, então, não havia razão para parar”, complementa.

O reconhecimento do maior festival de Psychobilly do mundo

No dia 3 de julho, os Catalépticos farão parte da homenagem ao Psycho Carnival organizada pelo festival Psychobilly Meeting, que acontece na cidade de Pineda de Mar, na Espanha. O evento foi batizado de “Pineda Psycho Carnival – Brazilian Psychobilly Night” e também reunirá as bandas curitibanas Sick Sick Sinners e Hillbilly Rawhide, além do The Mullet Monster Mafia, de Piracicaba.

O Psychobilly Meeting é simplesmente o maior evento do mundo dentro do estilo. “Estávamos em negociação para o Meeting desde o ano passado. Naquela ocasião não foi possível, e ficamos mais na América do Norte. O Meeting é a cereja do bolo do Psychobilly, é o evento mais esperado porque reúne tudo que se pode aproveitar dentro de uma cena: ambiente perfeito (no verão espanhol), gente de todo o mundo com o mesmo objetivo (curtir as bandas e aproveitar a festa), boa comida e bebida, além de muito merchandising em volta de um mesmo interesse”, explica.

Essa será a segunda vez que a banda curitibana participará do festival espanhol (a primeira foi no ano 2000). “Nós tocamos na versão antiga, que acontecia em uma praia chamada Calella, que fica próxima do local onde hoje ele acontece. Recordo pouco dessa ocasião porque foi o fim de uma tour europeia e aproveitei para descontar a sede toda lá. Por isso, eu tinha muita vontade de voltar e ver direito como as coisas rolavam”, complementa.

Mesmo com tantos anos de cena e tocando nos principais eventos do mundo, Gustavão visivelmente ficou muito feliz com o convite dos espanhóis. “A homenagem foi uma surpresa à parte. Nossa negociação envolvia a previsão de uma noite brasileira. Isso é relativamente normal de ocorrer no festival, que inicia sempre com uma noite temática de um país. Mas ninguém havia nos contado que era uma homenagem aos 20 anos do Psycho Carnival. Particularmente, eu achei muito merecido, principalmente diante do trabalho do Vlad, que ficou muito feliz e surpreso com a homenagem”, revela.

Esse tipo de atitude que valoriza a história do trio curitibano mostra claramente que a volta dos Catalépticos aconteceu no momento certo. “O reconhecimento europeu para o que se faz aqui no Brasil, para mim, ainda é muito gratificante. O começo por lá foi muito difícil. Só nós três sabemos o que passamos para poder chegar nesse momento que, aliás, também é especial por uma característica muito significativa: essa noite de abertura com bandas de um país ocorre normalmente em um local distinto do palco principal do festival, mas nessa noite não. Abriremos e faremos a noite brasileira no palco principal. Vai ser inesquecível!”, afirma.

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Músicas inéditas

Obviamente, desde a volta da banda, o público vive a expectativa de que o grupo lance um novo trabalho. O último álbum lançado pelos Catalépticos é “Morto Ao Vivo – Ao Vivo Na Garagem Que Grava” (2005), mas Gustavão revela que um novo CD já está nos planos. “Está demorando um pouco mais do que deveria, mas vai sim. Sinto que o tempo nos deixou bastante exigentes quanto ao trabalho de composição. O interesse em nossa volta revelou uma responsabilidade muito grande. Não vamos fazer qualquer coisa só por fazer, mesmo que isso demore um pouco mais.  O que posso dizer agora é que estamos trabalhando com muita dedicação em novas músicas”, diz.

Psychobilly Maldito

O som dos Catalépticos é o que se convencionou chamar de “Psychobilly Maldito”. Na prática, as músicas da banda chegam muito perto do Heavy Metal, com riffs e solos rápidos executados com muito peso, porém, sem perder a alma do Psychobilly.

Quem chegava mais perto de algo tão pesado eram os alemães do Chibuku, os finlandeses do Mental Hospital, os franceses do Banane Metalik e os japoneses do Mad Mongols. Porém, os Catalépticos foram além, injetando mais peso e ferocidade no Psychobilly.

A concepção do estilo, que era praticamente inédito no cenário da época, foi desenvolvida pelos curitibanos de maneira natural. “Fizemos o que sabíamos. Na época, imagino que em decorrência das vantagens de ser jovem e rebelde, não nos prendemos às convenções do estilo. Pegamos o que nos interessava (formação com três músicos, guitarra semiacústica, baixo de pau e bateria tocada em pé), nos juntamos e começamos a compor. Viemos do underground, do Punk, e a concepção da música rápida estava impregnada em cada um de nós. Preferimos a originalidade a adotar uma postura simples de limitar nossa criação a um procedimento preestabelecido de bases já existentes”, explica.

Essa mistura de estilos que têm a agressividade como elo de ligação se mostrou perfeita. “Apostamos no resultado, e a aposta era mais ou menos assim: tínhamos alguns anos de experiência anterior com outras bandas (Psycho, Punk, etc.) e conhecíamos bem a base de tudo. O Punk, o Rockabilly, o Metal e outras influências corriam forte no nosso sangue. Ouvíamos tudo isso sem distinção. Assim, decidimos ver no que tudo isso daria compondo descompromissadamente, buscando apenas uma sonoridade forte e, dessa forma, chegamos a um resultado original. Hoje, eu consigo perceber isso com muita clareza”, afirma.

Histórias

Fazer parte do lineup da edição especial que comemora os 20 anos do Psycho Carnival será uma ocasião muito especial para todas as 24 bandas que participarão do evento. Para os Catalépticos, essa sensação é ainda mais forte porque a história do grupo se confunde com o Psycho Carnival. “Estivemos nessa jornada desde o início. Partimos de um festival acanhado em bares pequenos do underground local para algo maior, com estrutura e organização impecável que se iguala e até supera muitos festivais semelhantes ao redor do mundo”, diz Gustavão.

Duas décadas depois, o festival curitibano apresenta uma característica muito forte de agregar pessoas de várias faixas etárias e cenas diferentes, além da psychobilly. “Estive ausente da cena por algum tempo e de fora pude perceber que o festival cresceu da mesma forma que as pessoas dentro desse modo de vida que elegeram para viver. Há vinte anos, o jovem punk, ao chegar perto dos 25/30 anos, ‘crescia’ e largava o rolê para levar a vida adulta. Hoje, isso acontece com menos frequência. A ‘vida adulta’ segue dentro do estilo que você escolheu. Disso derivou um cenário interessante com muitas gerações convivendo em torno da mesma opção”, analisa. “O Psycho Carnival é o evento onde se pode ver e sentir isso mais profundamente. É uma temática alternativa verdadeira e sincera, que reúne pessoas com 20 ou 30 anos de cena e outros novos,que estão descobrindo um universo ainda muito interessante para se aprofundar”, complementa.

A lembrança mais marcante que Gustavão guarda até hoje aconteceu na edição de 2006, quando os Catalépticos anunciaram que estavam encerrando as atividades. “Embora o clima fosse de aparente tristeza, a energia do festival fez com que tocássemos como nunca tínhamos tocado antes. A reação foi ininterrupta e aquele foi, sem dúvida, o show mais forte e inesquecível que fizemos em toda nossa carreira. Nosso último show, em um Carnival”, finaliza Gustavão.

Serviço

A 20ª edição do Psycho Carnival acontece de 1º a 4 de março no Jokers Pub, que fica na Rua São Francisco, 164, no Centro.

Os ingressos já estão à venda, e os valores são: Pacote 4 noites – R$ 200. Pacote 3 noites – R$ 170. Ingresso Individual (para cada noite) – R$ 60. Os preços são promocionais, mas é preciso doar 1kg de alimento na portaria do Jokers nos dias dos shows.

Os bilhetes podem ser comprados no site Sympla. Os pontos físicos de venda são o Jokers Pub (Rua São Francisco, 164, Centro – Segundas, das 11h às 16h, e de terça a sábado, das 11h às 24h), a Cervejaria e Bar Maniacs (Av. Munhoz da Rocha, 1049, Cabral – De terça a sexta, das 15h às 23h; sábados, das 11h às 23h; e domingos, das 11h às 20h) e no Lado B Bar (Rua Inácio Lustosa, 517, São Francisco – De quinta a domingo, das 20h30 às 24h).

Também é possível adquirir as entradas por meio de depósito em conta (a retirada dessa modalidade de ingressos será feita no local das apresentações nos dias e horários do evento).

Para efetuar a compra por meio de depósito bancário, o público deve utilizar a seguinte conta:

Banco do Brasil

Titular: Juliana Ribeiro

Agência: 0056-6

Conta Poupança: 83970-1

Operação: 51

CPF: 224.119.648 – 70

Formas de pagamento

Os ingressos podem ser comprados por meio de depósito em dinheiro em envelope nos caixas eletrônicos, depósito direto no caixa ou transferência entre contas do Banco do Brasil.

Após a compra, é preciso enviar as seguintes informações para o e-mail zombiesunion@gmail.com: nome completo, data e hora do depósito, valor do depósito e nome completo dos acompanhantes especificando o tipo e o dia do ingresso. Além disso, o comprador também deve informar o tipo do depósito e os dados do comprovante.

Os e-mails de confirmação serão enviados em até sete dias após o recebimento.