Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Carol Siqueira e Pri Oliveira
Nando Reis é um espécime raro dentro da música brasileira por um simples motivo: diferente de muitos artistas de sua geração, ele continua fazendo do texto a sua grande força motriz. “A inspiração para escrever vem de tudo que me cerca, do que acontece comigo, do que ouço e penso. Como escrevo quase sempre em primeira pessoa do singular, na maioria das vezes eu estou me referindo a algo que vivi ou a alguém que conheço. Mas não significa, necessariamente, que seja algo que aconteceu ao pé da letra. É só um gatilho, um ponto de partida. O que interessa é o resultado final”, explica Nando.
Neste sábado (29), o cantor, músico e compositor paulista se apresenta no Teatro Positivo, em Curitiba, trazendo a turnê de seu novo álbum, “Jardim-pomar”, lançado no final do ano passado.
“Jardim-pomar”, o 7º álbum de estúdio de Nando Reis, é composto por 13 faixas autorais, sendo uma, “Como somos”, escrita em parceria com o vocalista e guitarrista do Skank, Samuel Rosa. O CD também conta com vários convidados, entre eles, os ex-companheiros de Titãs (Arnaldo Antunes, Branco Mello, Paulo Miklos e Sérgio Britto), as cantoras Pitty, Luiza Possi e Tulipa Ruiz, os filhos de Nando (Theodoro, Sebastião e Zoé) e os guitarristas Mike McCreedy (Pearl Jam) e Peter Buck (REM).
A produção de “Jardim-pomar” ficou a cargo de Jack Endino, um dos magos do movimento Grunge, e Barrett Martin, ex-baterista do Screaming Trees e do Mad Season, supergrupo formado nos anos 1990 que reunia o guitarrista do Pearl Jam, Mike McCready, e o falecido vocalista do Alice in Chains, Layne Staley.
A dupla têm uma carreira repleta de trabalhos emblemáticos. Jack Endino foi o responsável pela sonoridade de álbuns pesadíssimos, entre eles, “Bleach” (1989), do Nirvana e “Skunkworks” (1996), do vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson. Além disso, ele trabalhou com os Titãs no CD “Titanomaquia” (1993), talvez o mais pesado da carreira da banda, e também em “Sei” (2012), do próprio Nando, entre outros álbuns.
Já Barrett Martin produziu três trabalhos do brasileiro anteriormente: “Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro (2000), “Infernal” (2001) e “A Letra A” (2003). O baterista também participou dos CDs “Up” (1998) do REM e “Nº 4” (1999) do Stone Temple Pilots.
Todas essas experiências com grandes nomes da música mundial se refletem em “Jardim-pomar”. Obviamente, as canções do álbum, assim como todo o trabalho solo de Nando, são mais trabalhadas, sem a urgência de “Titanomaquia”, por exemplo.
A relação dos três no trato dessas músicas também é bem diferente daquela fase dos Titãs. “Eu gosto muito de trabalhar com o Jack Endino. A nossa relação é de mútua admiração. Gosto de ir ao seu estúdio em Seattle e de acompanhar a maneira como ele trabalha, porque vejo a música de outra perspectiva. Por meio dele, eu conheci o Barrett, que produziu o disco também. Eles são grandes parceiros e amigos, apesar do modo diferente de trabalhar. Jack é um mestre em tirar som e cortar excesso. Barrett é mais participativo na feitura do arranjo, muito metódico. E isso foi muito rico pro trabalho. Embora eu o conheça há anos, nunca havia feito um disco dessa forma, gravando seis músicas em Seattle e seis músicas aqui no Brasil. O resultado ficou fantástico”, explica Nando.
A maneira muito particular de expor as suas experiências pessoais já rendeu a Nando inúmeros clássicos, entre eles, “O segundo sol”, “All-star” e “Do seu lado”. Ao mesmo tempo, manter uma “fábrica de sucessos” não parece ser uma preocupação. “É sempre misteriosa a forma como se dá a composição. Eu componho basicamente para mim, sobre as coisas que vivo, que sinto, que enxergo. Para este disco, por exemplo, a inspiração foi a procura do amor e a consciência da nossa finitude, da morte”, complementa.
Independência
Durante a sua carreira, Nando conheceu o poder da máquina da indústria fonográfica, das grandes gravadoras. Com os Titãs, por exemplo, ele fez parte do cast das gigantes Warner, Sony e Som Livre.
Hoje, ele acredita (e mostra isso na prática) que é possível não depender dessas majors. “Eu vivi toda a transição e a transformação da indústria fonográfica com a chegada da era digital. Da crise do mercado com a replicação que acabou com as vendas, através da pirataria, ao despreparo que redundou na falta de regulamentação para proteger os direitos autorais quando a internet chegou”, analisa. “Desde que me tornei independente e tive que aprender e me envolver com a parte comercial, fiz várias experiências para me entender com esse mercado em transformação. A maior dificuldade foi encontrar espaço para colocar e atingir a parcela do público que ainda se interessava em adquirir o produto físico, já que a música digital tornou a compra do CD uma prática obsoleta”, complementa.
Mas gerenciar uma carreira independente não é nada fácil, nem para um artista do porte e com a história que Nando Reis carrega consigo. É necessário entender muito bem como funciona todo o processo artístico, da composição até o lançamento do produto final. “Para mim, um disco propõe uma experiência que demanda tempo. E por toda a importância que eu acho que um disco físico tem, gosto de estar envolvido no desafio de saber como vendê-lo. Eu criei meu escritório e meu selo porque queria criar modelos próprios, metodologias únicas de trabalho. Fiz tudo da forma que queria e aprendi a viver dentro da minha realidade financeira e fazer um planejamento. Isso é muito enriquecedor”, diz.
Na esteira dessa liberdade no seu trabalho, Nando resolveu disponibilizar nas plataformas digitais a gravação de cada um dos shows dessa turnê. Essa é uma atitude muito interessante, pois acontece em um momento em que os artistas, cada vez mais, parecem ter medo de que sua obra “caia na rede”.
Ter a noção de que os shows são, hoje, talvez o grande cartão de visitas dos artistas brasileiros, é uma sacada inteligentíssima. “Foi um presente ao meu público e aos fãs. Cada um pode ter o show de sua cidade ou do local que quiser. Apesar do repertório ser único, cada show se dá de uma maneira. E achei bacana lançar um show ao vivo de cada cidade por onde a gente passar”, explica.
E, em se tratando de fãs, a capital paranaense é, certamente, uma das cidades onde o trabalho de Nando mais é apreciado. A noite de hoje, portanto, deve ser uma celebração dessa conexão com os curitibanos. “Gosto demais de me apresentar em Curitiba! Sou sempre muito bem recebido pelo público e pelos artistas”, finaliza.
Serviço
O show de Nando Reis acontece hoje no Teatro Positivo. Os ingressos custam: Plateia Vermelha – R$ 230 (inteira) e R$ 120 (meia-entrada). Plateia Azul – R$ 210 (inteira) e R$ 110 (meia-entrada). Plateia Amarelo – R$ 190 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada). Plateia Roxo – R$ 180 (inteira) e R$ 95 (meia-entrada). Plateia Laranja – R$ 160 (inteira) e R$ 85 (meia-entrada). Plateia Rosa – R$ 150 (inteira) e R$ 80 (meia-entrada). Plateia Verde – R$ 140 (inteira) e R$ 75 (meia-entrada).
A meia-entrada é válida para estudantes, pessoas acima de 60 anos, professores, doadores de sangue e portadores de necessidades especiais (PNE) e de câncer. Portadores do cartão fidelidade Disk Ingressos possuem 20% de desconto na compra de até dois bilhetes por titular. Já está incluso o valor de R$ 10 de acréscimo por bilhete referente à taxa de administração Disk Ingressos. É obrigatória a apresentação do documento previsto em lei que comprove a condição do beneficiário, na compra do ingresso e na entrada do teatro.
Os bilhetes podem ser adquiridos no site Disk Ingressos, na loja da empresa no Shopping Palladium (de segunda a sexta-feira, das 11h às 23h, aos sábados, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h), nos quiosques instalados nos shoppings Mueller e Estação (de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h) e no Call center, pelo fone (41) 3315-0808 (de segunda a sexta-feira, das 9h às 22h, e aos domingos, das 9h às 18h) e na bilheteria do Teatro Positivo.
A classificação etária é de 16 anos. Fãs com idade abaixo de 16 entram somente acompanhados dos pais ou responsáveis. A casa abre às 20h e o show começa às 21h15. O Teatro Positivo fica na Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, no Campo Comprido.
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