Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira/Cwb Live

Cantora carioca esbanjou simpatia e mostrou os grandes sucessos de seus mais de 30 anos de trajetória artística



Entre as bandas brasileiras dos anos 1980, o Kid Abelha foi uma das que mais chegou perto do melhor formato Pop possível naquele momento. Unindo boas músicas com melodias e letras que grudavam na cabeça dos ouvintes com uma produção moderna, o grupo se tornou um dos grandes fenômenos populares do Rock/Pop nacional. Após o fim do Kid, no início de 2016, a cantora Paula Toller deu continuidade a esse legado Pop de forma natural e muito competente.

Nessa sexta-feira (21), Paula Toller se apresentou no Teatro Guaíra, em Curitiba, e mostrou boa parte da extensa lista de sucessos que ela construiu em sua carreira solo e ao lado do Kid Abelha nos mais de 30 anos de história do grupo. A abertura do show foi da cantora, pianista e compositora carioca Tais Alvarenga.

Paula abriu o show com “Fixação”, um dos maiores clássicos do Kid Abelha, seguida por “Calma aí” e “Educação sentimental II”. Entre as 25 músicas que fizeram parte do repertório do show, Paula apresentou a maioria dos grandes sucessos do seu período no Kid Abelha, como “Lágrimas e chuva” e “Nada por mim”. Além dos clássicos de seu ex-grupo, a cantora também mostrou canções de sua carreira solo, entre elas “A noite sonhei com você” e “Meu amor se mudou pra lua”, ambas do álbum “Só Nós” (2005).

O setlist também foi composto por algumas versões, como “Céu azul” do Charlie Brown Jr. (atual música de trabalho da cantora) e “Deixa a vibe te levar”, do original “Don’t you worry ’bout a thing”, de Stevie Wonder.

Paula foi acompanhada por Liminha (violão), Gustavo Camardella (violão e vocal), Pedro Augusto (teclados), Pedro Dias (baixo) e Adal Fonseca (bateria). Com essa formação, o formato das músicas apresentadas no show foi mais acústico, valorizando os violões e o vocal.



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Um monstro sagrado do rock brasileiro

Posicionado do lado direito do palco, tocando violão de forma discreta, uma figura chamou a atenção de quem acompanha a história do Rock brasileiro. Afinal, além de ter sido o baixista dos Mutantes, Liminha simplesmente produziu ou tocou em boa parte dos álbuns mais relevantes que foram lançados na música brasileira nos últimos 40 anos.

Após o fim da banda, Liminha produziu álbuns essenciais. Entre eles, estão “Extra” (1983) de Gilberto Gil, “Tudo Azul” (1984) de Lulu Santos, “Selvagem?” (1986) dos Paralamas do Sucesso, “Cabeça Dinossauro” (1986) dos Titãs, “Vivendo e Não Aprendendo” (1986) do Ira!, “Da Lama ao Caos” (1994) do Chico Science & Nação Zumbi e “Rappa Mundi” (1996) do Rappa.

Paula Toller 2



Carisma e proximidade com o público

Na sequência da apresentação, Paula lembrou que o show que deu início à turnê “Como eu Quero”, em outubro de 2017, foi em Curitiba e que o calor do público, naquela apresentação, deu ânimo e confiança para que a banda continuasse a tour.

Antes de ”A fórmula do amor”, Paula explicou que a música foi gravada originalmente no álbum “Sessão da Tarde” (1985), do cantor Leo Jaime, com a participação do Kid Abelha. A canção, que é uma composição de Leoni e Leo, tornou-se um enorme sucesso, mas o grupo não costumava apresentá-la nos shows. Tempos depois, a banda resolveu gravar a sua própria versão que também estourou nas rádios de todo o Brasil.

Aos 56 anos, Paula mantém o charme e o carisma que sempre caracterizaram a sua trajetória artística. Dessa forma, ela é uma daquelas artistas que o público parece ter uma relação mais próxima e isso fica bem claro com as demonstrações de carinho dos fãs durante toda a apresentação.

Um dos momentos mais emocionantes do show foi a balada “Como eu quero”, quando, ao apresentar a canção, Paula pediu para que o público acendesse as luzes dos celulares porque “a música merecia”. O que se viu foi um belo espetáculo, com a plateia cantando a canção do início ao fim.

Depois de “Te amo pra sempre”, a banda se retirou rapidamente do palco para voltar e encerrar o show com uma sequência de quatro sucessos: “Gran’d hotel”, “Os outros”, “Por que não eu?” e “Pintura íntima”.

Confira a música “Como eu quero”, gravada ao vivo no show de Paula Toller no Teatro Guaíra e veja, também, o nosso álbum de fotos da apresentação.

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Paula Toller - Teatro Guaíra - 21/09/2018






Tais Alvarenga

A abertura do show foi da cantora, compositora e pianista carioca Tais Alvarenga, que ficou impressionada com o carinho que recebeu do público. “Nossa, como os curitibanos são educados e interessados em arte! Eu fiquei impressionada com o silêncio da plateia para um show de abertura, que geralmente não é uma apresentação que as pessoas assistem com tanto afinco. Parece-me que os curitibanos têm muito respeito pela arte. É difícil encontrar essa qualidade no Brasil. Eu me senti acolhida e já quero voltar. Eu já tinha ido a Curitiba com uma peça de teatro do Oswaldo Montenegro, há muitos anos, mas trazendo meu trabalho autoral, foi a primeira vez. Foi maravilhoso!”, diz Tais.

Tais abriu o show com “Teu lugar”. Além de faixas do seu álbum de estreia, “Coração Só”, lançado em março deste ano, como “Sai de casa” e a faixa-título, Tais também tocou algumas versões, entre elas, “Yellow”, do Coldplay.

Na maioria dessas canções, a cantora mostrou uma característica muito própria de intercalar as letras com várias vocalizações usando notas bem altas. “Acho que esse disco passeia por dois polos: o divino do amor e a fúria e os abismos existenciais. Vocalmente e na dinâmica dos arranjos, existem metáforas construídas de propósito. A vivência do amor ainda é uma montanha-russa de sentimentos e altos e baixos. Essas vocalizações altas representam a beleza, o voo, a entrega, independentemente da queda alguns segundos depois. A poesia sempre será uma das minhas maiores inspirações. Nas melodias e arranjos, acabo colocando poesias invisíveis”, explica.

Nas letras das músicas, Tais aborda bastante o seu lado pessoal. No show, inclusive, ficou nítido que a cantora sente as músicas, ou seja, incorpora o que está sendo cantado. “Este disco defende a profundidade dos sentimentos verdadeiros e o tempo que eles duram dentro de cada pessoa. A intensidade com que eles se dão, independentemente da relação. Sinto que, nesses tempos líquidos, não temos ‘permissão’ para sentir profundo. Fica confuso lidar com um sentimento tão forte e divino quanto o amor. Acabamos escolhendo o caminho mais raso, menos nobre. Talvez, ao vivo, toda essa intensidade esteja ainda mais presente do que nas gravações”, diz.

Com essa abordagem, Tais procura mostrar ao mesmo tempo o amor e a dor que invariavelmente estão presentes em qualquer relação humana. “Uma vez, na fila de uma peça de teatro, eu estava chorando e de certa forma sofrendo por amor. Então, um senhor me disse: ‘Não se sofre por amor. O amor é um jardim que se anda sem pisar nas flores’. Desde então, eu tenho pensado sobre essa frase e tudo o que fazemos com o amor”, conta.

Na realidade atual do país, a cantora acredita que falar de amor se tornou ainda mais importante. “A arte aborda esse assunto desde a sua existência, mas acho que estamos em um tempo de muita clareza, e esse assunto é dos mais importantes. Vemos o amor de forma distorcida, relacionamos ele ou o seu ‘fim’ com as dores e sentimentos que estão presentes nas relações, mas o amor sempre será maior do que tudo isso. Este disco quase se chamou ‘De Onde Eu Vim o Amor Não Acaba’. Acredito que amar alguém seja um presente, não um sofrimento. É querer bem que não sai do peito nem com bebedeira, talvez nem com o passar do tempo. É maior do que nós. Ele existe em nós para ensinar sobre nobreza. Não sei por que trocamos isso tudo por orgulho, covardia ou raiva. Estou escrevendo isso, mas nesse exato momento existem milhões de sentimentos confusos sobre o meu último amor. E apesar de toda confusão, estou tentando não pisar nas flores, mesmo depois do fim. Estamos todos aprendendo a cuidar dos amores que continuarão no peito, mas não na rotina dos dias”, complementa.

Confira a música “Teu lugar”, gravada ao vivo no show de Tais Alvarenga no Teatro Guaíra.



A parceria com um dos ícones do movimento Manguebeat

“Coração Só” foi produzido pelo ex-baterista da Nação Zumbi, Pupillo, que teve uma importância na construção do álbum que foi além da simples produção. “O Pupillo é a força e o pulso deste CD. Eu já havia gravado algumas demos e testes deste disco com outros produtores, mas foi só com o Pupillo que os arranjos tiveram a força e a intensidade que esse disco precisava. Ele foi um dos primeiros produtores que eu conheci no Brasil que estava pensando na música em si e não no mercado, nas mídias ou onde esse trabalho chegaria. É uma honra para o Brasil ter um produtor como ele, e uma honra maior ainda ter a força dele no meu primeiro disco”, elogia.

O contato de Tais com Pupillo foi uma ideia do Paulo Junqueiro, presidente da Sony. O que chama a atenção é que o baterista vem de uma concepção sonora com a Nação Zumbi que era completamente diferente das composições da cantora carioca.

Porém, a conexão entre os dois foi instantânea. “Acho que, como músico, o Pupillo tem seu estilo definido. Inclusive, ele gravou as baterias desse disco, e elas têm a cara dele. Mas como produtor, ele se aprofundou muito no meu universo musical, independentemente do que ele goste. Ele tentou colocar a visão dele neste disco respeitando muito a atmosfera que já existia. Foram meses muito intensos de gravação e nós dois temos personalidades muito fortes, então estávamos ali brigando pelo que acreditávamos, apesar das diferenças. Foi um alívio estar com alguém tão autêntico e genuíno”, finaliza Tais Alvarenga.

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