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(Foto – Reprodução/Facebook Smashing Pumpkins)

 

Texto – Marcos Anubis

Revisão – Pri Oliveira

 

Nos anos 1980/90, para ser chamada de “indie” ou “alternativa”, a banda precisava ter um trabalho que fugisse do lugar comum. Sonic Youth e Pavement são dois desses exemplos, pois faziam um som que não se encaixava no status quo musical do momento.

Transgredir. Essa era a ideia. Álbuns como “Isn’t Anything” do My Bloody Valentine (1988), “Psychocandy” do Jesus And Mary Chain (1985) e “Nowhere” do Ride (1990) levavam esse conceito ao extremo com seu wall of sound que, para os não neófitos, era considerado “barulho”.

Essa realidade mudou drasticamente. No último fim de semana, o festival Lollapalooza exibiu um desfile de grupos pasteurizados, que pareciam ter saído de uma linha de produção em série. Deixando de fora a qualidade musical, o conceito atual de “alternativo” parece se resumir a ter barba, (isso é importantíssimo), fazer cara de paisagem e tocar mal, usando e abusando de samplers e programações e… Ter barba.

Porém, o que mais chamou a atenção foi a passividade do público em relação ao que ouvia. Bastava estar no palco para ser ovacionado pela plateia. Aliás, esse é um dilema da “música moderna”. Assim como no “futebol moderno”, onde bandeiras, faixas, fogos e tudo que sempre foi o grande charme do esporte bretão foram banidos dos estádios, as bandas do século 21, em sua grande maioria, já nascem sem sal, sem graça.

Parece que ter um guitarrista criativo, fato de extrema importância de dez entre dez grandes bandas na história do Rock, passou a ser dispensável. O que seria de John Squire (Stone Roses), Johnny Marr (The Smiths) ou Blixa Bargeld (Einstürzende Neubauten, Nick Cave And The Bad Seeds) se fizessem parte das formações desses grupos? Afinal, para a maioria deles, parece que é só tirar o pendrive do bolso, espetar o dito cujo em qualquer laptop e apertar o play que toda a plateia sai pulando como se estivesse vendo o Stone Roses tocar “Elephant Stone”.

O Lollapalooza chegou ao cúmulo de ter a Banda do Mar em seu lineup de “indies, alternativos”. Marcelo Camelo e Mallu Magalhães podem ser tudo, de chatos a soníferos, menos indies. Mundo estranho esse.

 

Um sopro de criatividade em meio a um mar de mesmice

 

Coube a um dos últimos remanescentes dessa época de ouro do indie, o Smashing Pumpkins, encerrar o festival. Billy Corgan se cercou de grandes músicos para dar suporte à sua melodia e agressividade. Além do guitarrista Jeff Schroeder, que é um Pumpkin desde 2007, o quarteto teve o baterista Brad Wilk (Rage Against The Machine, Audioslave e que teve a honra de substituir Bill Ward no mais recente álbum do Black Sabbath, “13”), e o baixista Mark Stoermer do The Killers.

O grupo mesclou pérolas como “Cherub Rock” e “Disarm” do absolutamente essencial “Siamese Dream” (1993), sucessos radiofônicos como “Tonight, Tonight” do álbum “Mellon Collie And The Infinite Sadness” (1995), Lados B como “Drown” lançado em formato de single em 1992, com músicas mais novas como “Monuments” e “Being Beige” do recém-lançado “Monuments To An Elegy” (2014).

Billy Corgan (criador, mentor, compositor e cara do Smashing Pumpkins), já declarou que não sabe qual será o futuro da banda. Realmente, o grupo não parece ter alma, na verdade passa a nítida impressão de não ser um grupo. Obviamente uma formação como a original do Pumpkins, com James Iha na guitarra, D’arcy no baixo e Jimmy Chamberlin na bateria nunca mais será alcançada. Quem sabe se Corgan exorcizasse seus demônios e procurasse seus antigos companheiros que o ajudaram a construir a aura criativa da banda…

O fato é que o Smashing Pumpkins fez a sua parte. Seja com seus clássicos ou com o material novo, Corgan ainda está anos luz à frente da esmagadora maioria da cena independente atual. O que é mais assustador, no caso do Lollapalooza, é que ele foi concebido e tem a curadoria do vocalista do Jane’s Addiction, Perry Farrell.

Sua banda foi uma das mais importantes na consolidação do termo “indie”, no final dos anos 1980 começo da década de 1990. Onde foi parar o senso crítico de Farrell? Para onde foram o bom gosto e a inovação de “Nothing’s Shoking” (1988) e “Ritual De Lo Habitual” (1990), os dois mais importantes álbuns do Jane’s?

Esse é um dilema que cada vez mais será enfrentado pelos que levam em conta a qualidade do que ouvem. Teria a música se rendido finalmente, em todas as frentes, aos quinze minutos de fama de Warhol ? Pelo visto…

Ouça quatro grandes álbuns que marcaram a história do Indie Rock: “Psychocandy” do Jesus And Mary Chain (1985), “Sister” do Sonic Youth (1987), “Isn’t Anything” do My Bloody Valentine (1988) e “Nowhere” do Ride (1990).