Texto e foto: Marcos Anubis




“O panorama musical atual é pífio e deprimente”. As palavras do guitarrista Tony Bellotto, em uma entrevista exclusiva para o Cwb Live, resumem o que é a música brasileira nos últimos anos. Felizmente ainda existem alguns grupos que conseguem se manter criativos. O show do Titãs no Teatro Positivo na última sexta-feira (14) mostrou que banda não só está em forma, executando com qualidade suas antigas canções, mas que suas veias contestadoras ainda pulsam com vigor.

A apresentação começou com “Fardado”, do recém-lançado “Nheengatu”. O disco une duas características que sempre marcaram a obra dos Titãs: peso e letras incisivas. “Nheengatu é uma sequência ao nosso trabalho e, portanto, acrescenta novidades à nossa sonoridade e poética, pois é preciso mudar para continuar igual, se é que você me entende”, diz Tony.

Nas primeiras canções da apresentação, o quarteto remanescente dos Titãs, composto por Branco Mello (baixo e voz), Sergio Britto (voz e teclado), Tony Bellotto (guitarra) e Paulo Miklos (guitarra e voz), usou máscaras como em uma grande encenação de teatro. “São máscaras como as que eram usadas no Teatro de Dionísio, em Atenas, na Grécia antiga. Old school”, explica Tony.

Obviamente que o título do álbum chama a atenção. Os nomes dos discos do Titãs, aliás, sempre foram contundentes e carregaram algum significado, caso de “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas” (1987). “Em tupi guarani ‘Nheengatu’ significa ‘língua geral’, uma compilação de diferentes dialetos indígenas reunidos por jesuítas no século XVII para que portugueses e índios pudessem se entender na nação que se criava”, conta Tony. “O contexto em que quisemos inseri-lo é a realidade atual e a dificuldade dos brasileiros em se entender e organizar”, complementa.

A sociedade brasileira, mais uma vez, é um dos alvos da banda. E como o país vem enfrentando tempos turbulentos, com radicalismos políticos cada vez mais exacerbados, não faltaram fatos para influenciar a criação do álbum. “A esquizofrenia do momento político atual nos levou a criar canções como ‘Cadáver Sobre Cadáver’ e ‘Pedofilia’. Os títulos falam por si”, afirma Tony.

Durante o show, a banda enfileirou grandes clássicos de sua carreira como “Sonífera Ilha”, “Televisão” e “Epitáfio”, mas algumas se tornaram ainda mais fortes devido ao contexto político atual. Caso de “Desordem”, recebida com entusiasmo pela plateia. “População enlouquecida, começa então o linchamento. Não sei se tudo vai arder como algum líquido inflamável. O que mais pode acontecer num país pobre e miserável? E ainda pode se encontrar quem acredite no futuro”, diz a letra. Apesar de todo o simbolismo que as canções dos Titãs carregam, na visão dos fãs, Tony diz que isso não é uma preocupação do grupo. “Nada de mensagem. Queremos criar canções relevantes, carismáticas e originais, só isso”, afirma.

“Pra Dizer Adeus”, pedida insistentemente pelo público, encerrou a apresentação. Na saída do palco, algumas crianças subiram e tiraram fotos com o grupo, que demonstrou muita simpatia e bom senso ao não barrar o assédio dos pequeninos fãs e corresponder com o mesmo carinho. “Curitiba é um lugar mágico para nós. A terra de Leminski, de Dalton Trevisan e de João Suplicy. A cidade modelo profetizada por Jaime Lerner. Cidade de bons amigos e do antológico Bar Palácio, onde se pode comer uma carne deliciosa em plena madrugada”, finaliza Tony.

Assista ao vídeo de “Famílial”, gravado ao vivo no show dos Titãs no Teatro Positivo. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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