Texto: Marcos Anubis
Fotos: Arianne Cordeiro

secret society 1

Guto Diaz (baixo e vocal), Fabiano Cavassin (guitarra) e Orlando Custódio (bateria) já construíram uma rica e longa história dentro da cena musical curitibana. Tudo começou em 1986, quando Guto integrou o Epidemic, uma das primeiras bandas de Thrash Metal da capital paranaense. Praticamente na mesma época, Fabiano fez parte do Abaixo de Deus, outro grupo pioneiro na cidade.

Na sequência, nos anos 1990, os três fizeram parte do Primal, banda que incorporou elementos do Rock Industrial (de grupos como o Nine Inch Nails, o Tool e o Einstürzende Neubauten) que, naquele momento, era pouco conhecido pelo público brasileiro. Com toda essa bagagem, o novo projeto do trio, a The Secret Society, não podia ter melhores referências.

Afinal, ao ouvir o som dos grupos integrados por Guto, Fabiano e Orlando, é possível notar que a visão musical dos três, em muitos momentos, estava à frente daquela época. E o mais interessante é perceber que essa insistência em buscar algo diferente sobreviveu ao tempo. “Quando a gente começou a trabalhar o som da Secret, as músicas foram surgindo naturalmente. Até por causa do leque de influências que nós absorvemos durante todos esses anos. Eu e o Fabiano, por exemplo, tocamos juntos há mais de três décadas”, diz Guto Diaz.

Nesse sábado (14), o grupo se apresentou no Festival Crossroads Dia Mundial do Rock, que foi realizado na Usina 5. Diante de um público completamente heterogêneo (foram mais de 30 atrações de estilos diferentes, entre autorais e covers), a Secret surpreendeu quem não conhecia o trabalho dos caras.

A banda abriu o show com a inédita “Beyond the gates”. No repertório, o grupo incluiu seus três singles, gravados no início deste ano: “The architecture of melancholy”, “Fields of glass” e “Deciduous (Les feuilles mortes)”, que serão disponibilizados em breve. O setlist também foi composto por canções da Secret que ainda não foram gravadas, como “Rites of fire” e “A map for a lonely man”.

secret_society03

Obscuridade e peso

O som da The Secret Society envolve uma ampla mistura de estilos e referências. É preciso estar atento para absorver e entender a proposta da banda, mas essa é a grande motivação de quem procura fugir do lugar comum. Entre as várias influências do trio, é possível perceber os riffs carregados de drive de Billy Duffy (The Cult) e a cadência doom do Paradise Lost, além do clima soturno das ambiências do The Mission e do The Cure.

Na prática, em cima da marcação do baixo e da bateria, a guitarra soa completamente livre, navegando entre acordes e frases pontuais. “Nossas influências vêm do Metal, do Punk, do Gótico e do Pós-Punk, principalmente. Ultimamente, eu tenho ouvido muito Death Rock, que eram os góticos de Los Angeles nos anos 1980 e são uma grande influência pra gente. Apesar de a Secret ser Metal, ela não é Metal. Nós temos o peso e a agressividade, mas tentamos fugir um pouco desse rótulo porque não queremos ser rotulados. Nós somos uma banda de Rock com muitas influências”, diz Guto.

Todos esses elementos, no final, geram uma sonoridade com característica própria. Outra questão que salta aos olhos de quem conhece a Secret é a preocupação com a estética visual. Durante o show, por exemplo, o telão posicionado atrás do palco exibia imagens em todas as músicas, criando uma atmosfera que ilustrava as letras das canções. “Eu sempre fui um músico muito preocupado com performance de palco. No futuro, a ideia é ampliar e ter um vídeo para cada música, passando um pouco do que cada letra está falando”, explica.

A parte visual, que ainda inclui a belíssima logo da banda e as imagens em vídeo, é criada pelo designer Alysson Pugas. “Nós pesquisamos essa coisa das sociedades secretas e místicas, como os illuminati e, então, eu passei as referências para o Alysson. Ele criou muito bem essa simbologia das sociedades secretas, meio obscura, mística”, diz.

Outro fator que complementa o som do grupo é a temática das letras. Em “The architecture of melancholy”, por exemplo, Guto aborda a morte, um dos temas mais presentes nos textos da Secret. “Da batida de coração primal, até a última pá de terra, todos esses momentos serão perdidos no tempo, como poeira no vento. Lágrimas de lamento sobre o ossuário, torres de marfim, templos de miséria, um santuário”, diz o texto. “As minhas letras sempre foram muito politizadas, principalmente na época do Primal. Eu falava contra o sistema, contra a guerra, era uma coisa bem engajada. Na Secret Society eu fiquei um pouco mais livre pra trabalhar temas mais obscuros. Eu trato muito do tema ‘morte’, isso é recorrente nas músicas. Mas não da morte em si, na verdade, eu faço várias metáforas com a morte”, explica.

Além da gravação dos três singles, a banda também acaba de lançar o seu primeiro clipe. Produzido pela Red Records, com direção de Rapha Moraes, “The architecture of melancholy” certamente já pode ser considerado um dos melhores vídeos já criados na música curitibana. Musicalmente, ele é um retrato fiel do som da Secret e, visualmente, mostra muito bem os conceitos que envolvem a temática do grupo. “O Rapha insistiu bastante pra gente fazer o clipe. Então, eu mostrei a letra pra ele e expliquei o que eu queria dizer, porque ela é cheia de metáforas. Talvez, traduzindo, ela não tenha o sentido que eu quero passar, mas isso é do entendimento de cada um. A letra faz um paralelo entre cemitérios e uma megacidade com pessoas mortas, melancólicas, que não vivem. Elas ficam fechadas nessa solidão, na miséria de uma cidade grande. A pessoa sai do prédio onde ela mora e vai para um jazigo que, de certa forma, lembra isso. Em uma das cenas do clipe, nós filmamos um cemitério, de cima, e ele parece uma grande cidade”, finaliza Guto.

A banda encerrou o show na Usina 5 com “The infantry”, do Primal, uma “cover de nós mesmos”, como brincou Guto. O cartão de visitas que a The Secret Society tem mostrado é impactante. Ao absorver as mais variadas influências do Metal e do Pos-Punk, entre outros estilos, o grupo realmente conseguiu criar uma sonoridade bem criativa. Isso, em um cenário musical cada vez mais repetitivo, aonde as bandas são feitas em série como cópias umas das outras, nada é mais entusiasmante do que ouvir algo que realmente soa diferente.

Assista ao vídeo de “The architecture of melancholy”, ao vivo no show na Usina 5.