Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira
O repertório da apresentação no Teatro Positivo reuniu grandes clássicos da carreira do ex-Engenheiros do Hawaii
“Somos um exército de um homem só, no difícil exercício de viver em paz. Nesse exército, o exército de um homem só, todos sabem que tanto faz ser culpado ou ser capaz”. As palavras escritas por Humberto Gessinger em 1990 na música “O Exército De Um Homem Só”, ainda hoje, quase três décadas depois, fazem o mesmo sentido.
Em uma noite de reencontro com um dos artistas mais importantes da história do Rock nacional, foi impossível não pensar que, no contexto de nossa consciência como nação, pouca coisa mudou nesses 25 anos. Como escreveu Belchior na década de 1970: “Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
Nesse sábado (25) no Teatro Positivo, o cantor, multi-instrumentista e compositor gaúcho recebeu o carinho de 2.400 curitibanos que admiram e respeitam o seu trabalho. Isso é um sinal claro da ressonância que sua obra ainda tem.
O show
Pouco depois das 21h as cortinas se abriram para Humberto, o guitarrista Nando Peters e o baterista e percussionista Rafael Bisogno iniciarem o show com “Até O Fim”. Ovacionado, Gessinger sentiu logo nos primeiros acordes o quanto é querido na capital paranaense.
O setlist trouxe canções de vários momentos de sua carreira, baseando-se principalmente no CD/DVD “InSULar”, lançados respectivamente em 2013 e 2014. Obviamente alguns megassucessos do Engenheiros do Hawaii estiveram presentes, como “Terra De Gigantes”, “Pra Ser Sincero” e “Toda Forma De Poder”.
Durante a apresentação, Humberto fez questão de lembrar que no ano que vem o álbum “Longe Demais Das Capitais” (1986) completa 30 anos de seu lançamento. “Eu ainda não era nascido, na época, mas eu li bastante e sei que foi um disco importante para a música lá no Sul”, brincou.
A realidade é que o disco de estreia do Engenheiros é uma das joias que fazem com que hoje seja possível falar de “Rock nacional”. Relembrando esse período mágico na música brasileira, Gessinger tocou “Segurança” e “Piano Bar”.
Humberto obviamente sempre estará ligado intimamente ao Engenheiros do Hawaii. Por conta disso, é inevitável que o público vá ao show esperando ouvir aquelas canções que marcaram a carreira da banda. Gessinger resolveu esse dilema reinventando essas canções. O “artifício” usado na maioria delas foi executar as linhas de baixo usando o acordeão, o que dá aos fãs uma releitura de sua obra e permite que o artista também não se sinta repetitivo.
Respeitar a cultura local
Na volta para o bis, ele agradeceu a acolhida em terras paranaenses e disse algumas palavras meio despretensiosas, mas que calaram fundo nas pessoas que batalham pela cultura curitibana. “Às vezes nós moramos em uma cidade e não sabemos valorizar as coisas bacanas que ela tem. Eu acho Curitiba tão bacana”, argumentou de forma sincera.
Provavelmente a frase não foi dita com esse objetivo, mas ela soou como um puxão de orelha para nós, curitibanos, que pouco valorizamos o que a cidade nos oferece. Gessinger também comentou que acompanhou a passagem de som da curitibana Jenni Mosello, que fez o show de abertura, e gostou muito do que viu.
Se formos entrar na discussão do respeito e apoio aos nossos artistas, esse “puxão de orelha” se torna ainda mais forte. Nessa questão de valorizar a cultura local, nós paranaenses temos muito a aprender com o povo gaúcho.
A cena musical da capital do Rio Grande do Sul, da qual Humberto faz parte junto com inúmeros outros artistas como o Defalla, Nei Lisboa, Replicantes e Nenhum de Nós, só para citar alguns, é praticamente autossustentável. Nos Pampas, as bandas e músicos têm espaço e visibilidade para construírem suas carreiras de forma consistente e, a partir daí, chamarem a atenção do resto do país. Já em Curitiba…
Para encerrar a apresentação, Humberto tocou dois grandes sucessos de sua carreira com o Engenheiros: “Refrão de Bolero” e “Infinita Highway”, ambas cantadas do começo ao fim pelos fãs.
Na fria noite curitibana, Gessinger ofereceu um belo show de um artista que sobreviveu aos anos 1980 se reinventando e procurando novos horizontes. Curitiba, por sua vez, deu mais uma prova de que boa música e boas letras ainda são importantes para uma grande parcela do público consumidor brasileiro.
Confira três músicas do show: “Toda Forma De Poder”, “Refrão De Bolero” e “Infinita Highway”. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).
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