Texto: Marcos Anubis
Tradução e revisão: Pri Oliveira
Foto: Tim Tronckoe

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Tarja Turunen, talento e perseverança 

Sua saída do Nightwish faz parte do passado? “Para mim, sim!” A afirmação da cantora finlandesa Tarja Turunen é categórica e não deixa margem a dúvidas. Apesar de ter sido protagonista em uma das mais importantes bandas da história do Gothic Metal e sair dela de uma forma conturbada, Tarja soube se reerguer e usar seu talento para dar continuidade a sua carreira.

No próximo dia 25 de outubro Tarja se apresenta no Vanilla Music Hall, em Curitiba. Será a segunda vez que a cantora desembarcará na capital paranaense.

 

Ecos do passado e olhar no futuro

 

Há 10 anos, em 2005, Tarja estava com o Nightwish na Hartwall Arena, em Helsinque, capital da Finlândia, para um show que seria registrado no CD/DVD “End Of An Era”. Após a apresentação, o tecladista Tuomas Holopainen entregou uma carta à cantora informando que ela estava fora da banda. Para a vocalista, que fundou o Nightwish ao lado de Tuomas, o choque foi inevitável.

A forma pouco amistosa com que seus ex-companheiros encerraram a sua participação no Nightwish podia facilmente acabar com a carreira de Tarja. Quantos artistas viraram alvo fácil das drogas e do álcool após decepções como essa?

Mas, em vez de se entregar à tristeza, Tarja trabalhou para reconstruir a sua carreira. Após sua saída da banda, a cantora passou um período sabático em Buenos Aires ao lado de seu marido, o empresário argentino Marcelo Cabuli, mas rapidamente decidiu retornar aos estúdios e palcos.

 

A vida pós-Nightwish

 

Após a sua saída do Nightwish, Tarja começou a construir sua carreira solo. “É evidente que eu estava muito nervosa no início da minha carreira solo, pois eu tive que começar tudo do zero. Não foi um começo fácil, mas foi muito importante porque realmente me fez aprender uma quantidade enorme de coisas novas sobre os negócios no mundo da música e também sobre a música em si”, relembra.

Seu primeiro registro pós-Nightwish foi o single “Yhden Enkelin Unelma” (2004) que ganhou Disco de Platina na Finlândia. Na sequência veio o álbum natalino “Henkäys Ikuisuudesta” (2006) que também alcançou o Disco de Platina.

Com seu novo caminho profissional inicialmente pavimentado, Tarja estava preparada para o seu primeiro álbum solo. “My Winter Storm” foi lançado em 2007 e mostrou que as cicatrizes que marcaram sua saída do Nigtwish tinham sido curadas. “What Lies Beneath” veio em 2010 e o mais recente, “Colours in the Dark”, em 2013.

Recomeçar a sua carreira e obter o mesmo sucesso que tinha com a banda mostrou que seu talento não dependia unicamente do grupo. Talvez a parte mais difícil tenha sido a luta contra si mesma para encontrar um motivo que fosse forte o suficiente para fazê-la seguir em frente. “Eu também precisava encontrar o que estava no meu coração, e isso às vezes não era fácil. Eu lutei arduamente pelos meus sonhos e deixei isso claro para os meus parceiros, de modo que hoje eles podem ver o meu desenvolvimento como artista e respeitam as minhas escolhas”, revela.

O combate valeu a pena, pois Tarja se manteve entre as melhores e mais técnicas vocalistas de seu estilo. “Eu me sinto grata por ter o meu nome reconhecido internacionalmente como cantora após a carreira com a banda, então eu não preciso fazer um grande esforço para encontrar pessoas interessadas em trabalhar comigo”, complementa.

A cantora finlandesa acaba de lançar o CD “Ave Maria – En Plein Air”, onde interpreta 12 canções baseadas na oração Ave Maria. Apesar da origem religiosa das músicas, Tarja afirma que a sua intenção ao gravá-las era registrar a sua versão para cada uma delas. “Eu sou uma pessoa mais espiritual do que religiosa. Então, quando eu gravei as músicas para esse álbum, eu queria fazer um grande trabalho vocal e respeitar os estilos dos compositores em suas canções. Meu foco estava completamente voltado para a minha performance”, explica.

Tarja está finalizando a turnê do álbum “Colours in the Dark” (2013) e, de forma exclusiva, ela revelou ao Cwb Live que já está trabalhando em seu novo CD. “O álbum está sendo mixado agora pelo Tim Palmer, e você pode aguardar a data de lançamento em meados do Outono de 2016.

A “Colours in the Road Tour” termina no dia 14 de novembro com um show no Estadio Cubierto Malvinas Argentinas, em Buenos Aires, e deixará registrados números significativos. Até lá, ela terá passado por 32 países, totalizando mais de 100 shows.

Tarja realmente parece estar bem à vontade com esse momento de sua carreira. “Eu me sinto muito abençoada por ser capaz de fazer uma turnê ao redor do mundo. Meus shows têm sido surpreendentes e minha banda está soando melhor do que nunca, então eu realmente não posso reclamar. Eu me sinto satisfeita em poder restaurar belas lembranças das minhas visitas a diferentes culturas através de imagens, por exemplo. Caso contrário, eu não seria capaz de me lembrar muito sobre onde eu estive, porque às vezes a vida fica um pouco caótica”, afirma.

A recepção do público ao seu trabalho também deixa a cantora tranquila em relação ao rumo de sua carreira. “Meus fãs têm recebido o meu último álbum muito bem em todos os lugares, portanto, isso me diz que eu estou no caminho correto de alguma maneira”, fala.

 

Desbravando novos horizontes

 

Tarja Turunen foi uma das primeiras cantoras líricas a se destacar no Heavy Metal, um universo predominantemente masculino. O seu crescimento profissional desde o primeiro álbum do Nightwish, “Angels Fall First” (1996) realmente impressiona.

Foi durante esse processo, (onde Tarja encaixou e moldou o seu vocal à banda), que a base para a sua carreira solo foi sedimentada. “Eu nunca pensei em me tornar uma cantora de Rock, e sim uma cantora lírica. Por isso, todo o desenvolvimento até eu chegar em quem sou hoje e o tipo de carreira que eu tenho atualmente dependem apenas de mim”, explica.

Apesar de ter mergulhado no Heavy Metal e se tornado conhecida mundialmente dentro do estilo, Tarja nunca renegou a sua formação clássica. “Eu sempre tentei continuar progredindo como uma cantora lírica, mesmo durante a carreira com a banda. E continuo assim ainda hoje, porque eu percebi que se eu ficar cada vez melhor cantando música clássica, eu também posso ficar melhor cantando rock”, conta.

Vocalistas são, invariavelmente, os que mais sentem o passar dos anos e os reflexos da estrada. Vários grandes cantores, como David Coverdale, por exemplo, já não possuem a magnitude vocal que tinham em seu auge.

Por vir do universo da música lírica, Tarja demonstra claramente ter noção de que a sua voz sempre vai necessitar de cuidados. “Quanto mais flexível a minha voz consegue ser, mais divertido é o que eu posso obter com ela. Eu tenho certeza que você pode observar todo esse desenvolvimento da minha voz em meus álbuns, se você ouvi-los um após o outro”, afirma.

Sua formação clássica trouxe ensinamentos e lhe manteve de certa forma longe do Metal até a sua entrada no Nightwish. Por causa disso, Tarja não se espelhou necessariamente em nenhum vocalista, ela criou e formatou o seu próprio estilo de cantar. “Essa também é a razão pela qual eu não tive qualquer cantor de Metal ou artistas e cantores de Rock como ídolos quando eu era jovem, porque eu não fazia parte do Metal antes de entrar para a banda”, relembra.

A impressão é que, apesar de sua saída da banda ter sido uma experiência desagradável, Tarja tem consciência de que todos os momentos passados ao lado do Nightwish serviram de aprendizado para a sua carreira. “A experiência de ter sido front woman em uma banda de Metal me ajudou a descobrir coisas novas na música e em mim, pessoalmente. Eu tive que enfrentar situações que eu nunca precisaria ter enfrentado sendo uma cantora de Ópera, então sou muito grata por essas experiências. Elas me fizeram mais forte”, analisa.

 

O retorno a Curitiba

 

No dia 25 de outubro Tarja desembarca em Curitiba para um show no Vanilla Music Hall. Esta será a sua segunda passagem pela capital paranaense – a primeira foi em 2008. “A última vez em que estive em Curitiba foi há muito, muito tempo, e como essa visita aconteceu durante a divulgação do meu primeiro álbum solo, eu não tive a chance de escolher entre muitas canções, como as que eu tenho hoje em dia nos meus shows”, relembra.

Apesar do show ter acontecido há sete anos, Tarja ainda se lembra do carinho que recebeu em Curitiba. “De qualquer maneira, o show foi muito legal e eu ganhei muitos presentes lindos do público local. O setlist e a banda que está em turnê comigo agora serão um pouco diferentes daqueles da minha visita anterior ao Brasil no ano passado, e eu vou apresentar a vocês algumas músicas do meu próximo álbum! Eu estou muito animada para ver todos vocês em breve!”, complementa Tarja.

A abertura do show em Curitiba será feita pelas bandas DevilSin e Semblant.

 

Cultura e aprendizado ao redor do mundo

 

A visão que os fãs têm sobre a vida de seus artistas preferidos geralmente é cercada glamour e diversão. Mas nem sempre é assim. Turnês mundiais são extremamente cansativas e envolvem poucos dias de folga.

Em função dessa correria, absorver um pouco das culturas de cada país visitado nem sempre é uma tarefa fácil. “Muitas vezes as visitas às cidades em que eu me apresento são muito curtas, então geralmente não há tempo ou possibilidades de descobrir coisas novas, mas é parte da boa educação eu saber o suficiente sobre cada lugar em que eu faço algum show. Isso também me ajuda a entrar em contato com as pessoas de cada local e permite que elas me orientem”, diz.

Entre viagens, hotéis, aeroportos e shows, alguns lugares se tornam especiais e marcam as carreiras de certos artistas.

 

Brasil, uma segunda casa

 

Fora a Finlândia, certamente o Brasil é um dos países onde Tarja Turunen tem mais fãs. Além disso, a cantora estreitou a sua relação com a América do Sul devido ao seu casamento com o empresário argentino Marcelo Cabuli. “Como sempre, eu adoro visitar o Brasil. Desta vez eu estou realmente feliz por ter a chance de ver muito mais do seu país do que eu consigo ver normalmente nas minhas visitas, porque dessa vez há muitos shows nessa turnê no Brasil”, diz.

A “Colours in the Road Tour” passará por sete cidades brasileiras no mês de outubro: Recife (17), Fortaleza (18), Belo Horizonte (21), Salvador (23), São Paulo (24), Curitiba (25) e Porto Alegre (28). Não é à toa que o Brasil é um dos países onde os artistas do Heavy Metal mais gostam de se apresentar por causa do carinho com que são recebidos por aqui e da paixão que os brasileiros nutrem pelo Metal. “Eu quero agradecer por esta oportunidade tão rara! Eu tenho fã-clubes importantes no Brasil e as pessoas daí sempre me receberam muito calorosamente. Eu tenho certeza de que vivenciaremos grandes momentos durante os shows, teremos muita diversão e que compartilharemos momentos emocionantes, como já é de costume nos meus shows no Brasil”, afirma.

O show de Tarja Turunen em Curitiba acontecerá no dia 25 de outubro no Vanilla Music Hall. Será mais uma oportunidade que o público curitibano terá para assistir a uma das melhores cantoras da atualidade.