Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Rodrigo P. Barbieri/Reprodução Facebook Tuatha de Danann

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A banda mineira Tuatha de Danann se apresenta nesta sexta-feira (17) no Jokers. A abertura será do grupo curitibano Jornada Ancestral. Os shows encerram o St. Patrick’s Festival, que também contou com a participação das bandas Thunder Kelt, Gaiteiros de Lume e Hillbilly Rawhide.

O Tuatha de Danann foi formado em 1995 e, atualmente, conta com Bruno Maia (vocal, flauta, guitarra, violão, mandolin e banjo) Rodrigo Berne (guitarra, violão e vocal gutural), Giovani Gomes (baixo e vocal gutural), Edgard Brito (teclado), Rodrigo Abreu (bateria) e Alex Navar (flauta uilleann).

O nome significa “o povo da deusa Danu” e faz referência aos seres encantados que, na mitologia celta, teriam habitado a Irlanda e dominavam a arte, a ciência, a poesia e a magia.

Hoje, muitos grupos que tocam Folk Metal fazem sucesso ao redor do mundo. Entre eles estão o Arkona, da Rússia, e o Korpiklaani, da Finlândia. O Tuatha de Danann, porém, surgiu muito antes do Folk/Celtic Metal ter se tornado popular. Em meados da década de 1990, o Grunge era o estilo que dominava as rádios e a mídia.

Os integrantes da banda mineira, entretanto, já buscavam outro caminho para a sua música. “Desde muito novo, aos sete anos de idade, eu fui fisgado pela cultura celta por meio da lenda do Rei Arthur. Havia um desenho animado na TV nos anos 1980 e eu fiquei doido com aqueles personagens. Até que minha mãe me deu um livrinho sobre os Cavaleiros da Távola Redonda e no prefácio havia uma menção ao povo celta, sua mitologia, etc. Desde então, iniciei uma pesquisa que dura até hoje”, diz Bruno Maia.

O multi-instrumentista também lembra que a forma de conseguir informações sobre essas culturas era muito diferente da atual. “Não havia internet. Eu tinha que escrever para consulados ou visitar bibliotecas para achar algum material. Como comecei tocando muito cedo e fui para o lado do Rock e do Metal, foi natural unir as duas paixões. É verdade que foi um ‘bafafá’ quando lançamos as nossas primeiras demos, ainda na década de 1990. Isso porque, além de sermos muitos novos, éramos do interior de Minas Gerais e cantávamos lendas celtas da antiguidade. Rolava até bullying (risos)”, conta.

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Um universo mágico

Realmente, os temas abordados pelo grupo fogem do lugar comum. As letras do Tuatha de Danann quase sempre contam uma história, transportando o ouvinte para um cenário mágico. Essa forma quase literária dos textos é um fator que ajuda o público a se envolver com o Folk/Celtic Metal. “No início, as nossas letras eram mais voltadas para a mitologia celta, esse lance do Tuatha de Danann (o povo mitológico), outros heróis e temas das mitologias e culturas irlandesas e celtas em geral. Depois, passamos a criar personagens, terras fantásticas, louvar a natureza e criticar essa coisa da materialidade humana em detrimento de toda a magia e beleza que a natureza e seus ciclos nos oferecem. No último disco, nós usamos alguns temas mais militantes nesse lado da ganância humana, o meio ambiente, questões coloniais e mesmo da manipulação midiática. Hoje, estamos mais velhos e livres, então podemos falar de James Joyce, mitos celtas, inconfidência mineira e Chomsky no mesmo disco ou na mesma música”, explica.

Hoje, 22 anos depois de seus primeiros passos, a discografia do grupo conta com duas demos, “The Last Pendragon” (1996) e “Faeryage” (1998) e também inclui cinco álbuns: “Tuatha de Danann” (1999), “Tingaralatingadun” (2001), “The Delirium has Just Began” (2002), “Trova di Danú” (2004) e “Dawn of a New Sun” (2015).

A concepção artística desses álbuns chama muito a atenção, pois parecem ser uma continuidade das músicas da banda. “Realmente, as artes das capas dos álbuns são bem legais. Não sei se é uma continuidade, mas sempre acompanho o artista e, claro, digo o que queremos na capa e no conceito”, explica.

Na visão de Bruno, o álbum que melhor expressa a união entre Metal e Música Celta buscada pelo Tuatha de Danann é o mais recente, “Dawn of a New Sun” (2015). “Eu acho que ele é o que melhor aproveitou essa intersecção, embora o anterior, o ‘Trova di Danú’, também tenha canções magistrais”, analisa.

O processo de composição do grupo, que envolve seis músicos, não parece ser problemático. Mesmo assim, unir o peso das guitarras do Metal à delicadeza dos instrumentos celtas (para que todos soem com clareza) demanda cuidado, principalmente ao vivo. “O lance da composição é bem natural. Deixamos fluir e o que ficar legal para nós fica para o disco. Hoje em dia, nós temos mais noção de arranjos e mesmo de mixagem, então, as incursões célticas e mais acústicas ocorrem em partes estratégicas, até pra não virar um lance meio terra de ninguém”, conta.

Atualmente, o grupo está preparando um novo álbum. Os detalhes devem ser divulgados em breve.

A relação com Curitiba

No dia último 11, a banda se apresentou no Clash Club, em São Paulo. A curiosidade é que o setlist do show foi escolhido pelos fãs. “Foi o primeiro que fizemos dessa forma. Foi muito legal, pois saímos da zona de conforto e tocamos músicas que nunca apresentávamos ao vivo, ou que tocamos há dez anos ou mais. Foi muito louco! Em Curitiba, faremos um set regular que contempla todos os nossos lançamentos”, revela.

A capital paranaense, aliás, tem um dos primeiros músicos a divulgar a cultura celta no Brasil. Trata-se do multi-instrumentista Carlos Simas que, entre outros trabalhos, integra o Gaiteiros de Lume. “Curitiba tem o Keltoi (cujo violinista, o Roger Vaz, tocou conosco durante algum tempo), o Thunder Kelt, o Gaiteiros de Lume, o Jornada Ancestral e o Carlos Simas, que é um dos pioneiros dessa parada toda”, diz.

Com tantas bandas se apresentando regularmente na cidade, o público curitibano que se interessa pela música e cultura celta também tem crescido nos últimos anos. “Curitiba é uma cidade muito legal, bonita e com uma cena cultural efervescente. Rola um movimento forte em torno da música celta e, além disso, a cidade tem grandes nomes da literatura brasileira como Leminski, Dalton Trevisan e Luci Collin. Tocamos aí apenas uma vez, há muito tempo. Foi muito massa e espero que este nosso retorno, no dia de São Patrício, seja o início de vários shows em Curitiba”, finaliza Bruno Maia.

Os shows acontecem nesta sexta-feira (17) e começam às 22h. Os ingressos custam R$ 40 (segundo lote) e R$ 50 na hora. Os bilhetes podem ser adquiridos no site Sympla (onde existe o acréscimo da taxa de serviço da empresa) e no próprio local.

O Jokers fica na Rua São Francisco, 164, no Centro.