Texto: Marcos Anubis
Fotos: Bruno Vaz e Daniel Gonçalves (capa do EP)

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A frase atribuída ao escritor russo Leon Tolstói, “fale de sua aldeia e estará falando do mundo”, se encaixa perfeitamente no trabalho da banda Cavalo Baio & Os Pinho, de Araucária (região metropolitana de Curitiba). Formado em 2009, o grupo absorve vários elementos musicais da região sul do país e da América Latina (como o Vanerão, o Chamamé e a Cumbia) e recria esses ritmos com uma pegada Punk, transformando essa mistura no que eles chamam de Punk Rock dos Pinheirais.

Dentro dessa linha de pensamento, Thiago de Oliveira (vocal), Daniel “Zinho” Inckot e João Dutra (guitarras), Maylon Terras (baixo), Paulo Prichla Sono (gaita) e Rodolfo Padilha (bateria) acabam de lançar o EP “Sweet Home Araucária”. Esse é o terceiro trabalho do grupo nos últimos cinco anos. Os anteriores foram a demo “Do Lado de Cá do Barigui” (2014) e o álbum “Punk Rock de Galpão” (2016).

A originalidade que os integrantes do Cavalo Baio e Os Pinho buscam nas composições e nas letras também se reflete no próprio nome do grupo. “Queríamos um nome que retratasse bem o que é a banda. No começo era apenas ‘Os Pinho’, de pinha mesmo (risos), mas estava faltando alguma coisa. O ‘Cavalo Baio’ foi uma sugestão de um ilustre espectador no nosso segundo show, em 2009. Esse nome também vem de um ponto turístico da cidade de Araucária, a Casa do Cavalo Baio”, explica Thiago de Oliveira.

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Punk Rock dos Pinheirais

“Sweet Home Araucária” foi gravado no Estúdio Fuzz, em Curitiba, com mixagem e masterização do produtor Davi Pacote. Aliás, o próprio nome do álbum é uma maneira de valorizar o habitat natural da banda. “É um trocadilho com a música ‘Sweet home Alabama’ (do grupo norte-americano Lynyrd Skynyrd) e também é para mostrar o local de onde viemos”, diz Daniel “Zinho” Inckot.

O EP é composto por seis faixas e, entre elas, uma das que mais se destacam é a música “Honra”, que aborda justamente a persistência e a vontade de continuar acreditando em fazer música. “A letra fala sobre continuar tocando e fazendo a diferença sem esperar e nem receber nada em troca”, explica Thiago. “E pelos que se cansaram e todos que já se foram, nós vamos cantar! E pelos que se cansaram e deram sangue por todos, nós vamos gritar, vamos continuar!”, diz a letra. “Honra” também ganhou um clipe que foi lançado em novembro.

No novo álbum, a banda de Araucária procurou direcionar o som ainda mais para o Punk Rock. “Nesse EP, ao contrário do CD anterior que tinha uma pegada mais na mistura com música regional, nós voltamos para o Punk Rock. São canções mais enxutas e diretas, com letras um pouco mais abrangentes, não tão regionais quanto nos outros trabalhos”, diz Daniel. “A qualidade da gravação, mix e master também ficou bem melhor e estamos mais satisfeitos com o resultado final. Foi uma produção mais rápida. Muitas músicas dos primeiros álbuns já existiam há muito tempo e dessa vez são apenas músicas novas”, complementa Thiago.

Retratos do cotidiano

Outra forma de retratar o ambiente no qual os músicos paranaenses estão inseridos é o direcionamento dos temas das letras das músicas do Cavalo Baio, que são baseadas em histórias e lendas da cidade de Araucária. “As nossas letras são sobre o cotidiano, sobre o que sentimos e onde vivemos. Elas trazem histórias e estórias e algumas podem conter ironia e viagem na maionese”, diz Daniel.

Porém, mesmo com a iniciativa de valorizar a terra na qual vivem, é claro que o grupo também enfrenta as mesmas dificuldades que todas as bandas autorais paranaenses são obrigadas a encarar. “Sempre foi difícil, mas agora é muito mais. O cenário pobre se reflete principalmente pela falta de renovação do público. Acho que boa parte do problema é o roqueiro que se acha ‘das antigas’, porque isso se tornou um tanto chato ultimamente. É um querendo ser mais ‘true’ do que o outro, ‘a minha banda é melhor do que a sua’, ‘eu só escuto música boa’, ‘Rock é cultura, não é igual a esses lixos que tocam na rádio’ e por aí vai”, analisa Thiago.

Essa postura de certa forma conservadora de parte do público, na visão da banda, prejudica o crescimento da própria cena. “Nós ouvimos muito essas são frases no meio da ‘cena’ e isso espanta o público jovem. A galera quer sair pra dançar, ficar bem louco, curtir o rolê e se divertir, não quer ninguém cagando regra, dizendo o que é bom ou não é. E sem renovação do público não tem show, não tem CD, não tem festa. Por fim, sobra só a galera “das antiga” que não tem muito interesse em coisa nova, apontando o dedo, criticando e pedindo pra tocar Raul”, finaliza Daniel.