A banda americana Dinosaur Jr. se apresenta no próximo dia 2 de agosto no festival Converse Rubber Tracks Live, que acontecerá no Cine Joia em São Paulo. Prestes a desembarcar no Brasil pela segunda vez em suas mais três décadas de carreira, o baterista do Dinosaur Jr., Murph, concedeu uma entrevista exclusiva ao Cwb Live falando sobre a história de um dos precursores do rock alternativo americano.
J Mascis (guitarra e vocal), Lou Barlow (baixo) e Murph (bateria) são um dos mais puros representantes do que é denominado desde os anos 1980 como rock alternativo ou indie rock. A banda foi formada em 1984 e lançou o seu debut, “Dinosaur”, no ano seguinte. Em 1988 o trio passou a se chamar Dinosaur Jr. O motivo foi um processo judicial reivindicando o nome que foi movido pela banda The Dinosaurs. O grupo acusador tinha entre seus integrantes o baterista Spencer Dryden e o baixista Jack Casady, ambos do Jefferson Airplane. O primeiro disco após o novo batismo foi “Bug” (1988), lançado pela SST Records.
O Rock alternativo
Durante a década de 1980 e meados dos anos 1990 o termo “alternativo” era usado para denominar bandas que não estavam no mainstream da cena musical da época e faziam um som que fugia do lugar comum. Nomes como Sonic Youth, God Machine e Pavement faziam parte dessa lista, e o Dinosaur Jr. certamente era um dos grupos que tinham um trabalho mais original, mesclando melodia, peso, distorção e descaso em relação à regras e fórmulas pré-determinadas.
Hoje esse conceito se vulgarizou. Qualquer banda é considerada alternativa, esteja ela atrelada ou não a uma grande gravadora. “O termo rock alternativo foi expandindo o seu significado desde os anos 1980 para incluir um gênero maior da música. Eu ainda gosto muito de pensar que o verdadeiro significado ainda está na sua origem”, diz o baterista.
Alheio aos modismos, o Dinosaur Jr. sempre navegou em direções diferentes, fugindo da maré vigente. Recusando qualquer rótulo que os prendesse a algum estilo, o trio lançou álbuns essenciais como “Where You Been” (1993”) e “Without A Sound” (1994), trabalhando com grandes gravadoras, como a Siren, e de forma independente. Nas duas perspectivas o grupo conseguiu manter a sua liberdade criativa, o que é um fato raro. “Tivemos a sorte de não comprometer a nossa música durante o nosso caminho , independentemente da gravadora em que estamos, e o J sempre procura ter certeza disso. Nós sempre tivemos a nossa liberdade artística livre”, afirma Murph.
Além da originalidade de suas canções, o trio também chama a atenção pela criatividade das artes de seus álbuns, como a de “Green Mind” (1991). A foto da capa é do fotógrafo americano Joseph Szabo e mostra uma adolescente fumando um cigarro em uma praia, com um olhar distante. “A capa foi tirada de um livro do Joseph Szabo. J encontrou essa imagem e decidiu que seria uma grande capa. Todos nós gostamos dela”, revela.
A importância da parte visual nos álbuns do Dinosaur Jr. realmente parece ser uma preocupação do trio. Elas são, de certa forma, uma extensão do que o ouvinte encontrará no CD. “Eu acho que nos aproximamos da música como arte e por esse motivo as capas de nossos álbuns refletem isso. O J tem uma imaginação muito criativa”, explica Murph.
Bravo mundo novo
Obviamente, muita coisa mudou na indústria musical durante os mais de 30 anos de estrada do Dinosaur Jr. Hoje, ao mesmo tempo em que oferece a possibilidade de alcançar de forma instantânea milhares de fãs em todo o mundo, a internet praticamente acabou com a venda de CDs. Hoje é possível ouvir quase que imediatamente um álbum recém-lançado no Youtube ou baixá-lo em algum site ou programa de compartilhamento. Esse talvez seja o maior desafio enfrentado por artistas e gravadoras: saber avaliar esses dois lados da moeda. “A internet tem um efeito na música, positivamente e negativamente. De uma forma positiva, mais pessoas podem se expressar e mais músicas pode ser ouvidas. Mas em um sentido negativo, a qualidade da música também é comprometida, pois qualquer pessoa pode publicar qualquer coisa, sendo boa ou não”, analisa o baterista.
No ano passado a banda lançou o “Dinosaur Jr. Book”, que conta a história do grupo por meio de materiais raros como fotos, contratos, manuscritos originais e cartazes de shows. “O ‘Dinosaur Jr. Book’ surgiu de um trabalho muito profundo. Eu acho que não percebemos o quão completo ele seria. Nós ficamos muito satisfeitos com o produto final”, avalia.
Na parte musical, o álbum mais recente do trio é “I Bet On Sky” (2012). Desde então a banda tem se dedicado a fazer shows, completando a turnê do disco. Após esse período o Dinosaur Jr. planeja entrar novamente em estúdio. “Esperamos fazer um novo álbum em breve. Atualmente, não estamos trabalhando em todas as novas faixas até que tenhamos finalmente concluído a turnê deste último disco”, conta Murph.
O show no Cine Joia em São Paulo no próximo dia 2 de agosto será a segunda vinda do Dinosaur Jr. a terras brasileiras. A primeira foi em 2010, quando o grupo se apresentou no Festival No Ar Coquetel Molotov, em Recife. Apesar de terem só uma experiência em terras brasileiras, Murph elogia o público tupiniquim e acredita que a banda será bem recebida, novamente. “Os fãs no Brasil são muito emocionantes e entusiastas e eu espero que também sejam assim nessa segunda vez”, finaliza.
A apresentação no festival Converse Rubber Tracks Live tem entrada gratuita. Para conseguir os ingressos é preciso se cadastrar no site do evento. Os bilhetes serão distribuídos a partir desta quarta-feira (23) às 12h. É uma oportunidade única de ver uma das mais criativas bandas da história do rock americano.
Confira o show do Dinosaur Jr. no festival Coachella, em abril do ano passado, e a apresentação do “Dinosaur Jr. Book”.
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