Texto e foto: Marcos Anubis
Abra seu caldeirão sonoro, acenda o fogo e vá acrescentando os ingredientes. Comece com uma boa dose do wall of sound de Jesus And Mary Chain e My Bloody Valentine, algumas ambiências a la Lush e arremate com uma pitada da loucura criativa de Thom Yorke. Perto do fim, como cantam Edgard Scandurra e Nasi, acrescente o toque derradeiro: originalidade. O show de lançamento do álbum “Rasura”, quarto na carreira de 11 anos da banda curitibana ruído/mm, escrito com letras minúsculas, lotou o Sesc da Esquina na último sábado (27) e mostrou outro lado da combalida “cena musical curitibana”: o que apoia e valoriza os filhos da capital das araucárias.
André Ramiro, Ricardo Pill e Felipe Ayres (guitarras), Rafael Panke (baixo), Alexandre Liblik (piano, teclado e escaleta) e Giovani Farina (bateria) fazem um som instrumental denso, com momentos de fúria e beleza. A comparação entre o recém parido “Rasura” e os outros três álbuns da discografia do grupo, “Série Cinza” (2004), “A Praia” (2008) e “Introdução à Cortina do Sótão” (2011), é inevitável. O motivo é a expectativa criada em virtude da qualidade musical do ruído/mm. “O que mudou foi colocar os álbuns em um lago profundo, esperar o gelo derreter por alguns milhares de micro segundos e surgir com um álbum fóssil do que sempre fomos”, explica Ramiro.
O show
Sob uma tênue luz vermelha que dava um ar lúgubre ao palco, o sexteto iniciou o show com “Bandon”, que abre o recém-lançado “Rasura”. O CD foi masterizado pelo produtor Mark Kramer, que já trabalhou com White Zombie, Galaxie 500 e Butthole Surfers. Nada mais certeiro porque a música do ruído/mm tem uma cara gringa. Em um exercício mental, não seria nenhum absurdo ver a banda se apresentando no circuito se shows e festivais independentes na Europa, pela qualidade e originalidade de seu trabalho.
Um dos grandes responsáveis por essa aura inglesa no som do ruído/mm, é a trinca de guitarras. São elas que criam todos os climas, hora imprimindo peso e em outros momentos construindo uma beleza melódica impressionante. E ao vivo essa experiência sonora é ainda mais profunda, pois é possível perceber que os sons são retirados da alma de cada músico. Na sequência o sexteto apresentou quase todo o novo álbum. Destaque para a hipnótica “Eletrostática”.
“Sanfona” encerrou a apresentação. “O show foi lindamente familiar. A galera que trampou conosco no disco, os músicos da cena, novos e velhos, todo mundo estava lá pra fazer a noite completa”, finaliza Pill. No próximo dia 8 de outubro o ruído/mm se apresenta no Teatro Paiol e no dia 18 no 92 Graus. Mais duas oportunidades de conhecer o som de um dos mais criativos grupos curitibanos. Confira duas músicas do show: “Bandon”, “Eletrostática” e “Cromaqui”.
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