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Dono de uma voz e de um carisma inigualáveis, Dio construiu uma consistente carreira solo e também integrou algumas das mais importantes bandas da história do Heavy Metal

“Mas você nunca vai me fazer parar de arder. Queime-se com o fogo. Eleve meu espírito mais alto. Alguém está gritando meu nome. Venha e me faça sagrado novamente”. Trecho da canção “Man on the silver mountain”, do Rainbow.

Às 7:45 (horário dos Estados Unidos) do dia 16 de maio de 2010, Ronnie James Dio sucumbia a um câncer de estômago que havia sido detectado em novembro de 2009.

Nesse momento, a maior voz da história do Heavy Metal foi silenciada. Nove anos depois, a obra de Dio com o Elf, o Rainbow, o Black Sabbath e na carreira solo, permanece atual e continua servindo de inspiração para as novas gerações de músicos.

Os primórdios

Ronald James Padavona nasceu em Portsmouth, Estados Unidos, no dia 10 de julho de 1942. Ainda na adolescência, em 1967, ele montou a primeira banda. O grupo tocava Rockabilly e se chamava inicialmente Vegas Kings. Em 1972, após várias mudanças de nome (Ronnie And The Rumbles, Ronnie And The Redcaps, Ronnie Dio And The Prophets, The Eletric Elves e The Elves), a banda passou a ser chamada de Elf.

O grupo, que tinha inicialmente Dio nos vocais, Doug Thaler (teclados), Gary Driscoll (bateria), Nick Pantas e David Feinstein, que era primo de Dio (guitarras), lançou três álbuns: “Elf” (1972), “Carolina County Ball”, que nos Estados Unidos se chamou “L.A./59” (1974) e “Trying to Burn The Sun” (1975) que acabou marcando o fim da banda.

Rainbow, a definição da personalidade artística

Após a dissolução do Elf, o ex-guitarrista do Deep Purple, Ritchie Blackmore, que estava procurando músicos para uma nova empreitada, “incorporou” Dio e alguns dos instrumentistas do Elf, formando o Rainbow.

Foi ali que o vocalista começou a forjar definitivamente a musicalidade que o acompanharia até o final da carreira. Essa alquimia misturava letras que viajavam por um universo de magos, dragões e criaturas mitológicas que ganhavam vida uma voz poderosíssima e uma interpretação sempre marcante.

Um dos grandes exemplos dessa química perfeita é a música “Man on the silver mountain”, do álbum de estreia do grupo, “Ritchie Blackmore’s Rainbow” (1975). A canção fez parte dos shows do cantor durante toda a carreira.

Com o Rainbow, de 1975 a 1978, Dio gravou mais dois álbuns de estúdio: “Rising” (1976) e “Long Live Rock ‘n’ Roll” (1978).

A entrada no Black Sabbath: a união de dois gênios

Após a saída do Rainbow, em 1979 Dio foi convidado pelo guitarrista Tony Iommi para substituir Ozzy Osbourne no Black Sabbath. Na autobiografia “Iron Man – Minha Jornada com o Black Sabbath”, Tony diz que estava procurando um vocalista que, além de participar da composição do novo álbum, também conseguisse cantar o material antigo do Sabbath.

A escolha não poderia ser mais certeira. O primeiro disco com Dio, “Heaven And Hell” (1980), é considerado por muitos o melhor trabalho do Black Sabbath. As músicas “Die young”, “Neon nights” e “Children of the sea”, (que foi a primeira canção composta por Dio com seus novos companheiros), se tornaram obrigatórias nos shows do Sabbath, mesmo após a sua saída do grupo. No ano seguinte foi lançado “Mob Rules”, que trazia como destaques as faixas “Voodoo” e “Falling of the edge of the world”.

Em 1982, foi lançado o álbum ao vivo “Live Evil”, que foi o ponto final entre Dio e os outros integrantes do Black Sabbath. Supostamente, durante a mixagem do álbum, Dio ia até o estúdio de madrugada e sorrateiramente aumentava o volume dos vocais sem que a banda soubesse disso. Após muitos desentendimentos, ele saiu do grupo e acabou levando com ele o baterista Vinny Appice.

A carreira solo

A partir daí, Dio deu início a sua carreira solo e, logo de cara, lançou uma obra-prima. “Holy Diver” (1983) reuniu um time de grandes músicos que tinha Vinny Appice (bateria), Jimmy Bain (baixo) e Vivian Campbell (guitarra). Juntos, eles criaram clássicos do porte de “Stand up and shout”, “Don’t talk to strangers” e “Rainbow in the dark”. Nos anos seguintes, o vocalista continuou lançando bons álbuns, entre eles, “Dream Evil” (1987) e “Lock Up the Wolfes” (1990).

Em 1992 Dio retornou ao Black Sabbath para gravar o álbum “Dehumanizer”, que tem como destaques as músicas “I”, “Computer God” e “Time machine”. A volta durou poucos meses por causa de um motivo inusitado e estranho. Durante a turnê do disco, os empresários da banda agendaram um show no qual o Sabbath faria a abertura para outro artista. O problema aconteceu quando Dio descobriu que esse artista era, simplesmente, Ozzy Osbourne! Foi a gota d’água.

De volta a carreira solo, Dio continuou indo cada vez mais fundo na junção de riffs pesados e letras que falavam de mundos e seres mágicos. “Angry Machines” (1996), “Magica” (2000), “Killing the Dragon” (2002) e “Master Of The Moon” (2004) consolidaram a trajetória do vocalista. Durante essa fase, Dio se apresentou em três ocasiões na cidade de Curitiba. A última foi em 2006, no Master Hall.

Heaven And Hell, um reunião de gigantes

Em 2006, algo que ninguém esperava acabou acontecendo. Dio juntou forças com Tony Iommi, Geezer Butler e Vinny Appice, seus ex-companheiros do Sabbath, para gravar três novas canções para a compilação “The Dio Years”. Além de músicas dos três discos que tiveram a participação do vocalista, foram registradas as inéditas “The Devil cried”, “Shadow of the wind” e “Ear in the wall”.

A reunião era para ter acabado aí, mas os músicos se entenderam tão bem nesse reencontro que resolveram retomar o trabalho da banda, desta vez com outro nome. Isso aconteceu porque Iommy, que detém os direitos sobre a marca Black Sabbath, decidiu batizar o grupo como Heaven And Hell para evitar qualquer tipo de problema burocrático.

A partir daí, o quarteto começou a trabalhar em material novo e também nas canções antigas do Sabbath. O resultado foi o lançamento do CD e DVD “Live From Radio City Music Hall” (2007), um registro que traz boa parte dos grandes clássicos do Sabbath na fase Dio.

Dois anos depois, saía o álbum de inéditas “The Devil You Know”, uma obra soturna, sombria e que, para o bem do Heavy Metal, unia novamente a voz de Dio à guitarra de Tony Iommi. O CD traz duas canções que evidenciam a perfeita junção desses dois elementos: “Bible black” e “Atom & evil”.

O grupo fez vários shows para divulgar os dois álbuns, entre eles, um retorno triunfante ao festival alemão Wacken Open Air e uma passagem pelo Brasil, com apresentações em maio de 2009 nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro.

Os últimos meses

Porém, quando o trabalho da banda parecia cada vez mais consolidado, veio a inesperada notícia. No dia 25 de novembro de 2009, a esposa e empresária de Dio, Wendy Dio, divulgou uma nota revelando que o vocalista estava com câncer. “Ronnie foi diagnosticado em um estágio inicial de câncer de estômago. Estamos iniciando o tratamento imediatamente na Mayo Clinic. Depois que Ronnie matar este dragão, ele estará de volta aos palcos, aos quais ele pertence, fazendo o que ele mais ama: cantando para os seus fãs. Vida longa ao Rock’n’roll, vida longa a Ronnie James Dio. Obrigada a todos os amigos e fãs de todas as partes do mundo que enviaram mensagens de pronto restabelecimento. Isto realmente tem nos ajudado a manter o nosso espírito forte”, dizia o texto.

Sempre acompanhado por sua esposa, o cantor iniciou o tratamento de quimioterapia em um hospital especializado na cidade de Houston.

Quatro meses depois, em março de 2010, Wendy escreveu outra nota na qual afirmava que o estado de saúde de Dio havia melhorado sensivelmente. “Ronnie fez a sua sétima sessão de quimioterapia, outra tomografia computadorizada e mais uma endoscopia. Os resultados são bons. O tumor principal tem encolhido consideravelmente e nossas visitas à clínica em Houston agora são realizadas a cada três semanas, e não mais a cada duas semanas”, dizia.

A esperança dos fãs e dos companheiros do Heaven And Hell era de que Dio se recuperasse rapidamente, afinal os prognósticos eram bons.

Porém, no dia 16 de maio de 2010, Wendy deu a notícia que ninguém esperava. “Hoje meu coração está partido. Ronnie se foi às 7h45. Muitos de nossos amigos e familiares puderam se despedir antes que ele se fosse em paz. Ronnie sabia que era muito amado por todos”, dizia a nota.

O falecimento causou comoção não só entre os fãs, mas de forma muito forte também no meio musical. Afinal, em quase 40 anos de carreira, Dio colecionou amigos que sempre se referiam a ele como uma pessoa generosa e atenciosa.

Ronnie James Dio definiu um estilo que influenciaria inúmeros outros cantores, entre eles, Rob Halford, do Judas Priest e Bruce Dickinson, do Iron Maiden.

A obra de Dio é imortal e ressoa nos corações e mentes dos fãs até hoje. Em meio a milhares de artistas que passaram e passam pelo Heavy Metal, poucos se destacaram de forma tão marcante quando Dio. Como diz a letra de “Heaven and hell”, um dos maiores clássicos do Sabbath: “O mundo está cheio de Reis e Rainhas que cegam os seus olhos e roubam os seus sonhos. É o Céu e o Inferno”.