Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Divulgação
A banda curitibana Escambau carrega em sua obra a característica mais forte dos melhores artistas que a capital paranaense já produziu: criatividade. Dando sequência a esse legado, Giovanni Caruso (vocal, violão e baixo), Maria Paraguaya (vocal e percussão), Zo Escambau (guitarra e vocal), Yan Lemos (baixo, vocal e violão) e Ivan Rodrigues (bateria) acabam de lançar o EP “Eléctrico”.
No CD, o grupo reúne três canções com letras cantadas em espanhol (“Broma”, “Duro en mi coche” e “Eléctrico”) que poderiam tranquilamente fazer parte da programação diária de qualquer grande rádio do Brasil. “O ‘Eléctrico’ é fruto de um momento, como qualquer outro registro do Escambau. No meio da divulgação do ‘Sopa de Cabeça de Bagre’ (CD lançado em 2017), lá fomos nós para o estúdio gravar outro material. Captamos a energia de uma banda revigorada, que deu vida a um disco duplo de 20 músicas em meio ano e imprimiu essa energia em três bombas gravadas ao vivo! As músicas são em espanhol para expandir os horizontes e sair da zona de conforto. É a banda em sua melhor forma, tocando Rock’n’roll”, diz Yan.
A prova dessa inquietude artística é que o novo EP está sendo lançado menos de um ano após o mais recente álbum do grupo. “Sopa de Cabeça de Bagre” (2017) é um álbum duplo, com 20 faixas, outra atitude raríssima na era dos singles. “Ele seria um álbum simples, mas virou duplo no desenrolar da história. É aquilo de registrar o momento, loucura talvez, mas entramos em estúdio para gravar os lados C e D enquanto o A e o B estavam em mixagem. O Marcelo Crivano produziu conosco mais cinco ou seis músicas que, somadas às ‘sobras’ das primeiras sessões, formaram um disco duplo”, explica.
Em seus nove anos de estrada, além do novo EP, o grupo já tem quatro álbuns lançados, fato raro em relação às bandas curitibanas. “O Escambau nunca deixou de criar e registrou praticamente todas as fases da banda, na medida do possível. Vem mais por aí”, diz. A discografia do grupo ainda conta com os álbuns “Acontece nas Melhores Famílias” (2009), “Ordem e Progresso via Pão & Circo” (2011) e “Novo Tentamento” (2014).
Um caldeirão de influências
O som do Escambau mistura várias influências. É possível perceber as guitarras do rock inglês, a malemolência da música latina, os grooves do Funk e do Soul e a pegada do Rock. Porém, finalizar essa alquimia nas composições da banda não é uma tarefa simples. “Cada integrante vem de uma escola diferente. Acho que o resultado final do som vem disso. É uma química inexata, mas eficaz. No fim das contas, o som fica sempre com a cara do Escambau, mesmo que no disco existam diversas vertentes musicais”, diz.
Complementando a química, as letras do Escambau também chamam atenção porque costumam ser contundentes, sem meias palavras. “Para mim, as nossas letras são 50% do som da banda. Não importa o tema, elas sempre nos fazem olhar para dentro e refletir”, analisa.
Para finalizar o “pacote” do EP, as três músicas ganharam clipes muito bem feitos, o que vai de encontro ao mundo atual da música, no qual ter um bom produto audiovisual é essencial. “Clipes sempre foram uma marca da banda. Todos os nossos discos têm vários clipes. Os vídeos representam as eras da banda, mostram de onde viemos e a direção em que estamos indo. É essencial para o grupo, pois divulga a imagem e a imagem é importante, querendo ou não”, diz.
Na linha da urgência artística que faz parte do Escambau, os três clipes foram gravados no mesmo dia, em cinco horas de trabalho. “Só o Rapha (Moraes, diretor dos vídeos) pra topar essa. Fazer esse tipo de loucura é a cara do Escambau!”, diz.
Insano ou não, o Escambau vem deixando a sua marca em uma cena em que ser underground é, talvez, a grande característica. “Curitiba se desconhece, musicalmente falando. Seja qual for o estilo, está cheio de bandas boas fazendo som pela cidade. Sabemos que existe público, mas eu não sei dizer o motivo pelo qual ele não chega nas bandas e artistas do ‘underground’. Dizem que falta união dos artistas, que falta interesse da mídia. Quando eu era mais novo, não curtia a qualidade das gravações, o que me impediu por um tempo de gostar ou entender algumas bandas até vê-las ao vivo. Essa desculpa não existe mais nos dias de hoje, pois só não grava com qualidade quem não quer”, analisa. “Sei lá, nada acontece, mesmo tudo acontecendo. As bandas trabalham muito e merecem mais. De alguma forma, acho que o Escambau faz parte de uma resistência a esse cenário inerte”, finaliza Yan.
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