Texto – Marcos Anubis
Revisão – Pri Oliveira
CwRock. Essa é a denominação que a banda curitibana Sete Sangria’s dá ao seu som. Formado no começo de 2012, o quarteto que tem Sergião Rodrigues (vocal, guitarra e violão), Dinho Peruscello (guitarra e backing vocals), Bolinha Joey (baixo) e Ely Miranda (bateria), vem buscando o seu espaço dentro do cenário musical da capital paranaense.
Logo de cara, a alcunha usada pelos músicos chama a atenção. “É apenas um nome que achamos para definir a nossa música, já que ela não se encaixava em nenhum gênero. Já nos chamaram até de Rock Universitário, mas como a gente só terminou o colegial e nenhum de nós nunca nem chegou perto de uma universidade, resolvemos adotar esse CwRock”, diz o guitarrista Dinho Perusselo. “Seria o Rock com cara e jeito curitibano de fazer Rock ‘N’ Roll: simples, autêntico e direto”, complementa.
Dentro do caldeirão sonoro da banda, que inclui muitos grupos nacionais dos anos 1980, como Titãs e Ultraje A Rigor, alguns ingredientes têm raízes curitibanas. “A principal influência que tentamos colocar em nosso som são as bandas da cidade que escutamos e admiramos, como o Blindagem, Relespública, Faichecleres, Pelebrói Não Sei e Dissonantes, entre outros”, diz Dinho.
O primeiro registro
Mostrando toda essa admiração pelos artistas locais, a Sete Sangria’s entregou a produção do EP “Amores Me Enlouquecem” para o guitarrista e vocalista da Relespública, Fabio Elias. A gravação e mixagem do álbum, lançado no começo de 2014, foram realizadas pelo músico Marcelo Speditto no Estúdio Aero Diesel, em Curitiba.
Fabio foi uma escolha pessoal da banda. “Foi a melhor coisa que nos aconteceu. Antes de conhecê-lo pessoalmente nós éramos super fãs da Reles. Sempre os acompanhamos de longe, principalmente naquela época em que eles tinham clipes passando na extinta MTV”, conta.
A banda teve outros convites de pessoas que se dispuseram a produzir o EP, mas acabou optando por Fabio Elias por conta da afinidade com o músico. “Aprendemos muitos detalhes com ele, como técnicas de estúdio e timbres. Muitos arranjos foram feitos após ele entrar no projeto. Ele trouxe a sua experiência para que, com pouco orçamento, conseguíssemos gravar o tão sonhado primeiro EP”, conta. Fabio também fez uma participação especial na música “Garota do Largo”.
Uma música chama a atenção no álbum, de forma especial. “Caravana” fala sobre a tragédia que aconteceu na cidade de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul. Em janeiro de 2013 um incêncio na boate Kiss matou 242 pessoas, em sua grande maioria jovens.
Dinho conta que a ideia da canção surgiu quando, após a tragédia, ele e seus dois irmãos, Luh e Carlos, estavam assistindo a um telejornal que atualizava as informações de Santa Maria.
Em dado momento, um dos bombeiros que prestou socorro às vítimas deu um depoimento comovido dizendo que ouvia o toque dos celulares das pessoas que já estavam mortas, sem que ele pudesse fazer mais nada. “Foi mais ou menos nesse contexto. Pensamos no que diria aquela pessoa se ela pudesse falar pela última vez com seus entes queridos”, explica.
A música inteira acabou sendo composta quase que mediunicamente, pois melodia e letra surgiram em poucos minutos. “Antes do refrão a gente diz que ’em vez de velas e flores, ouçam a música que eu gostava de ouvir’. Seria como dizer ‘lembrem-se dos momentos bons’, que é o que a gente sente quando escuta aquela música preferida que todos temos”, conta o guitarrista.
A canção, que realmente parece ter nascido de uma forma muito especial, passou a representar algo ainda mais forte para a banda após a morte do irmão de Dinho, Carlos. “Uma noite antes de gravarmos o vídeo no projeto do Studio Tenda, minhã irmã sonhou com meu irmão Carlos, que já havia falecido. No sonho ele disse para ela como ficaria legal decorar o cenário para o clipe. Queríamos ter levado velas acesas de verdade, mas a Lyrian e o Mario ficaram com medo do estúdio pegar fogo, então usamos velas de neon e flores artificiais”, relembra.
O nada amistoso cenário musical curitibano
Conversar com uma banda curitibana e não abordar as dificuldades que a cena local impõe aos que tentam navegar em seu turbulento oceano é suprimir argumentos que podem fomentar um cenário melhor. A Sete Sangria’s também tem a sua visão sobre o tema. “O público anda desinteressado em novos sons, em descobrir novas bandas, principalmente no meio do Rock”, analisa Dinho.
Em termos de estrutura, o músico acredita que existem locais para as bandas se apresentarem, como o 92 Graus e o Dama – Dame, entre outros, e que o caminho para shows mais frequentes seria a união entre as bandas. “A gente tem apostado mais no coletivo, juntando 4 ou 5 grupos com sons parecidos e fechando eventos nesse formato de minifestival. É o que tem mantido as bandas na ativa”, diz.
Ao que parece, esse esforço não tem sido suficiente para fazer com que as pessoas prestigiem as bandas locais. “O público não corresponde como gostaríamos. Mesmo fazendo eventos com entradas a custo baixo ou às vezes entrada franca, o público ainda é escasso. E não é por falta de qualidade dos grupos. Temos ótimas bandas com trabalhos muito bons tocando no underground”, afirma Dinho.
Em relação ao espaço oferecido pela mídia local, o guitarrista entende que a disputa por espaço é cada vez maior. “Ainda é raro conseguir chamar a atenção em meio a tantas opções e materiais novos que os jornalistas devem receber. Às vezes temos de contar com a sorte, além do talento”, opina.
O futuro
A banda planeja iniciar no segundo semestre deste ano a gravação de um novo EP chamado “Agindo Por Instinto”, que terá 4 músicas, mas também já pensa em seu primeiro full lenght. “Quem sabe se conseguirmos algo pela Lei de Incentivo… Vamos tentar fazer um projeto, pois trabalhamos sempre com um orçamento baixo para a produção e gravação de material”, conta.
O grupo também deve participar de uma coletânea, ao lado de outras bandas, que será gravada ao vivo. O lançamento está previsto para junho ou julho próximos. “Uma das nossas músicas será ‘Politicagem’. Tocamos muito ela durante a campanha eleitoral. É uma homenagem aos nossos queridos políticos (risos)”, diz.
Em uma cidade que pouco ou nada valoriza o que é feito em seus domínios, é revigorante ver artistas acreditando em seu trabalho e mostrando coragem para entrentar os inúmeros obstáculos que Curitiba impõe. “Nós viemos para ficar. Demoramos muito tempo para deixar de ser uma banda de garagem e dar a cara a tapa. Agora é um caminho que não tem volta”, finaliza Dinho.
Escute na íntegra o EP “Amores Me Enlouquecem” e assista ao vídeo da música “Caravana”, gravada ao vivo no Studio Tenda.
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