Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira

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O trio curitibano Sick Sick Sinners lança, nesta segunda-feira (7), seu novo EP. “Bloody Heritage” está sendo disponibilizado inicialmente nas plataformas digitais e, no dia 25, também será lançado em vinil.

O EP é composto por quatro faixas, sendo duas inéditas, uma regravação e uma versão para uma música da banda holandesa Cenobites. Esse é o quarto trabalho de estúdio de Vlad Urban (guitarra e vocal), Mutant Cox (baixo e vocal) e Orleone Recz (bateria e vocal) e marca uma retomada na trajetória recente do Sinners.

A mixagem do álbum chama bastante atenção. O ouvinte mais atento vai perceber que foram usadas algumas levadas de violão para encorpar as bases das músicas “Evil cave” e “Bloody heritage”. O recurso, que não é inédito na discografia da banda, foi utilizado com a intenção de tornar as gravações em estúdio mais próximas do que é apresentado ao vivo. “A gente já tinha usado violão em algumas faixas do primeiro disco do Sinners, o ‘Road of Sin’ (2008). A ideia de usar novamente veio com o objetivo de dar mais vivacidade à sonoridade mais ‘crua’ desse EP, por uma opção nossa. Queríamos um som mais orgânico, que aproximasse a zumbizada do que somos ao vivo”, diz Orleone.

Outra diferença em relação aos álbuns anteriores do grupo, “Road of Sin” (2008), “Hospital Hell” (2011) e “Unfuckinstoppable” (2014), são os vocais mais “limpos” em todas as faixas. “As linhas de voz foram pensadas também em razão desse direcionamento. Apesar de ter sido produzido em um curtíssimo período de tempo, o álbum foi muito bem planejado e pensado. Como o prazo foi curto, resolvemos fazer uma pré-produção direcionada aos detalhes, definindo como deveria soar cada elemento tendo como base a construção das músicas e a busca pela sonoridade que queríamos atingir. Trabalhamos as vozes para que somassem na agressividade proposta no conceito do EP”, explica.

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Retomada

A intenção da banda nesse momento é, de certa forma, retomar o seu caminho. “O EP surgiu de uma necessidade. Os últimos anos vêm sendo bem atribulados pra gente em relação ao trampo de cada um, às vidas particulares, e também com as outros projetos dos quais fazemos parte. Sabemos da importância do Sick Sick Sinners no contexto geral da cena latino-americana, mas a intensidade das atividades que nos cercam acabaram por reduzir a velocidade da banda. Agora era o momento de retomar o controle de tudo e recolocar o grupo na pista”, conta.

O novo álbum é uma peça-chave nesse processo de reconstrução. “Nós temos três discos lançados em CD e vinil, todos esgotados. Ficamos por muito tempo tocando as mesmas músicas nos shows e, mesmo surgindo a oportunidade de tocar em lugares onde nunca tínhamos feito shows, como o Paraguai e a Colômbia, precisávamos de uma renovação, um novo passo, iniciar um novo capítulo na nossa história. Foi aí que surgiu o EP”, diz.

Pensando em uma rápida retomada, como a produção de um álbum full, que, no momento, demandaria um tempo maior, o grupo optou por gravar o EP. “Decidimos lançar um registro curto e objetivo, com quatro faixas, sendo duas novas, trazendo uma proposta que deve se manter para o próximo disco”, explica.

Dessa forma, a banda se reuniu para um ensaio acústico na casa de Orleone, em Cananeia, interior de São Paulo, para construir os esqueletos das duas músicas novas. O trio também decidiu regravar a música “Bacon seed”, que sequer foi ensaiada antes da gravação, e fazer uma versão para “I think”, do Cenobites.

Na sequência, o grupo fez dois ensaios em Curitiba e, no dia seguinte, já iniciou a gravação do EP no Gramofone Studio. A urgência se deu porque o trio queria ter o disco pronto para os shows que farão nos Estados Unidos e no México, a partir do dia 25. “Montamos e timbramos a bateria no domingo à noite e, na segunda-feira, gravamos a parte instrumental. Na terça-feira, gravamos as vozes; na quarta-feira fizemos a mixagem e, na quinta, já tínhamos o EP finalizado e sendo enviado para a fábrica. O ‘Bloody Heritage’ é um retrato do Sick Sick Sinners atualmente. Acredito que a sonoridade que atingimos neste disco, assim como a construção das músicas, traça um novo horizonte para a banda porque incorpora mais influências nas músicas e abre um novo horizonte”, diz.

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As músicas

A instrumental “Evil cave” abre o álbum dando o clima sinistro que o Psychobilly exige. “Quando surgiu a ideia do EP, pensei em começar a escrever um novo capítulo para nós. Então, desenhamos um conceito que traria uma música instrumental como uma nova intro para os shows, uma música crua e direta que pudesse trazer diversos elementos e mostrar o nosso novo rumo”, diz.”Bloody Heritage” vem em seguida e, assim como e “Evil cave”, deve entrar no hall das melhores composições do Sick Sick Sinners. “São músicas que trazem todas as características tradicionais do Sinners. Elas possuem todos os elementos que construíram a nossa identidade, mas trazem um novo conceito na sua estrutura. Buscamos incorporar elementos que ainda não tínhamos utilizado nos discos anteriores, priorizando a agressividade e a intensidade que propomos ao vivo. Para mim, o foco estava em soar objetivo e direto sem ser simplório e em conseguir construir músicas com diversos detalhes que, mesmo assim, fluíssem de forma natural. No processo de criação, nós pensamos muito nas paradas e pequenos detalhes. Também procurei criar linhas de bateria que, embora sejam características do nosso som, também trouxessem algo novo, remetendo ao Psychobilly cru, ao Punk direto e/ou à intensidade e massa sonora de estilos como o Metal e Hardcore”, explica.

Já a versão para “I think”, do Cenobites, faz todo o sentido. Afinal, o quarteto holandêês tem uma ligação gigantesca com o trio curitibano. “O Cenobites talvez seja a nossa banda irmã. Desde os primórdios dessa união, que surgiu no primeiro Big Rumble, em 1997, houve uma empatia que se perpetuou em forma de camaradagem. Os caras gravaram a ‘Like a gasoline tank’, do Catalépticos, no álbum ‘Blue Fandango’ (2008), e desde o início sempre rolaram muitos shows juntos, muitos litros de cerveja e muitas histórias para contar”, conta.

Da amizade entre as bandas, surgiu a intenção de registrar uma versão para alguma música dos holandeses. “Sempre comentávamos entre nós que um dia teríamos de gravar uma música deles. Não sabíamos qual, mas tínhamos certeza de que deveria ser do primeiro 10″ deles (‘Tombstone Records Proudly Presents… The Cenobites’, lançado em 1997), que é uma unanimidade entre nós. Durante o ensaio acústico que fizemos no início do processo de criação do ‘Bloody Heritage’, ouvimos o disco e escolhemos a ‘I think’. Ela é uma pedrada que acabaria por se enquadrar também no conceito que estávamos buscando para o EP. Fizemos algumas pequenas alterações na estrutura da música e gravamos de bate-pronto. Acho que fizemos jus à versão dos caras”, conta.

“Bacon seed”, que originalmente faz parte do álbum “Unfuckinstoppable” (2014), agora com vocais em espanhol, encerra o EP. “A ‘Bacon seed’ foi uma música massa que ficou meio que flutuando no ‘Unfuckinstoppable’. Escrevi a letra com aquele sentido dúbio/sacana e acho que ela só foi tocada ao vivo uma vez. Várias vezes me perguntaram sobre quando a incluiríamos no setlist, mas ela não me parecia ‘pronta’ para isso, não sei te explicar porquê”, diz.

A capa do EP foi criada pelo artista plástico Son Keio Correa, de Paranaguá, que também é vocalista da banda Luz Vermelha. “Ele é um artista cabuloso. O ‘Bloody Heritage’ se criou de forma muito rápida, tomou forma e se solidificou praticamente sozinho, então, precisávamos que a arte acompanhasse todo esse conceito. Sabíamos que o Keio chegaria exatamente onde queríamos. Demos o nome do disco, explicamos o conceito da letra (que foi escrita pelo Peter Vogeli, baixista do Cenobites) e ele fez de bate-pronto”, conta. A foto da contracapa foi produzida pela Ernst Photography, de Curitiba, e o layout foi criado pelo próprio Orleone. “Como sempre, é um disco feito por amigos, o que o torna ainda mais especial”, diz.

No Brasil, o EP físico será lançado pela Neves Records em vinil 10″ e, nos Estados Unidos, o lançamento digital fica a cargo da Loveless Beat Records. Já na Europa, a Crazy Love Records, da Alemanha, lança o EP, provavelmente como um vinil 12″ que deve incluir alguma faixa bônus.

O resultado final deve marcar um novo cliclo na carreira do Sick Sick Sinners. “Acho que temos discos distintos entre si. O ‘Road of Sin’ trouxe uma nova proposta para uma banda que surgia após a dissolução do Catalépticos. Já o ‘Hospital Hell’, com a minha entrada, trouxe uma carga maior de ‘adrenalina’ para as músicas, e o ‘Unfuckinstoppable’ é bem mais Punk, chega a ser rude de tão cru. Acho que o ‘Bloody Heritage’ surge como um marco fundamental na nossa discografia, antecipando o que vem pela frente”, finaliza Orleone Recz.

O show de lançamento do EP será no dia 25 de maio, em Los Angeles. Na sequência, o grupo fará mais cinco shows nos Estados Unidos e no México. Na volta, o Sick Sick Sinners toca em Curitiba no dia 15 de junho, no 92 Graus e, depois, parte para uma tour pelo Brasil e América do Sul. “Estou conversando com o pessoal da Europa e analisando a possibilidade de realizar uma tour por lá no segundo semestre. O plano agora é voltar pra pista e arrepiar a zumbizada com uma patada de Psychobilly Maldito!”, finaliza Orleone Recz.