Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira

O novo espaço da Ordem Rosacruz AMORC reúne 70 réplicas das peças originais encontradas na tumba do Faraó mais famoso da história



O museu “Rei Menino de Ouro: Tutankhamon” foi inaugurado nesse sábado (7) no complexo da Ordem Rosacruz AMORC, em Curitiba. A cerimônia contou com a presença do renomado secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, o arqueólogo Zahi Hawass, que é a maior autoridade do mundo na história da civilização egípcia. O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, também participou da inauguração.

O novo museu da AMORC conta com a chancela de Hawass, que concebeu a ideia e também desenvolveu o conceito da exposição em uma parceria com a empresa italiana Laboratorio Rosso.



Fidelidade às obras originais

A mostra, que é permanente e inteiramente dedicada ao “Faraó menino”, reúne 70 réplicas fiéis que retratam as peças originais que foram encontradas na tumba de Tutankhamon em 1922 pelo arqueólogo inglês Howard Carter. As obras foram confeccionadas pelo laboratório do Conselho de Antiguidades do Egito, no Cairo, e reproduzem com realismo inclusive as falhas e imperfeições das peças originais. “Não é possível criar um museu inteiro sobre Tutankhamon com os artefatos originais. Foram encontradas 3.598 peças na tumba dele. Todas estão no Cairo e serão exibidas no Grande Museu que será inaugurado em outubro de 2020. Então, a única maneira de criar esse museu em Curitiba era utilizar as réplicas exatas que foram construídas pelo Ministério das Antiguidades. As técnicas que foram utilizadas farão com que ele seja um museu vivo. Na minha opinião, o museu que nós estamos inaugurando hoje é uma maneira de levar a cultura egípcia principalmente para as crianças, especialmente por se tratar de um menino que governou o mundo aos nove anos de idade”, analisa Zahi Hawass.

O Laboratorio Rosso foi responsável por desenvolver os projetos museológico e museográfico, pelo design gráfico e pela criação dos materiais audiovisuais do novo museu. Entre eles, estão os vídeos de apresentação da exposição, os que abordam a época na qual Tutankhamon viveu, os que retratam alguns aspectos da vida do Faraó e os que mostram objetos que ele utilizou durante a vida. “É muito bom para Tutankhamon que ele tenha essa representação expressa em outros lugares por meio dessas réplicas. Eu estou muito feliz por participar do processo de criação do museu juntamente com o italiano Sandro Vannini (diretor do Laboratorio Rosso) que colaborou com o design e com as descrições de todas as peças para o que o público saiba o que cada uma representa”, complementa Zahi.

A ideia dos organizadores do museu curitibano é transportar o visitante para o período da história egípcia no qual Tutankhamon reinou. “Além do aspecto cultural, nós concebemos o museu para que ele fosse uma experiência. Do aroma distinto de cada seção até as músicas, é tudo feito para que o público, além de aprender, também sinta a experiência da visita”, diz o Grande Mestre da Ordem Rosacruz, Hélio de Moraes e Marques.

A história do Faraó Menino

O museu “Rei Menino de Ouro: Tutankhamon” é dividido em quatro seções que retratam períodos da vida do Faraó:

“Descoberta da tumba de Tutankhamon” – No início da visita, o público pode ter uma ideia de como eram as escavações que os arqueólogos realizavam no Cairo, nas primeiras décadas do século XX. A experiência é enriquecida por meio de uma grande quantidade de fotos que mostram o trabalho do arqueólogo Howard Carter.

“Vida de um Rei” – Na sequência, o visitante pode vivenciar um pouco da rotina de Tutankhamon por meio de objetos que foram encontrados na tumba do Faraó. Entre eles está uma réplica da biga de Tut, que era usada para transporte e também nas inúmeras batalhas nas quais os faraós egípcios conduziam os exércitos do país.

“Religião e vida após a morte” – Na penúltima seção da exposição, o visitante pode conhecer alguns deuses da mitologia egípcia, entre eles, Anubis, Horus e Osíris. Além disso, essa parte da mostra aborda a crença dos egípcios na vida após a morte e de que maneira eles se preparavam para a vida no além.

“Morte e sepultamento” – Na seção final da exposição, é retratada a morte, o embalsamento e o sepultamento de Tutankhamon. Nesse encerramento, o visitante vai se impressionar com a réplica da tumba de Tut, construída no tamanho original e com as paredes totalmente cobertas por reproduções dos hieróglifos e imagens de deuses egípcios encontradas por Carter em 1922.



Lendas

Na coletiva de imprensa que foi realizada antes da inauguração, Zahi Hawass destacou a importância de se manter vivo o legado de Tutankhamon, de apresentá-lo às novas gerações e também de corrigir algumas lendas que circulam a respeito de Tut. “O período no qual ele morreu ainda não está muito claro para nós, mas a tomografia revelou que ele morreu aos 19 anos. Ele não morreu assassinado. O Discovery Channel e outros canais têm feito documentários dizendo que ele foi assassinado por causa de uma perfuração que ele tem na parte de trás da cabeça, mas ela foi feita para a inserção de um líquido que era usado no processo de embalsamento durante a 18ª Dinastia”, explica Hawass.

O arqueólogo também afirmou que Tutankhamon não morava em Tebas, mas em um palácio na antiga cidade de Mênfis.

A iminência de uma nova descoberta histórica

Atualmente, o dr. Zahi está trabalhando no Vale dos Reis no que ele mesmo chama de “a maior escavação desde a de Howard Carter”, em 1922. A diferença é que toda a equipe é composta por profissionais egípcios, o que é motivo de grande orgulho para Hawass. “Eu tenho duas grandes equipes, uma na região oeste e outra na leste. Existem várias coisas que nós descobrimos, mas ainda não podemos falar porque não foram reveladas publicamente. Esses anúncios acontecerão agora em outubro”, conta.

Entre os personagens históricos que fazem parte da busca estão a mãe de Tutankhamon e uma das irmãs do Faraó. “Eu estou procurando a tumba da Rainha Nefertiti e a de uma das filhas dela, Anquesenamom. É provável que elas estejam enterradas ao lado da tumba de Amenhotep III. Já no lado leste do Vale dos Reis, nós estamos procurando as tumbas de Amenhotep I, de Tuthmés II e de Ramsés VIII. Nem todas as tumbas dos Reis da XVIII Dinastia foram encontradas. O Vale das Rainhas só foi criado na 19ª Dinastia, então eu penso sempre: em qual local elas poderiam estar enterradas?”, diz.

Ópera

Além do protagonismo nas carreiras de arqueólogo e egiptólogo, o dr. Hawass também está trabalhando em um projeto surpreendente. Trata-se de uma ópera que tem como tema central justamente o Faraó Tutankhamon, com estreia marcada para o dia 4 de outubro de 2020 na inauguração do novo Grande Museu do Cairo. “Eu acho que a ópera ‘Aida’ (obra clássica criada pelo compositor italiano Giuseppe Verdi) está muito velha. Assim, quando eu escrevi o roteiro da minha ópera, eu decidi que não podia me basear muito no que está escrito sobre ele (Tutankhamon) porque o que está registrado na História é o que os sacerdotes e outras pessoas queriam nos mostrar. É preciso levar em conta a questão do ser humano”, explica Hawass.

Dessa maneira, Zahi abordou aspectos da vida pessoal do Faraó, a começar pela mãe do jovem, a Rainha Nefertiti. “Quando Tutankhamon nasceu, Nefertiti tinha seis filhas e elas não podiam ser faraós, tinha que ser um menino”, conta.

Assim, as pessoas que detinham o poder na sociedade egípcia daquela época fizeram com que Nefertiti, em vez de se sentir feliz, ficasse muito chateada pelo nascimento desse menino. “Ela consultou um sacerdote muito maldoso e ele disse que ela deveria matar o menino. Ela entrou em contato com um Rei de Kush, que fica no Sudão. Sempre houve muito ódio entre os Kush e os egípcios, então, esse rei mandou 20 homens para matar Tutankhamon. Esses guerreiros acabaram sendo mortos”, complementa.

Com o entusiasmo que demonstra em todas as vezes nas quais aborda a história egípcia, o Dr. Hawass se empolgou ao descrever algumas passagens da nova ópera. “Uma das passagens do musical mostra que Tutankhamon era uma criança e tinha dificuldades para decidir se seguiria a religião de Akhenaton (monoteísmo) ou não. A coroação dele como Rei, quando o Alto Sacedorte de Amon coloca a coroa na cabeça dele, é uma das cenas mais importantes da ópera! Outra passagem importante é quando Tutankhamon fica sabendo que o Rei Kush mandou matá-lo. Então, ele vai liderar um exército para conquistar o reino Kush e volta vitorioso”, complementa.

A ópera está sendo finalizada por um jovem músico da cidade de Catânia, na Itália. Os detalhes serão revelados ao mundo no dia 12 de setembro na cidade italiana de Veneza e, no dia 18, serão anunciados os músicos, o diretor, os cantores e o maestro que vai conduzir a execução da obra.

Após a estreia na inauguração do Grande Museu do Cairo, que fica na parte ocidental do Vale dos Reis, a Ópera será levada a outras grandes capitais em todo mundo.



A paixão pela arqueologia

O dr. Zahi é reconhecido no mundo todo pela paixão que demonstra quando aborda qualquer aspecto da civilização egípcia. Esse trabalho de exploração e descobertas literalmente é a vida de Hawass. “Não dá para explicar isso em palavras, é preciso me ver descobrindo uma tumba, uma estátua ou um abrindo um sarcófago. É uma coisa tão forte que jamais eu poderia explicar para as pessoas! Vocês podem perceber um pouco desse sentimento que eu tenho quando estou dando palestras. Hoje é mais difícil que eu esteja presente nas escavações por causa das palestras e viagens que eu faço por todo mundo para falar sobre esses assuntos. Mas eu estou muito feliz por estar colaborando com o Ministério das Antiguidades e o Ministério do Turismo, ajudando o Egito a receber novos turistas”, explica.

O lugar de descanso dos Faraós egípcios

Apesar de estar perto de inaugurar um museu gigantesco no Cairo, Zahi também revelou que as múmias dos faraós não farão parte do acervo do Grande Museu Egípcio. “A múmia de Akhenaton será exibida no Museu Nacional da Civilização Egípcia, na região antiga do Cairo. Todas as múmias dos Reis precisam ficar nesse museu”, explica.

O Grande Museu do Cairo deve impressionar os turistas logo na entrada, onde está posicionada uma estátua de Ramsés II toda esculpida em granito rosa, com mais de 80 toneladas e 11 metros de altura. Ela tem 3.200 anos e, originalmente, estava na entrada do Grande Templo de Ptah, no sul da capital egípcia. A coleção terá mais de 45 mil obras de arte, sendo que 25 mil delas nunca foram expostas. Entre os artefatos, 5 mil vêm do túmulo de Tutankhamon.

Apesar da enorme quantidade de obras que compõem o acervo dos museus egípcios, Zahi diz que apenas 30% dos artefatos que história do Egito foi descoberta até hoje. “O Egito moderno foi construído sobre o antigo. Você pode cavar no quintal de uma casa no Cairo e descobrir uma tumba. Nós encontramos várias tumbas assim perto do aeroporto do Cairo”, revela.

A história de Tutankhamon

O Faraó Tutankhamon nasceu na capital construída por Akhenaton (pai de Tut) e que gerou tantas desavenças. “Nós temos certeza de que Tutankhamon nasceu em Amarna. Há algumas inscrições lá que falam sobre isso”, explica Hawass.

Tutankhamon governou o Egito no século XIV A.C., de 1333 a 1323 e teve um reinado curto, pois assumiu o trono quando tinha aproximadamente nove anos de idade e morreu aos 19 anos. Tut chegou ao poder em um período muito conturbado da história egípcia. O motivo principal dessa turbulência é que o Faraó anterior, Akhenaton  promoveu uma radical mudança administrativa e religiosa no país.

A história da civilização egípcia é marcada pelo politeísmo (a crença em vários deuses com características e funções diferentes). Entre essas divindades estão Rá (responsável pela criação do mundo, representa o Sol e, para os egípcios, o Faraó era a encarnação de Rá), Anubis (foi ele quem criou a primeira múmia e é o responsável pela passagem dos humanos para o mundo dos mortos), Horus (protetor dos Faraós e das famílias egípcias) e Toth (deus da Lua, da sabedoria e da cura, além de ser o patrono dos escribas porque trouxe os hieróglifos ao Egito).

Akhenaton, que também é chamado de “Faraó Herege”, estabeleceu que, a partir do reinado dele, o povo egípcio só teria um deus (Aton, representado pelos raios de Sol). Ou seja, praticamente do dia para a noite, os egípcios jogaram fora séculos de religiosidade e foram obrigados a adotar um novo pensamento.

Além da mudança religiosa, Akhenaton também resolveu construir uma nova capital para o Egito, no lugar da tradicional Tebas. Ele batizou a nova cidade de Amarna. Obviamente, o povo e os sacerdotes egípcios não receberam bem essas imposições.

Após a morte de Akhenaton, Zahi acredita que a esposa do Faraó asumiu o trono durante algum tempo. “Há indícios de que Nefertiti governou após Akhenaton. Em uma das cenas encontradas (em Amarna) mostram Nefertiti batendo, punindo um inimigo, e essa atividade tem a ver com um reinado”, conta.

Na sequência, quando assumiu o trono, Tutankhamon tinha apenas nove anos. Uma das primeiras medidas adotadas pelo Rei Menino foi reestabelecer a crença politeísta. Dessa maneira, ele selou a paz com os sacerdortes egípcios. Tut também abandonou a antiga capital e levou a múmia do pai para um novo local. “Sabemos que Akhenaton construiu a tumba dele em Amarna, mas Tutankhamon moveu o corpo do pai para a KV55, no Vale dos Reis. Essa é uma tumba misteriosa que está em frente à tumba de Tutankhamon”, revela Zahi.

Tut morreu jovem e por isso não houve tempo suficiente para construir uma grande tumba, seguindo a linha das que eram erguidas por boa parte dos Faraós que governaram durante a XVIII dinastia.

Mesmo assim, a quantidade de informações que surgiram com o estudo da “pequena” tumba de Tut é inestimável. “A maior parte dos conhecimentos que nós temos hoje vieram dos artefatos encontrados na tumba de Tutankhamon”, complementa.

A maior descoberta arqueológica do século XX

Apesar se ser considerada modesta para o padrão dos governantes egípcios da época, a tumba de Tutankhamon é de longe a mais conhecida. Ela foi descoberta no dia 4 de novembro de 1922, no Vale dos Reis, pelo egiptólogo inglês Howard Carter. Logo de cara, a façanha deslumbrou todo o mundo porque a última morada de Tut estava intacta, um fato raríssimo no Egito. Afinal, ao longo dos séculos, os saqueadores dizimaram quase que totalmente os tesouros e as próprias múmias dos faraós.

Por isso, quando olhou para dentro da tumba por um pequeno buraco que foi aberto pela equipe de trabalho para iniciar a exploração, Carter disse uma frase que se tornou célebre: “Vejo coisas maravilhosas!”.

O espanto do arqueólogo inglês é plenamente justificável, afinal, Tut foi enterrado com mais de cinco mil objetos pessoais. Muitos, inclusive, eram de ouro. O mais famoso é a máscara mortuária do Faraó que se tornou um dos itens mais conhecidos da egiptologia.

A partir daquele momento, a múmia de Tutankhamon foi essencial para que os arqueólogos descobrissem vários aspectos que envolveram a vida do faraó menino. Até hoje, ela continua fornecendo informações e surpreendendo os egiptólogos. “Na primeira vez que nós colocamos a múmia de Tutankhamon na máquina de tomografia, nós identificamos que ele não era uma pessoa normal, ele tinha muitos problemas físicos. Ele tinha o ‘pé chato’ e a circulação sanguínea não alcançava os dedos dos pés. Ele também sofreu de malária. Quando a múmia foi examinada, nós encontramos uma fratura na perna esquerda e ela indicava que, aparentemente, ele sofreu um acidente dois dias antes de morrer. Em outubro, eu examinarei novamente a múmia de Tutankhamon, usando uma nova técnica, para verificar se ele teve ou não uma infecção. Se não houve infecção, isso significa que provavelmente ele morreu por causa do acidente”, explica Zahi Hawass.

Além disso, o DNA de Tutankhamon foi decisivo para que Hawass confirmasse que uma das múmias encontradas por ele era a do pai do faraó menino. “Nós fizemos um teste de DNA para saber a relação dele com Akhenaton. Eu encontrei a múmia de Akhenaton por meio do DNA dele e hoje ela está em exposição no Museu do Cairo. Akhenaton era filho de Amenhotep III e da Rainha Tyi”, diz.

Todas essas descobertas que não param de surgir mostram que, nas próximas décadas, é possível que muitos outros mistérios possam ser solucionados pelos arqueólogos. “As novas tecnologias podem trazer novas evidências para a arqueologia”, finaliza Zahi Hawass.

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Serviço

O quê: Museu Rei Menino de Ouro: Tutankhamon.

Onde: Ordem Rosacruz AMORC (Rua Nicarágua, 2620, Bacacheri).

Entrada: R$ 24 (inteira) e R$ 12 (meia-entrada).

Horários:

De terça a sexta

Das 8h às 12h e das 13h às 17h30

Sábados

Das 10h às 17h

Domingos

Das 13h30 às 17h

Feriados

Das 10h às 17h