Texto: Marcos Anubis
Tradução: Vlad Urban (português/inglês) e Kika Von Kluck (inglês/português)
Fotos: Pri Oliveira e divulgação (capa do álbum)

Em uma entrevista exclusiva para o Cwb Live, o vocalista do Alice in Chains fala sobre o primeiro trabalho solo e sobre a carreira ao lado de um dos maiores nomes da história do Grunge

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Esquecer a cômoda posição de vocalista em uma das maiores bandas do mundo para encarar um projeto solo é um ato de coragem. Afinal, as canções que esse artista começará a apresentar ao público ainda não são (e podem não se tornarem) os grandes sucessos com os quais o público já está acostumado. nesse tipo de situação, o nível de exigência dos fãs obviamente será grande porque tudo que é novo no meio musical normalmente demora a ser absorvido.

Além de todas essas questões, a atitude de apostar em um novo formato musical se torna ainda mais inusitada quando um artista do mundo do Rock deixa para trás o peso das guitarras e lança um trabalho inteiro que reúne canções gravadas somente com voz e violão.

William DuVall álbum



“One Alone”

É exatamente isso que o vocalista do Alice in Chains, William DuVall, acaba de fazer. No dia 4 de outubro, ele lançou o álbum “One Alone”, o primeiro trabalho inteiramente solo de William em 35 anos de estrada. “São muitos e muitos anos gravando discos com bandas e tudo que eu tenho feito é um Rock’n’roll agressivo, elétrico. Isso tanto no começo, nos primórdios do Punk Hardcore no início dos anos 1980, ou com o Comes With the Fall e o Alice In Chains”, diz William DuVall.

O Comes With the Fall é a banda de William DuVall montou em 1999 na cidade de Atlanta com Adam Stanger (baixo) e Bevan Davies (bateria). O grupo lançou dois álbuns de estúdio, Comes With the Fall” (2000) e  “The Year is One (2001), e um ao vivo, “Live 2002” (2002).

Para sair um pouco dessa zona de conforto construída ao lado de uma banda que é conhecida mundialmente, William decidiu partir para um formato radicalmente diferente de tudo que ele havia feito até hoje. “A guitarra acústica pode ter sido um elemento em algumas daquelas músicas (com as outras bandas), mas eu nunca fiz nada como o álbum ‘One Alone’ no qual tudo é acústico, só com violão e voz do início ao fim. Então, eu senti que depois de 35 anos fazendo basicamente versões diferentes de música pesada, era a hora de uma mudança completa”, complementa.

No álbum, dentro do formato voz e violão, as letras e a interpretação construídas por William para cada uma das onze faixas acabaram se tornando muito mais evidentes. O fio condutor, em todas as canções, é a melancolia e o lirismo.

“One Alone” foi gravado em dois estúdios na cidade de Atlanta e produzido pelo próprio William. “Eu produzi todos os discos que fiz desde 1995, exceto os que eu gravei com o Alice in Chains. Produzi todos os álbuns do Comes With The Fall e todos os projetos dos quais eu participei, até álbuns que eu fiz com outras bandas. É uma coisa que eu gosto de fazer”, diz.

Em “One Alone”, a intenção de William, ao que parece, é transmitir o máximo possível de autenticidade às performances. “Oito músicas do álbum foram gravadas em um dia e as outras basicamente em uma noite. Foi um processo bem direto, capturando as performances ali, no momento”, conta.

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A entrada no Alice In Chains

O Alice in Chains é, até hoje, uma das bandas mais cultuadas do movimento Grunge. Ao lado do Soundgarden, do Pearl Jam e do Nirvana, o AIC formou o “quarteto fantástico” de Seattle que transformou o mundo da música no início dos anos 1990.

Em 15 anos de história, o grupo criou álbuns essenciais, como “Facelift” (1990) e “Dirt” (1992). Muito dessa genialidade do Alice in Chains vinha do vocalista Layne Staney, que morreu tragicamente em 2005 devido a uma overdose.

Quando uma banda perde um vocalista tão marcante quanto Layne, raramente ela consegue seguir em frente. O AIC é um caso raríssimo de um grupo que conseguiu encontrar outro frontmen e construir uma nova história a partir daí, sem perder a conexão com o passado.

William entrou oficialmente no Alice em 2006, mas a relação de amizade e respeito de DuVall com o guitarrista do Alice in Chains, Jerry Cantrell, começou antes da entrada do vocalista no AIC. “No ano 2000, eu tinha acabado de me mudar para Los Angeles e o Cantrell foi uma das primeiras pessoas que eu conheci ao chegar em L.A.”, conta.

Naquele período no qual o Alice in Chains estava tentando se recuperar após a morte de Layne, William foi para Los Angeles para buscar um upgrade na carreira do Comes With the Fall. Foi quando a conexão com Jerry se estabeleceu de maneira duradoura. “Ele estava ficando bastante por lá (Los Angeles), amava a nossa banda e estava com a gente o tempo todo. Desde o momento em que o Jerry ouviu o nosso primeiro álbum, ele quis me conhecer. Então, a gente se encontrou em L.A. e, daquele momento em diante, nos tornamos basicamente inseparáveis”, complementa.

Dessa admiração mútua, começaram a surgir as parcerias. “Ele tocava com a gente toda vez que o Comes With the Fall se apresentava em Hollywood, As pessoas até pensaram que ele tinha entrado para a nossa banda”, diz.

Então, quando Jerry estava lançando o álbum “‘Degradation Trip” (2002), o segundo trabalho solo da carreira do então ex-Alice in Chains, Wiliam recebeu o convite para participar da tour. “Ele precisava promover o CD e pediu para o Comes With The Fall fazer a turnê com ele. Nós viajamos com o Jerry durante dois anos pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido também”, revela.

Nesse período, William e o Comes With the Fall faziam essencialmente uma jornada dupla de trabalho. “A gente tocava o set do Comes With The Fall e voltávamos para o camarim para descansar um pouco. Na sequência, já voltávamos novamente ao palco com o Cantrell para tocar as músicas do ‘Degradation Trip’ e também músicas do Alice”, complementa.

Desde o início, DuVall e os remanescentes do AIC sabiam que as comparações com Layne seriam inevitáveis. “Quando a gente decidiu reviver o Alice in Chains, é claro que existiam muitos desafios, mas eu simplesmente continuei a ser eu mesmo. É a única coisa a se fazer em uma situação dessas e você tem que deixar as coisas rolarem naturalmente”, conta.

Porém, de maneira até mais rápida do que a banda certamente esperava, a nova formação do grupo foi muito bem aceita pelos fãs. “Eu acho que as pessoas entenderam rapidamente que algo muito genuíno estava acontecendo no palco quando eu estava ali com o Cantrell, o Kinney (baterista) e o Inez (baixista). Conhecendo essa história ou não (a amizade de DuVall e Jerry), elas conseguiram enxergar que estava acontecendo algo muito real. Daí, quando as pessoas começaram a conhecer a história que nos levou até ali, elas rapidamente entenderam. É claro que algumas já sabiam e, para elas, tudo fez sentido perfeitamente”, diz.

Alguns desses fãs, inclusive, já perceberam já naquela época que William poderia fazer um bom trabalho com o Alice in Chains se a banda resolvesse retomar as atividades. “Algumas pessoas que viram o Comes With The Fall tocando com o Cantrell em 2001 e 2002 pensaram ‘ah, meu Deus, esse cara seria perfeito’! Eu recebi muitas cartas e até hoje os fãs vêm falar comigo para dizer: ‘eu vi você no Arkansas no ano 2000 e eu disse ali mesmo, ‘ai meu Deus, seria muito legal se… Eu sabia que isso ia acontecer’! Rola esse tipo de coisa. Então, são vários níveis de opiniões, mas tudo o que você pode fazer é ser você mesmo. As pessoas vão falar o que elas quiserem, mas eu fico feliz ao ver que elas aceitaram assim, especialmente em países como o Brasil. Isso é realmente maravilhoso!”, conta.

Todas essas histórias mostram que, quando entrou para o AIC, DuVall já estava muito bem preparado para enfrentar esse desafio. “Na verdade, eu comecei a cantar as músicas do Alice in Chains em 2001, 2002. Aconteceram muitas coisas antes que me levaram para o que rolou a partir de 2006”, diz.



A relação com o Brasil e as lembranças do show na Pedreira Paulo Leminski

Em 2020, com a já crescente repercussão do lançamento de “One Alone”, William pretende incluir algumas cidades brasileiras na turnê do álbum. “Eu definitivamente vou ver se consigo ir ao Brasil para fazer uma pequena turnê! Eu realmente adoraria fazer isso! O Brasil é um dos meus países favoritos para tocar!”, diz.

E o sentimento dos brasileiros em relação a DuVall é o mesmo. Em 2018, por exemplo, o Alice in Chains se apresentou em Curitiba pela primeira e única vez até hoje. Naquela ocasião, o público lotou a Pedreira Paulo Leminski para assistir aos shows do AIC, do Judas Priest e do Black Star Riders. Leia a cobertura do Cwb Live neste link.

No show do Alice, a maneira com que o público curitibano recebeu a banda e cantou todas as músicas foi realmente muito especial. “Foi ótimo! Como sempre, tocar no Brasil é muito legal! Eu não sabia muito sobre Curitiba, especificamente, mas eu posso acreditar com certeza (que o AIC tem muitos fãs na capital paranaense), baseado na recepção que tivemos do público. É sempre fantástico tocar no Brasil. Nós sempre fizemos shows incríveis em São Paulo, no Rio e nesse dia em Curitiba! Sempre! Eu quero muito voltar!”, finaliza William DuVall.

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