Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira
Curitiba tem um histórico de grandes bandas de Heavy Metal. De Gory Host a Hecatombe, de Infernal a Imperious Malevolence, a capital paranaense sempre produziu grupos bons e originais. Na última sexta-feira (8) o público que chegou mais cedo ao show da banda alemã Grave Digger no Music Hall, pôde assistir ao Devil Sin fazendo a abertura da noite e confirmar que essa dinastia ainda rende frutos.
A formação atual do Devil Sin tem Kevan Gillies (vocal), seu filho Ian Axel Gillies (guitarra), Alex Padilha (baixo) e Luiz Mende (bateria). O som é definido pelo grupo como um Heavy Metal Old School com influências de Thrash Metal.
Na prática, as músicas da banda unem riffs bem construídos, baixo e bateria criativos e um vocal perfeito para o estilo, grave e bem postado. Kevan é inglês, nascido em Bolton, na Inglaterra, e por conta disso as letras das canções são cantadas de forma nítida, o que faz muito a diferença.
O show foi gravado por uma produtora e a banda vai produzir um clipe a partir dessas filmagens. “Vamos escolher a música em que o público estiver mais participativo”, disse Kevan no camarim, antes da apresentação. O setlist teve seis músicas: “Natural Born Killer”, “Hell To Pay”, “Time And Again”, “Dogs Of War”, “White Line Madness” e “New World Order”.
Três delas me chamaram a atenção de forma especial: “Dogs Of War”, “New World Order” e “Natural Born Killer”. Todas possuem riffs bem marcantes, pesados e refrões que te fazem querer aprender a letra da música.
Outro destaque no repertório do Devil Sin foi “White Line Madness”, apresentada por Kevan como uma música que fala do “maldito vício do pó”. Antes de tocá-la, o grupo fez o seu tradicional “ritual”, que consiste em abrir uma garrafa de whisky, passá-la entre os músicos e depois presentear a plateia com o artefato etílico. Não há necessidade de dizer que o “agrado” foi muito bem recebido e consumido pelo público.
O grupo teve alguns problemas técnicos durante a apresentação, quando a guitarra por algumas vezes sumiu durante as músicas. É preciso ressaltar a tranquilidade da banda para enfrentar esses clarões no meio das canções e principalmente de Ian, que em nenhum momento se desconcentrou e parou de tocar, mesmo com esses imprevistos.
Os planos para o futuro da banda
A Devil Sin tem cinco demos gravadas e está se preparando para registrar outras músicas daqui a dois meses. “Em julho nós entraremos em estúdio novamente para gravar três demos. Por enquanto nós faremos uma coisa bem independente”, explica Kevan.
Com o material em mãos, a banda pretende usá-lo para inicialmente divulgar o seu trabalho. “Nós vamos produzir os nossos próprios CDs. Distribuiremos eles gratuitamente nos nossos shows ou vamos vender a preço de custo para aqueles que quiserem investir um pouco. Esses são os nossos planos para este ano”, explica o vocalista.
A dificuldade das bandas, no século 21, não é necessariamente gravar. Essa é uma realidade que cada vez mais vai se cristalizando. Hoje é possível produzir um CD até no seu computador pessoal. O grande problema é distribuir, fazer com esse material chegue até o público. “Antigamente existiam as gravadoras, não que hoje ela não existam, mas era mais definido. Então se você conseguisse alcançar uma delas já poderia ter a certeza de que a banda iria alcançar um público. Hoje você grava, coloca na Internet e a música está lá para todo mundo ver, ou também não ver. Então é preciso ter uma boa publicidade”, opina Ian.
Passado esse período de divulgação, em 2016 o grupo pretende gravar um EP com ao menos 8 músicas e tentar firmar uma parceria com uma distribuidora que o coloque nas lojas para a venda.
Mais de três décadas de experiência no cenário musical curitibano
Apesar de ter sido formada em 2013, a história de dois dos músicos do quarteto remonta ao final dos anos 1970, início da década de 1980.
Kevan foi vocalista daquela que é considerada a primeira banda Punk de Curitiba e talvez do Brasil, a Carne Podre. Luiz também participou de vários grupos com estilos diferentes, do Hard Rock ao Pop, e está tendo a sua primeira experiência com uma banda de Metal.
Com conhecimento e bagagem para avaliar a evolução do cenário musical da cidade desde os anos 1970, Kevan acredita que a evolução não foi muito significativa. “Eu fiquei um tempo parado e voltei há uns cinco anos. Honestamente, não mudou nada. É difícil arrumar lugares para tocar. Obviamente o mercado é maior e o pessoal do underground tem trabalhado bastante”, diz.
Mesmo assim, o vocalista vê pontos positivos, principalmente em relação à produção. “Apareceram empresas como a Damar Productions que promovem shows e trazem bandas de fora. Então nesse aspecto ela tem crescido”, complementa.
Um grande aliado na divulgação do grupo é o fato de o Devil Sin ter conseguido se apresentar ao lado de atrações nacionais e internacionais. “O que nós temos tentado fazer para conquistar fãs é abrir para bandas internacionais. Ali nós temos oportunidade de mostrar o nosso trabalho para um grande número de pessoas de uma forma mais fácil”, explica Kevan. No próximo dia 26 de junho o grupo fará a abertura do show do Angra, no Vanilla Music Hall.
E dentro dessas aparições em shows de nomes conhecidos, é fundamental que o público curitibano entenda e apoie os grupos locais nessas ocasiões. Kevan acredita que atualmente existe um pouco mais de boa vontade em relação aos artistas da cidade. “Hoje o público é mais participativo. Antigamente as pessoas ficavam mais de braços cruzados, analisando. Hoje eles te dão uma música para ‘experimentar’ e, se gostarem, eles vão no teu embalo”, analisa.
Na visão de Luiz, a própria segmentação de certos estilos musicais é uma barreira a mais para o artista conseguir se destacar. “Hoje é muito complicado você conseguir entrar em um estilo direcionado, como é o Heavy Metal, por exemplo. O próprio Rock/Pop no Brasil está meio morto porque só rolam outras coisas. Sem desmerecer ninguém, mas é um mercado complicado, diferente”, analisa.
Mesmo assim o baterista afirma que não existem fórmulas mágicas e instantâneas. A palavra de ordem é uma só: esforço. “Eu acho que todo mundo tem o seu espaço, depende de trabalho. Música é 95% de trabalho e 5% de inspiração. É preciso conquistar espaço e abrir caminhos. Você pode fazer algo para 20 milhões de pessoas ou para duas mil, depende da forma como você trabalha isso”, complementa.
Alex também encara essa realidade com otimismo. “Tocar para um público tão restrito é um desafio, mas também é uma oportunidade. Tem muito espaço para conquistar, principalmente em Curitiba, que não tem essa tradição de ter bandas locais e uma história de Metal. É uma oportunidade de conquistar esses fãs fiéis”, opina.
Com quatro décadas de estrada, Kevan não se intimida com um desafio que sempre esteve presente em sua vida como músico. “O trabalho das bandas autorais em Curitiba sempre foi difícil e provavelmente continuará sendo assim”, arremata.
Cabe aqui um elogio ao trabalho do produtor Hamilcar Zaim e sua Damar Productions. Ter bandas locais abrindo shows de grandes nomes do Heavy Metal internacional é de extrema importância não só para esses grupos, mas para toda cena curitibana. Dessa forma o público da cidade pode ir conhecendo o trabalho dos artistas que batalham herculeamente para se manterem na ativa na capital mundial dos covers. É com atitudes como essa que será possível, paulatinamente, mudar a realidade da música local.
Confira nosso álbum de fotos e três músicas do show: “Dogs Of War”, “New World Order” e “Natural Born Killer”.
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