Texto: Marcos Anubis
Fotos: Pri Oliveira
No Xamanismo, assim como em várias outras manifestações espirituais, os ritos de fogo são usados para purificar as pessoas e os ambientes, iniciando um novo ciclo. Ao deixar as energias e experiências negativas para trás, o neófito inicia uma nova caminhada e começa a escrever uma nova história. É exatamente isso que a banda curitibana The Secret Society acaba de fazer ao lançar o álbum de estreia do grupo, batizado simbolicamente como “Rites of Fire”.
A banda é formada por Guto Diaz (baixo e vocal), Fabiano Cavassin (guitarra) e Orlandinho Custódio (bateria), três nomes experientes da cena musical da capital paranaense. Todos já passaram por grupos importantes que construíram a história da música em Curitiba, entre eles, o Epidemic e o Primal.
Agora, com mais de três décadas de trajetória, os integrantes da The Secret Society acreditam que conseguiram reunir todos os elementos musicais que estavam presentes nos outros projetos do trio. “Carregamos uma bagagem enorme e inúmeras influências musicais e artísticas, afinal, o cinema, a dança, o teatro, a literatura e a própria vida nos influenciam. Outro fator importante para chegarmos à sonoridade da TSS com naturalidade é o fato de não nos prendermos a nenhum estilo específico. Acho que é muito limitante impor um rótulo para um trabalho que consegue ter tantas influências, referências e nuances diferentes”, analisa Guto.
A estrada, além das lições na parte musical, também trouxe a consciência de que é preciso ser o mais profissional possível em todos os aspectos que envolvem a banda. Esse ensinamento, o grupo aprendeu ao pé da letra. “Profissionalismo foi a palavra chave quando tivemos as primeiras conversas antes de formar a Secret. A gente já passou por muita roubada no passado e decidimos que se fosse para voltar a tocar juntos, seria pra fazer um trabalho extremamente profissional, sempre pensando em entregar ao público um produto e um show com muita qualidade”, diz Guto.
Os ritos de fogo
A pré-produção de “Rites of Fire” começou em novembro de 2018 com a gravação ao vivo 17 músicas. Na sequência, a banda escolheu as nove faixas que fariam parte do álbum. A gravação aconteceu entre maio e agosto de 2019 no Nico’s Studio e no próprio home studio da banda, com produção do músico e arranjador Luciano Nunes e mixagem e masterização do baterista do Malta, Adriano Daga. “No estúdio, nós conseguimos chegar o mais próximo possível de como a banda soa ao vivo. A pré-produção ajudou muito nesse processo”, diz Guto.
Luciano Nunes também criou os teclados que adicionaram uma sonoridade ainda mais “macabra” ao som da Secret. “Os arranjos de sintetizadores, teclados e piano deram o complemento perfeito para dar à obra a sonoridade sombria que queríamos passar. Em alguns shows, nós conseguimos levar o Luciano para participar, mas não é sempre que a agenda permite”, explica Guto. A arte da capa foi desenvolvida pelo designer Alysson Pugas, usando como base algumas fotografias da fotógrafa Dani Durães.
Nas músicas do álbum, o grupo conseguiu retratar muito bem o clima soturno e enigmático das letras escritas por Guto. Aliás, a parte lírica das músicas da The Secret Society faz toda a diferença. “Considero as letras bastante importantes para complementar o clima e a sonoridade da TSS. Acredito que estou no meu melhor momento como letrista e vocalista. Não existe exatamente um processo pra isso acontecer, tudo tem saído com bastante naturalidade. Eu já não tenho o mesmo alcance vocal de dez ou vinte anos atrás, mas nesse novo trabalho eu consegui impor uma voz com muito mais melodia e com menos gritaria, apesar de ainda utilizar bastante o drive vocal nas horas que precisam ser mais agressivas. As minhas letras também não se limitam a nenhum tema específico e consigo abordar assuntos diversos”, explica Guto.
Uma das melhores músicas do álbum é “Chariots of the Gods”, que possui uma bela sequência melódica com variações dentro da própria canção. “Ela é uma das minhas preferidas do álbum! A composição se desenvolveu como normalmente acontece com a TSS: o Fabiano chega ao ensaio com uma ideia de riff e o Orlando em seguida já puxa um ritmo na bateria. Se eu não tenho nenhuma letra pronta, vou criando uma linha melódica e, a partir disso, a gente vai lapidando até chegar no resultado final. A letra aborda um tema bíblico relacionado às visões de Ezequiel. Ele está caminhando no deserto e vê uma enorme tempestade chegando, com nuvens carregadas se abrindo no horizonte. Então, uma carruagem de ouro aparece no céu com quatro criaturas espirituais incomuns que podem muito bem serem interpretadas como uma visita alienígena. Abdução? Arrebatamento?”, explica Guto.
Carreira internacional
Um exemplo do trabalho profissional que a The Secret Society vem procurando mostrar é a quantidade de shows de bandas internacionais dos quais o grupo tem participado, inclusive em outros países. “Esses shows têm sido marcantes por diversos fatores. Ver o profissionalismo e o trabalho de uma equipe internacional é uma verdadeira aula e aprendemos muito com isso. A convivência com os artistas tem sido tranquila, mas tudo é muito rápido também, não dá tempo para muita coisa. Os mais marcantes foram os dois shows que fizemos em Curitiba e São Paulo com o Dee Snider, uma lenda viva e um artista super acessível e com uma energia contagiante”, conta Guto.
Outro marco na ainda curta carreira da The Secret Society foi o show com o Europe em Potosí, na Bolívia, no dia 24 de setembro. “A viagem de carro de oito horas de La Paz até Potosí foi incrível! A paisagem é indescritível, mas também de muita miséria em meio a tanta beleza. Em Potosí, tivemos um tratamento muito profissional, com direito a coletiva de imprensa no museu Casa de La Moneda. Fomos recebidos e homenageados pelo alcade da cidade com a cunhagem de uma moeda de prata comemorativa, à maneira dos antigos colonizadores espanhóis. No dia seguinte, voltamos para La Paz e fomos convidados a assistir ao show do Europe com acesso aos camarins e ao palco. Mais uma vez, foi muito bom acompanhar o trabalho da equipe e da banda para entregar um espetáculo de primeira”, complementa.
Nesse giro pela América do Sul, a The Secret Society também testemunhou um momento histórico para o povo chileno. No dia 20 de outubro, a banda curitibana estava em Santiago, no Chile, para fazer a abertura do show da cantora finlandesa Tarja Turunen.
Porém, a apresentação acabou sendo cancelada por causa dos protestos contra o governo do presidente Sebastián Piñera. “Fomos pegos de surpresa ainda no aeroporto com as notícias dos protestos que começaram na sexta, mas conversamos com o produtor e a princípio estava tudo certo para o show. Só que, no sábado, as coisas tomaram um rumo diferente e os protestos ficaram ainda maiores, obrigando o governo a decretar toque de recolher. Chegamos ao aeroporto de Santiago às 20h e estava um verdadeiro caos. Indo para o hotel, vimos o estrago na cidade de Santiago, com várias barricadas ainda em chamas e o exército nas ruas. No dia seguinte, as coisas ficaram ainda piores e as manifestações tomaram outra proporção”, conta.
A partir daí, a banda curitibana passou a ser testemunha ocular da história. “Nosso hotel ficava ao lado de uma das avenidas principais de Santiago e pudemos presenciar a movimentação dos manifestantes. Recebemos a orientação para não deixar o hotel, mas decidimos conferir de perto os protestos. Eles aconteciam em vários pontos simultaneamente e a todo momento passavam muitos homens, tanques e caminhões do exército jogando jatos de água e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Foi uma pena o cancelamento do show, mas compreendemos a importância desses protestos e damos nosso total apoio. No início da turnê ‘Rites of Fire’, foi muito emblemático ter vivenciado esse momento histórico para o Chile”, complementa.
No show na Ópera de Arame, a The Secret Society vai apresentar boa parte do álbum “Rites of Fire’, além de algumas músicas que já fazem parte do repertório da banda. “A gente ainda vai preparar um show tocando o álbum na integra, mas isso será em um segundo momento. Para estes shows da turnê com o Sisters, vamos tocar várias músicas do ‘Rites of Fire’, mas não temos como deixar de fora do repertório outras faixas como a ‘Fields of glass’ ou a ‘The architecture of melancholy’, por exemplo”, finaliza Guto Diaz.
Serviço
O show da The Secret Society e do The Sisters of Mercy acontece na sexta-feira (8) na Ópera de Arame. Os ingressos custam: Plateia – R$ 280 (inteira) e R$ 140 (meia-entrada). Plateia Premium – R$ 380 (inteira) e R$ 190 (meia-entrada). Camarote – R$ 300 (inteira) e R$ 150 (meia-entrada). A meia-entrada é para estudantes, maiores de 60 anos, professores, doadores de sangue, portadores de necessidades especiais (PNE) e de câncer. É obrigatória a apresentação do documento previsto em lei que comprove a condição do beneficiário, na compra do ingresso e na entrada do teatro. Portadores do cartão Clube Gazeta do Povo têm 50% de desconto.
Os bilhetes podem ser adquiridos no site da Ticket Brasil, nas lojas Let’s Rock (Praça Tiradentes, 106, loja 3, Centro), Dr. Rock (Shopping Metropolitan, loja 4, Centro) e Túnel do Rock (Rua XV de Novembro, 74, Centro) e no bar Jokers (Rua São Francisco, 164, Centro).
A casa abre às 19h e os shows começam às 20h. A classificação é de 14 anos. Menores de oito anos entram somente acompanhados pelos pais ou pelo responsável legal. A Ópera de Arame fica na Rua João Gava, s/n, no Abranches. Ouça o álbum “Rites of Fire”, da The Secret Society.
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