Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Gustavo Garrett

Faulkner e Halford, juventude e tradição no Judas Priest. (Foto - Gustavo Garrett)

Faulkner e Halford, juventude e tradição no Judas Priest




Não se trata da vinda daquele que muitos acreditam que salvará a humanidade. Esse, se vier, terá muito trabalho. Nosso assunto é música e nela o vocalista do Judas Priest, Rob Halford, carrega o pseudônimo de Deus do Metal. E como líder de seus súditos metálicos, ele não decepciona. O Judas foi a segunda banda a tocar na Monsters Tour, que aconteceu na última terça-feira (28) na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba e, na minha modesta opinião, fez o melhor show da noite.

Das três apresentações, o palco do Judas foi o que mais demorou para ser montado. Após a espera, Rob Halford (vocal), Glenn Tipton e Richie Faulkner (guitarras), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) iniciaram a aula de Metal com “Dragonaut”, que abre o álbum “Redeemer Of Souls”, lançado no ano passado.

O visual de Halford sintetizava perfeitamente o que é o Heavy Metal, e não de uma forma oportunista, pois ele sempre se apresentou assim. Vestido com calça e jaqueta de couro, cravejadas com peças de ferro, usando um quepe também de couro e completando seu look com uma bengala, o vocalista preserva as origens de um estilo que nasceu para transgredir.

Em seguida o gigantesco telão do palco da Pedreira foi tomado por raios e trovões. Quando o marcante riff de “Metal Gods” começou a soar na Pedreira, até o mais velho fã da banda não teve como segurar as lágrimas. A explicação é simples.

Hinos podem expressar vários sentimentos e verdades. A “Marselhesa”, por exemplo, ressalta a luta dos franceses por um país mais igual. Hinos religiosos procuram exaltar a comunhão dos homens com seus deuses. No Heavy Metal, hinos são canções que por algum motivo se tornaram sinônimos do estilo. O Judas Priest possui várias dessas pérolas.

Uma delas é “Breaking The Law”, que foi recebida com entusiasmo pelo público. A canção retrata a difícil realidade dos trabalhadores ingleses no final dos anos 1970, início da década de 1980. “O futuro dourado não foi como esperava. Eu não posso mesmo começar. Eu tive todas as promessas quebradas e há raiva em meu coração”, diz a letra. Como súditos fiéis, o público entoou sem medo o refrão de uma das canções mais emblemáticas do Metal.

Demarcado o território, Halford perguntou antes de “Devil’s Child”: “Olá, pessoal. O Priest está de volta. Estão todos prontos para o Heavy Metal do Judas Priest?”, disse. Quem poderia discordar?

Os shows do Judas sempre têm um momento tradicional que é esperado pelos fãs. Quando o telão começou a exibir imagens de peças de motos, após “Breaking The Law”, o ronco da Harley Davidson ecoou na Pedreira. Halford entrou no palco pilotando a máquina enquanto Tipton e Ritchie tocavam o inconfundível riff de “Hell Bent For Leather”.

Essa ligação entre um artista e os que gostam de seu trabalho é muito presente em alguns segmentos musicais. Historicamente o Heavy Metal é o estilo onde existe a maior identificação entre os fãs e seus ídolos. Diferente de outros gêneros musicais onde os artistas vêm e vão meteoricamente sem deixar nenhum legado, a maioria das bandas do gênero possui décadas de carreira e dezenas de álbuns lançados. Algumas, porém, ultrapassam essa sinergia. É o caso do Judas.

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Halford, sinônimo de Heavy Metal




O desafio de Faulkner

Confesso que tinha um pé atrás em relação ao “novo” guitarrista da banda, Richie Faulkner. É óbvio que substituir K. K. Downing, que saiu do Judas no começo de 2011 em circunstâncias ainda nebulosas, seria difícil para qualquer um.

Durante 42 anos, Downing e Glenn Tipton formaram uma das mais criativas duplas de guitarristas da história do Heavy Metal. Riffs e duetos em canções como “Breaking The Law” e “Victim Of Changes” são marcas não só da banda, mas de todo esse gênero musical que arrebata milhões de fãs em todo o mundo.

Mas o que vi ao vivo mudou a minha opinião. O guitarrista se encaixou perfeitamente à banda não só tecnicamente, mas também no comportamento do grupo no palco. Richie, que tem “apenas” 35 anos em comparação com os sessentões da banda, passou o show todo bem perto da beira do palco, olhando para o público, pedindo a participação dos fãs e distribuindo palhetas.

Nos solos das músicas, um fato chamou muito a atenção. Em todos eles o guitarrista Glenn Tipton recuava para perto da bateria e deixava seu companheiro solar sob os holofotes. Isso se chama humildade e respeito.

“The Hellion” e Eletric Eye” vieram em seguida, preparando o grand finale. “Vocês querem mais uma? O que querem ouvir?”, perguntou o baterista Scott Travis. A resposta do público foi dada em uníssono: “Painkiller!”.

“Living After Midnight” fechou uma apresentação mágica que sintetizou o que é Heavy Metal e o que significa a conexão entre banda e público. Se os profetas nos dizem que Deus voltará, um dia, nós curitibanos podemos ter o orgulho de dizer que Ele já esteve entre nós.

Confira três vídeos do show: “Metal Gods”, “Breaking The Law” e “Devil’s Child”.

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