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O tenor italiano encerrou a sua turnê pelo Brasil emocionando o público curitibano

“Parte imortal do ser humano, consciência, espírito, o que dá força e vivacidade.” Segundo o dicionário Aurélio, essas são algumas das definições da palavra “alma”. Como um tesouro quase inalcançável, essa entidade metafórica pode ser vista somente em algumas ocasiões especiais.

Nessa quarta-feira (19), na Arena da Baixada, o tenor italiano Andrea Bocelli mostrou sua alma ao público curitibano. Esse foi o último show da turnê pelo Brasil e teve três partes: na primeira, o também tenor italiano Davide Carbone abriu a noite com “Io che amo solo te”, grande sucesso de Sergio Endrigo.

Durante esse bloco, Davide foi acompanhado pelos músicos curitibanos José Carlos Branco (bateria), Carla Zago (violino), Gabriel Schwartz (baixo), Eduardo Rozeira (guitarra) e Marcelo Torrone (teclado e piano elétrico). “O convite veio porque o Marcelo Torrone esbarrou com um dos produtores do show em São Paulo, justamente no momento em que ele estava procurando uma banda de apoio para a apresentação do Davide. Nós recebemos as bases midi e as partituras, estudamos em casa algumas vezes e fomos tocar. É muito bacana ver de perto e participar de megaeventos. É um mundo à parte”, conta Branco.

Em um set curto, Davide ainda cantou “Caruso” de Lucio Dalla e, em seguida, recebeu o cantor sertanejo Daniel para acompanhá-lo em “Como é grande o meu amor por você” de Roberto Carlos. Carbone encerrou o primeiro bloco com “Volare” de Domenico Modugno.

Andrea Bocelli - Arena da Baixada - 19/10/2016

Segunda parte

Após alguns acertos no palco, o grande telão começou a exibir um vídeo da Andrea Bocelli Foundation, entidade mantida pelo cantor, que procura capacitar pessoas em situação de risco, como analfabetismo, doenças e pobreza.

Em seguida, o maestro americano Eugene Kohn assumiu o seu posto à frente da Orquestra e Coro Jovem do Estado de São Paulo. Em um começo apoteótico, os músicos iniciaram a execução do Hino Nacional Brasileiro. A letra foi cantada por Davide Carbone. Em pé, o público acompanhou com respeito e aplaudiu efusivamente.

Na sequência, escoltado pelo maestro, Bocelli entrou no palco e foi recebido com muito carinho pela plateia. De forma contida e discreta, ele se limitou a saudar os fãs com um “obrigado”. Essas seriam as suas únicas palavras durante o show.

Nitidamente, durante toda a apresentação, Bocelli ficou concentrado em seu canto, fazendo o possível para não assimilar demais o que estava acontecendo à sua volta. Alguns gritos de “parla com noi” (fale conosco) eram ouvidos de vez em quando, vindos do público, mas não chegavam até o tenor.

Bocelli iniciou a apresentação com “Recondita armonia” de Puccini e “La donna è mobile” de Verdi. Esse bloco foi dedicado às árias de ópera e ainda teve a soprano cubana Maria Aleida Rodriguez cantando “The doll song”.

Outra atração foi a violinista americana Caroline Campbell, que executou “Fantasy for violin” de Bizzet. “La traviata” de Verdi encerrou essa segunda parte. Na sequência, houve 20 minutos de intervalo.

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Terceira parte

Na volta ao palco, a orquestra executou “O guarani” do brasileiro Antônio Carlos Gomes. Em seguida, aconteceu o momento mais emocionante do espetáculo. Eugene Kohn se dirigiu ao público e disse: “o Bocelli gostaria de dizer que conheceu este rapaz na apresentação no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, este grande artista, e o chamou como uma surpresa para vocês”.

Em seguida, o cantor sertanejo Daniel se juntou ao tenor italiano. Quando a grandiosa voz de Bocelli cantou as primeiras frases da “Ave Maria” de Schubert, a emoção ecoava em todos os cantos da Arena da Baixada.

Por se tratar de um tema religioso, a canção já toca os corações das pessoas naturalmente. Mas, engrandecida pela voz poderosa de Bocelli, ela tomou uma proporção ainda mais emotiva. Para Daniel, que é assumidamente devoto de Nossa Senhora Aparecida, o momento também deve ter sido muito especial. De maneira humilde e respeitosa, mas cantando de forma confiante, Daniel arrancou aplausos do público e recebeu os cumprimentos de Bocelli ao final da música.

Em seguida, Caroline Campbell voltou para executar “America” do filme “West Side Story. Após cantar “The music of the night”, tema do filme e da peça “O Fantasma da Ópera”, Bocelli se retirou do palco e deu lugar à grande surpresa da noite.

Anitta subiu ao palco sob um misto de aplausos e vaias. Afinal, pensava a maioria do público, que predicados teria a funkeira para cantar ao lado de uma das maiores vozes do mundo? Eis que, para a surpresa de todos, Anitta cantou de forma afinada e não fez feio.

O tema escolhido para ela foi “Somewhere over the rainbow”, do filme “O Mágico de Oz”. Sua interpretação delicada e contida, muito diferente do seu trabalho autoral, arrancou aplausos do público. Ela ainda voltaria para cantar “Canto della terra” e “Vivo por ella”.

O gran finale teve o sucesso “Con te partirò”, no qual Bocelli foi acompanhado por Daniel e Maria Aleida Rodriguez. “Nessun dorma… O sole, vita!” de Puccini encerrou a apresentação. Todos os cantores, ao lado de Bocelli e Eugene Kohn, despediram-se do público.

Dois pontos são dignos de serem ressaltados: o primeiro é a qualidade e, sobretudo,  a personalidade dos músicos da Orquestra e Coro Jovem do Estado de São Paulo. É possível imaginar a responsabilidade de ser a base para o canto de um dos maiores tenores do mundo?

O segundo é que, definitivamente, a Arena da Baixada se mostrou preparada para receber shows desse porte. A acústica do estádio é incrível. De qualquer parte era possível ouvir com clareza tanto a voz de Bocelli quanto os instrumentos, mesmo os mais delicados, como a harpa e o oboé.

Além de sediar os jogos do Clube Atlético Paranaense, o local foi projetado para receber grandes eventos. Toda a arquitetura do estádio foi desenvolvida para ser uma arena multiuso. As arquibancadas são muito próximas ao campo e isso fez com que, em qualquer setor onde o público estivesse acomodado, fosse possível enxergar o palco.

A sensação que as pessoas carregavam na saída do show era de leveza. Elas tinham a consciência de terem vivido uma experiência única que, talvez, não se repita. Afinal, o público presenciou um daqueles momentos nos quais a alma se torna tangível. Nesse caso, Andrea Bocelli deixou um pouco de sua própria alma no coração de todos os presentes.

Assista a dois vídeos do show: “Ave Maria” e “La donna è mobile”.

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