Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira
Ao lado do guitarrista Doug Aldrich, o lendário vocalista apresentou alguns dos mais marcantes clássicos do Rock’n’roll no Music Hall
“Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra.” O título da biografia do Led Zeppelin, escrita pelo jornalista Mick Wall, reflete bem o momento em que vivemos. Muitos dos grandes músicos e artistas que tornaram o Rock o estilo mais popular do mundo estão nos deixando. Ao longo dos últimos anos a lista inclui nomes como Ronnie James Dio, John Lord (Deep Purple), Richard Wright (Pink Floyd) e Chris Squire (Yes), entre outros.
Dentro desse contexto, Curitiba teve a honra e o privilégio de poder assistir ao show do baixista e vocalista Glenn Hughes, nessa quarta-feira (19). O talentoso guitarrista Doug Aldrich (ex-Whitesnake e Dio) e o baterista sueco Pontus Engborg completaram a formação do power trio.
“Stormbringer” abriu a apresentação. A faixa título do 9º álbum do Deep Purple, lançado em 1974, colocou logo de cara as cartas na mesa com um dos maiores clássicos da carreira do músico inglês.
Glenn é um daqueles poucos baixistas que se destacam na execução de seu instrumento. Normalmente o baixo faz uma “cama” para as guitarras, ocupando uma posição discreta. Glenn subverte de forma genial essa regra, deixando o baixo na linha de frente da banda.
Durante o show, Glenn agradeceu várias vezes o público e elogiou as terras brasileiras. “Muito obrigado por virem! Eu te amo, Brasil. Vocês significam muito para a gente. Deus os abençoe.”, disse em uma dessas ocasiões.
Após “One Last Soul”, Doug demonstrou toda a sua técnica e virtuosismo em um solo que incluiu alguns acordes de “Catch The Rainbow”, pérola do álbum “Ritchie Blackmore’s Rainbow” (1975) imortalizada na voz de Ronnie James Dio. Glenn cantou essa canção de forma emocionante no funeral de Dio, em maio de 2010.
O solo sedimentou o caminho para o ponto alto da noite. “Mistreated” ganhou uma versão com praticamente 20 minutos e hipnotizou o público presente. Nesses momentos você vê a história do Rock passando na sua frente como em uma tela de cinema. Os fãs perceberam esse momento mágico e no final da canção Hughes foi ovacionado pela interpretação.
Clássicos e simpatia
O repertório do show passou por toda a carreira de Glenn: do Trapeze com “Way Back To The Bone”, Deep Purple com “Sail Away” até “One Last Soul” do Black Country Communion.
Sempre procurando se comunicar com os fãs, Glenn disse que o trio estava iniciando uma turnê pela América do Sul e que pretender retornar ao Brasil no ano que vem. O país, aliás, foi muito elogiado por ele. “Vocês têm que entender que o Brasil foi o primeiro país da América do Sul em que eu me apresentei. Estive aqui pela primeira vez há 21 anos, quando eu vinha sendo um garoto muito levado”, disse em uma dessas conversas. Glenn estava se referindo à metade dos anos 1990 quando as drogas quase calaram precocemente seu talento.
Ainda se referindo a esse período e mostrando sua relação com o país, Glenn continuou. “Vocês foram tão legais comigo! Vocês me mostraram o amor que eu havia ouvido falar quando eu era criança (o amor dos brasileiros). O Pelé é realmente um bom amigo. Um conhecido meu gerenciou alguns negócios do Pelé, então eu realmente pude me conectar com o futebol. Então, com um amigo assim, eu encontrei meu ‘Deus’!”, complementou.
Glenn esteve no Brasil durante a Copa do Mundo acompanhando os jogos da Inglaterra. O English Team acabou sendo eliminado na primeira fase, mas a sua relação de carinho com nosso país parece ter aumentado. “Eu adoro o Brasil, adoro futebol, adoro vocês. Pelé, eu te amo, cadê você?”, brincou.
A forma carinhosa com que Glenn se referia aos brasileiros não soava de nenhuma forma como um “lugar comum”. Era nítido o respeito que o músico inglês e sua banda demonstravam pelos fãs. “Muito obrigado pelo seu amor, ele significa muito pra mim”, finalizou agradecendo o público curitibano.
Diferente da maioria dos vocalistas de sua geração, Glenn Hughes ainda mantém o alcance vocal e os agudos que caracterizaram suas interpretações. E nesse show especificamente, como saberíamos no final, uma gripe ainda tentou prejudicar a performance do vocalista.
Um dos atributos de Glenn é saber escolher os integrantes de sua banda. Doug Aldrich, por exemplo, sabe dosar com maestria solos criativos e bases pesadíssimas. O músico americano executou com tranquilidade e personalidade as músicas compostas por Ritchie Blackmore e Joe Bonamassa, igualmente virtuoses das seis cordas. Já o baterista Pontus Engborg é discreto e pesado na sua maneira de tocar, mantendo a cadência das canções e interferindo com viradas certeiras, quando necessário.
Na sequência da apresentação, depois de “Soul Mover” a banda se retirou do palco e o público ficou esperando o bis. Após alguns minutos Doug e Pontus voltaram ao palco e o guitarrista tomou a palavra: “Pessoal, vocês são realmente muito durões! Muito obrigado. Nós somos muito gratos. O Glenn esteve doente, muito doente, durante o dia todo. O médico disse que ele teria que cancelar o show, mas Glenn não queria deixar vocês para baixo, então ele veio tocar hoje à noite. Ele estava mal, doente, e fez um grande show!”, explicou. “Ele não queria deixar vocês mal, a gente nunca sabe, então ele veio aqui hoje à noite. Vou dizer uma coisa: ele ama vocês, muito! E nos vemos no ano que vem! Valeu, caras! Rock’n’roll é no Brasil!”, complementou Doug.
As duas últimas músicas previstas seriam “Black Country” e “Burn”. Os fãs entenderam de forma pacífica e aplaudiram. Nessa quinta-feira Pontus publicou uma nota em sua página no Facebook elogiando o público e explicando o ocorrido: “Muito obrigado, Curitiba. Vocês arrasaram! G. ficou doente essa manhã, mas ele subiu ao palco por causa de vocês! Eu também estou doente, mas eu não canto. ‘Papa’ é um verdadeiro lutador e um dos melhores cantores que este planeta já teve! Dia de folga amanhã. A turnê continua”, disse.
Realmente, não há nada do que reclamar. Glenn completou 63 anos nessa sexta-feira (21). Ver artistas como ele é mergulhar em histórias que fazem parte do imaginário do Rock ‘n’ Roll. Sempre que existir a possibilidade de beber nesta que é a mais pura fonte do estilo, o faça sem pensar duas vezes.
Confira três momentos do show: “Mistreated”, “Stormbringer” e “Sail away”.
Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).
Assim, você ajuda o site a se manter na ativa, fazendo um jornalismo independente e com conteúdos exclusivos (entrevistas em texto e vídeo, coberturas de shows, fotos, vídeos e matérias). Se inscreva no nosso canal no YouTube para assistir vídeos de shows e entrevistas exclusivas e siga as nossas redes sociais no Twitter, Instagram e Facebook.
Deixar um comentário