Samba? Sertanejo “universitário”? “Funk” carioca? Há mais de uma década, graças ao Psycho Carnival, o curitibano encontra uma opção para fugir do lugar comum no Carnaval brasileiro. A 15º edição do festival que é reconhecido como um dos mais importantes do cenário psychobilly mundial começa nesta sexta-feira no Jokers Pub e terá algumas novidades.
A importância do Psycho Carnival para a cena curitibana
A cena psychobilly de Curitiba é a mais forte e organizada do país. Esse cenário, porém, não surgiu da noite para o dia. Ele é fruto de muito trabalho dos produtores, bandas e do público psycho. De acordo com o baterista do 99 Noizagain, Neri, a importância do festival curitibano vai além das fronteiras da capital paranaense. “O Psycho Carnival é fundamental para a cena brasileira e sul-americana, porque uma cena se cria em torno de algo, um local, um festival ou algo relevante”, diz.
O festival atrai pessoas de todo o mundo e sempre reúne, além da cena local, alguns dos mais importantes nomes da história do psychobilly. “O Carnival foi um evento precursor no Brasil, um festival que conseguiu atrair público de fora de Curitiba. No final dos anos 90 o Psychobilly Fest já começava a fazer isso, mas o Carnival, talvez por ser no feriado nacional mais longo, criou corpo mais facilmente. No começo foi bem importante. Várias bandas novas surgiram (inclusive os Chernos, que é de 2001), bem como um público fiel e apaixonado pelo psychobilly”, diz o vocalista do Chernobillies, G-Lerm.
Mas não são só os veteranos que reconhecem a importância do Psycho Carnival. O baterista da Movie Star Trash, Matheus Moro, também ressalta o significado do evento. “O festival sempre foi uma oportunidade pra gente e para a maioria das bandas da mesma época tocar para um público maior e interessado em ouvir o que você tem pra dizer. Hoje, muita gente vem de fora já sabendo o que vai encontrar em um Carnival, e é pra esse pessoal que a gente gosta de tocar”, diz. A Movie Star Trash, que deve lançar um novo CD até o fim de 2014, vai se apresentar no festival pelo segundo ano seguido.
Se hoje a cena psychobilly curitibana é forte e bem estruturada, a consolidação do Psycho Carnival como um festival de porte internacional contribuiu sensivelmente para que isso acontecesse. “Foi assim com o punk rock nos Estados Unidos com o CBGB, e no surgimento do psychobilly, que tinha o Klub Foot. O Psycho Carnival é o nosso porto seguro. Não consigo acreditar que teríamos uma cena sólida e atuante sem a continuação deste festival”, afirma Neri.
As novidades dessa edição
Neste ano uma parceria ainda maior com a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), que sempre apoiou o evento, permitiu que fossem realizados shows gratuitos no estacionamento da Câmara Municipal de Curitiba, na Praça Eufrásio Correia em frente ao Shopping Estação. “Este ano promete ser uma edição especial. Além de ter a opção do Curitiba Rock Carnival, o festival gratuito que acontecerá de dia com várias bandas bacanas, ainda teremos no Jokers o Psycho Carnival propriamente dito, focado na cena psychobilly e com diversas bandas incríveis”, diz Neri. No Curitiba Rock Carnival também se apresentarão bandas fora do circuito psychobilly, como o tradicional grupo curitibano Beijo AA Força e o Motorocker, um dos grandes nomes da atual cena rock and roll brasileira.
No ano passado os shows do Psycho Carnival foram realizados no Espaço Cult. Neste ano os três dias de shows acontecerão no Jokers Pub. “Eu acho o Jokers um lugar perfeito para o evento e vai ser incrível encontrar todos os amigos e bandas ali novamente, mantendo a tradição do festival em sediar o ‘meeting’ da rapaziada. O 99 Noizagain é uma banda que surgiu dessa união, dessas amizades que temos. Nós subiremos ao palco para pregar fogo na bugrada com nosso dust rock alto e barulhento”, afirma Neri. A estreia do grupo, inclusive, foi na edição do ano passado. “Eu, o Coxinha (Sick Sick Sinners/Hillbilly Rawhide) e o Davizério (Kráppulas) nos unimos com o objetivo de tocar algo que realmente gostamos e a banda fluiu naturalmente. Como o festival sempre foi nosso ponto de encontro, foi mais do que natural estrear neste palco”, relembra.
A expectativa
A 15º edição do festival terá dois shows particularmente esperados. O primeiro é o da banda inglesa King Kurt. “Desde o começo a gente foi inspirado na zoeira que eram os shows do King Kurt, por isso também estamos ansiosos pra vê-los tocando no Brasil. Acho que vai ser o ponto alto do festival”, opina G-Lerm. O segundo é o da também britânica The Sharks. “Acredito que o show do Sharks vai surpreender muita gente nova aí que ainda não entendeu bem o que é o psychobilly. Será uma puta aula de uma das primeiras bandas da cena mundial. O Sharks é sensacional. É malvado sem precisar tocar pesado. É uma maldade refinada com requintes de crueldade. Muita gente vai chorar”, recomenda o vocalista do Chernobillies.
A programação noturna do Psycho Carnival terá quatro shows por noite no Jokers Pub. A Festa do esquenta, que acontece hoje no Jokers Pub abrindo a edição deste ano, terá as bandas curitibanas Sick Sick Sinners, Chernobillies, 99 Noizagain e Movie Star Trash. “Essa é uma edição diferente, mas promete ser bacana. O Chernobillies ficou um tempo de ressaca, mas está de volta à ativa. Vamos fazer um show com várias músicas já conhecidas, quase todos os ‘hits’ devem rolar, bem como toda a bagunça que a banda fazia e andou esquecida por um tempo”, revela G-Lerm.
O público e as histórias
A expectativa é de que o Jokers Pub esteja lotado nas três noites do festival. G-Lerm ressalta a importância do público que prestigia o Psycho Carnival, principalmente os que acompanham o cenário psychobilly com mais frequência. “Com o crescimento do festival, apareceram muitos foliões perdidos, que só estão ali porque não conseguiram ir pra praia. Isso faz volume, mas não agrega em nada ao psychobilly em si. Mas aquele público fiel e apaixonado também está lá, alguns desde o primeiro show da banda, e isso é muito legal”, analisa.
Toda banda e todo festival possuem seus momentos folclóricos, que são recontados a cada edição, acrescidos de novos “detalhes”. Após 14 anos de shows antológicos, não são poucas as histórias acumuladas pelos artistas. “A gente sempre fez muita zoeira, jogava coisas no público, espuma, farinha, confete, serpentina, pinga e o que mais aparecesse. Isso já fez com que virássemos ‘personas non gratas’ em alguns lugares. Mas a maioria entendia e com o tempo esse público começou a levar seus próprios pacotes de farinha para jogar no show”, conta G-Lerm.
o vocalista relembra um dos momentos épicos do Chernobillies. “Teve um festival em especial, não lembro se era um Carnival, em que o dono do estabelecimento só queria deixar a gente ir embora depois que varrêssemos o palco e o bar. Claro que a gente deu um jeito de escapar dessa, mas hoje em dia a gente tenta maneirar na bagunça pra não zoar o estabelecimento. Então podem marcar shows do Chernobillies, sem medo”, brinca.
A expectativa de organizadores, bandas e público, é de que essa seja mais uma edição histórica do Psycho Carnival. Se o Rio de Janeiro recebe milhares de turistas para os desfiles das escolas de samba cariocas no Sambódromo, Curitiba é invadida por foliões diferentes, que chegam em busca do mais tradicional e popular ritmo do mundo, o rock and roll. “Já estamos na 15ª edição do festival, sendo assim é um evento que deu certo e a cada ano tem ficado melhor. Achamos que, para Curitiba, ele é de vital importância cultural e do ponto de vista turístico também é muito importante. O festival já não faz parte só do cenário nacional de psychobilly, ele é conhecido mundialmente e isso faz com que a gente sinta orgulho da nossa cidade”, finaliza Matheus. Leia neste link a entrevista de um dos organizadores do festival, o músico Vlad Urban, e saiba a programação completa do evento.
Confira o vídeo de divulgação do festival e duas músicas da edição 2013 do Psycho Carnival: “West Dickens” do Movie Star Trash e “Hospital Hell” do Sick Sick Sinners.
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