Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira

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O festival curitibano Psycho Carnival e a banda Ovos Presley caminham juntos. Afinal, o evento está chegando à 21ª edição, e a banda curitibana já participou de 18 delas. O grupo só ficou fora em 2002, por motivos técnicos, e em 2014 porque o guitarrista Wallace Barreto quebrou a clavícula em um acidente de moto.

Em 2020, o Ovos Presley vai encerrar a primeira noite do evento na sexta-feira 21 de fevereiro no Jokers. A programação ainda contará com as bandas Fish’n Creepers, Mongo, Asteroides Trio, Kingargoolas e The Freeborn Brothers.

O Ovos Presley nasceu em 1993 e é formado atualmente por Ademir (vocal), Wallace Barreto (guitarra e vocal), Nei Rodrigues (baixo) e Fabio Banks (bateria). Nesses 27 anos de estrada, o grupo se tornou uma das maiores referências do Psychobilly brasileiro.

Mesmo antes de montarem a banda, os integrantes do Ovos Presley já faziam parte da cena underground curitibana e ajudavam a construir os alicerces que fizeram com que, hoje, Curitiba seja considerada a capital do Psychobilly no Brasil. “Tudo teve início com a piazada punk que estava ligada na cena lá de fora. Aí começou a chegar algum material por aqui, tipo fitas, discos e vídeos mostrando o que tinha de melhor do Psychobilly. Um exemplo disso eram os VHS do lendário festival Klub Foot, em Londres, que tinham a maioria das bandas que influenciou a galera, inclusive o Guana Batz, que neste ano fecha o festival”, explica Nei Rodrigues.

No Brasil, também já começavam a surgir algumas bandas que se tornariam ícones do Psychobilly no país. “Já existia o Kães Vadius, em São Paulo, que influenciou muito a galera aqui do sul. Em Curitiba, aos poucos, começaram a surgir grupos como o Missionários, o Cervejas, o Drakulas Krappulas (que depois virou o Krappulas) e o Ovos Presley, no começo dos anos 1990. Daí em diante, a coisa só cresceu”, complementa.

Com o fortalecimento dessa cena, ficou claro que era necessário criar um festival para que esses grupos pudessem se apresentar. “Assim surgiu o Psychobilly Fest, que contava com bandas de Curitiba, de São Paulo (Kães, Krents, etc) e do interior do Paraná, como o Maniac Rockers. Na sequência veio o ‘Psychorrendo’, a primeira coletânea de Psychobilly em CD e que se tornou um clássico entre os psychobillies. Nos anos 2000, surgiu o Psycho Carnival que desde o começo já trazia bandas gringas. Na época, todos sonhavam em ver esses artistas tocando por aqui, e assim acontece até hoje. O Psycho Carnival se tornou o maior festival da América do gênero e, assim, colocou Curitiba no mapa do Psychobilly mundial”, afirma.

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Poesia e Psychobilly

Um dos maiores clássicos do Ovos Presley é a música “Tristes homens azuis”, que na verdade é um texto do poeta curitibano Marcos Prado que foi musicado pela banda. “O Ademir adaptou essa poesia dele, pois sempre quis fazer uma homenagem ao Marcos Prado, por ser um escritor daqui de Curitiba. A letra tinha tudo a ver com o Ovos”, diz Nei.

As letras, aliás, são uma das características que mais chamam a atenção no som do Ovos, pois a grande maioria delas aborda a cidade de Curitiba, com suas lendas e particularidades. “Sempre tentamos retratar o dia dia, os perrengues, alguns costumes locais ou não (risos). Tudo isso com uma pitada de horror e bom humor”, explica.

“Tristes homens azuis” certamente fará parte do repertório do show do dia 21, no qual a banda espera que não surja nenhum “imprevisto” como o que aconteceu na edição de 2019. Aliás, essa situação inusitada entrou para o hall de fatos marcantes da história do Psycho Carnival.

Tudo aconteceu porque a esposa de Wallace (a baixista da banda curitibana Cigarras, Rubia Barreto) estava grávida. Até aí, tudo bem, só que pouco antes do show do Ovos, a banda foi pega de surpresa com a notícia de que o menino “decidiu” vir ao mundo justamente no horário no qual o grupo estaria no palco.

Obviamente, Wallace foi correndo ao hospital para acompanhar o nascimento do filho, e coube à banda a responsabilidade de encontrar um guitarrista para fazer o show, ali mesmo no Jokers.

O salvador da pátria acabou sendo o multi-instrumentista Mutant Cox (Coxinha), que faz parte dos trios Os Catalépticos e Sick Sick Sinners, além do Hillbilly Rawhide. “Sempre é bom estar com o quarteto completo, mas também curtimos tocar com os amigos. O Coxinha salvou o nosso show! Como sempre, ele topa qualquer parada sem ensaio, sem nada, simples assim! O cara é tipo um coringa da música curitibana, pois toca qualquer instrumento com qualquer banda (risos)”, conta.

No dia 21, o público que for ao Jokers poderá ouvir vários clássicos do underground curitibano, como “Cadillac podreira”, “Vai tomar no cu” e “PQP”.  Todas fazem parte dos dois álbuns lançados pelo grupo até hoje: “A Date With Ovos” (2004)  e “PsychoPunk‘a’BillyBoogie” (2014).

Um novo trabalho já está nos planos da banda, mas ainda sem data para ser concretizado, pois a gravação tem que se adequar ao “estilo Ovos” de ser. “Temos algumas músicas novas, só precisamos começar a ensaiá-las (risos). Pretendemos gravar o nosso novo disco ainda neste ano, mas você sabe como somos né? Não agendamos nada, vamos no embalo (risos)”, finaliza Nei Rodrigues.

Serviço

Cinco dias para celebrar a música, a amizade e a diversão. Esse é o espírito da 21ª edição do tradicional festival curitibano Psycho Carnival, que será realizado entre os dias 20 (quinta-feira) e 24 de fevereiro (segunda-feira) no Jokers Pub, em Curitiba. “Boa parte do público que vem todo ano ao festival acabou construindo amizades que permanecem até hoje”, diz um dos organizadores do Psycho Carnival, o músico e produtor cultural Vlad Urban.

Em 2020, o evento reunirá 37 bandas de oito países. A ideia é apresentar um grande panorama do que há de melhor no mundo do Psychobilly, Rockabilly, Punk Rock, Outlaw Country e Surf Music. Entre as atrações deste ano estão o Guana Batz (Inglaterra), o Cenobites (Holanda), e os grupo curitibanos Ovos Presley, Os Catalépticos e Hillbilly Rawhide.

Assim como nos últimos quatro anos, o festival terá como base principal o Jokers Pub, localizado na região central de Curitiba. Porém, nesta edição, também serão realizados alguns shows gratuitos no Lado B Bar, nas Ruínas de São Francisco, no Largo da Ordem (com o apoio da Rádio Mundo Livre FM) e na Gibiteca de Curitiba. “Os eventos gratuitos são muito importantes! Independentemente do apoio ou não do poder público, nós acreditamos que todos devem ter acesso à cultura”, afirma Vlad Urban.

Os ingressos custam de R$ 50 a R$ 250 e podem ser adquiridos no site Sympla. Confira todas as informações sobre a 21ª edição do Psycho Carnival neste link.

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