Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Paulo Ty

Atrás: Cláudio Venturini, Vermelho, Hely Rodrigues e Sérgio Magrão. Na frente: Guarabyra, Flávio Venturini e Sá. (Foto - Paulo Ty)

Atrás: Cláudio Venturini, Vermelho, Hely Rodrigues e Sérgio Magrão. Na frente: Guarabyra, Flávio Venturini e Sá

Nesta sexta-feira (11) Curitiba recebe no Teatro Guaíra o show “Encontro Marcado”. O espetáculo vai reunir três nomes que representam o “alto clero” da MPB: 14 Bis, Sá & Guarabyra e Flávio Venturini.

Além da qualidade de todos os músicos envolvidos e da obra desses artistas, o 14 Bis ainda tem um motivo a mais para celebrar: O grupo está comemorando 35 anos de estrada e nessas mais de três décadas, as marcas que a música deixou no coração e na alma dos que passaram pela banda parecem ser muito fortes. “A música é essencialmente movimento, mudança, harmonia, emoção e troca de energia com o público. É difícil definir o que mais nos marcou. Talvez a soma disso tudo e muito mais”, diz Vermelho, tecladista e vocalista do grupo. Atualmente o 14 Bis tem em suas fileiras Sérgio Magrão (baixo e vocal), Hely Rodrigues (bateria), Vermelho (teclados e vocal) e Cláudio Venturini (guitarra e vocal).

 

Um time de estrelas

 

A ideia do show “Encontro Marcado” foi articulada pelo produtor Gegê Lara e por Sá, da dupla Sá & Guarabyra. Como todos os envolvidos se conhecem e se admiram, não foi difícil concretizar a turnê. “Sempre fomos amigos e tocamos juntos em vários momentos. O Flávio é um dos fundadores da banda. Aliás, bem antes de surgir o 14 Bis, eu e ele já tínhamos a ideia de montar uma banda. O Sá e o Guarabyra são nossos amigos e parceiros de muitas canções de sucesso. Era uma coisa natural de acontecer. A ideia de nos reunir veio no momento certo e a cada dia estamos mais empolgados com este encontro”, explica Vermelho.

 

Uma coleção de sucessos

 

A escolha do repertório para o show foi complicada, afinal, não é fácil passar a limpo as inúmeras canções de sucesso da carreira de cada artista. “Foi um pouco difícil, já que eram muitas músicas (risos). Acabamos escolhendo as de maior sucesso e/ou mais representativas de cada artista e que ao mesmo tempo, todos pudessem participar. E quando começamos os shows, também incluímos algumas que o público pedia”, conta.

Fazer novos arranjos para as músicas escolhidas também foi um processo delicado, afinal é necessário adequar o tom de cada canção para que todos os vocalistas cantem com tranquilidade, além de definir os solos e quem os executará. “Foi um pouco trabalhoso já que cada banda toca as músicas às vezes de uma maneira um pouco diferente. Sem falar que, como todos cantam, havia solistas demais (risos). Mas foi um prazer compartilhar novas descobertas”, diz Vermelho.

Ao mesmo tempo, surpreendentemente, algumas canções ganharam versões históricas pois nunca foram executadas ao vivo por seus criadores. “Por exemplo, não existia registro de Flávio e Guarabyra cantando juntos a canção ‘Espanhola’, de parceria deles, ou Sérgio Magrão e Sá em ‘Caçador de Mim’. Por outro lado, músicas como ‘Canção da América’, ‘Sobradinho’ e ‘Planeta Sonho’, por exemplo, ficaram com arranjos instrumentais/vocais muito mais elaborados”, complementa.

 

Uma linhagem especial

 

O 14 Bis é um dos alicerces da MPB, representando uma época de ouro da música nacional. Hoje, com o imediatismo que o mundo exige, as bandas e artistas surgem e desaparecem como num piscar de olhos, o que compromete a qualidade musical e o conteúdo do que é apresentado. A visão de Vermelho sobre a Música Popular Brasileira atual é realista, mas ainda mantém a esperança em tempos melhores. “Em todos os setores da vida e da arte, através da história, sabemos que existem momentos mais brilhantes e criativos e outros nem tanto. Além disso, as injunções comerciais sempre tiveram – e têm cada vez mais – uma influência muito grande para divulgar artistas consagrados e principalmente novos talentos”, analisa.

Vermelho acredita que ainda existem referências e que elas influenciam o trabalho das novas gerações. “Vemos muita gente fazendo coisa boa. Beatles, Pink Floyd, Oasis, Coldplay, 14 Bis, Milton, Beto Guedes, Mutantes e outros artistas ainda são uma referência para muitos que gostam realmente de música. Mas muitas vezes a imagem, o visual e a performance em certas épocas são mais importantes do que o conteúdo”, diz. “Felizmente, acredito que estamos voltando à época da transparência não só na política, mas também na boa música feita por músicos de verdade”, complementa.

 

As mudanças

 

O maior choque de realidade para os artistas que acompanharam a “evolução” comercial e tecnológica das últimas décadas acontece na relação com o seu próprio trabalho. A diferença da indústria fonográfica do início dos anos 1980 para a de hoje é gigantesca.

Se atualmente é possível gravar um CD no seu computador pessoal, naquele momento da realidade brasileira os artistas dependiam completamente das grandes gravadoras. “O fato é que na época existiam grandes gravadoras que bancavam o artista, gravavam em seus estúdios, prensavam LPs/CDs, divulgavam, etc. Depois veio a pirataria e a Internet – esse ainda um terreno muito indefinido quanto aos direitos autorais, por exemplo – e tudo se tornou muito impessoal. Os diretores artísticos ou de marketing, gente que gostava e tinha vivência de música, praticamente desapareceram. Hoje os que cuidam, ou parecem cuidar disso, são pessoas de mídia, pulverizadas por sites, YouTube ou blogs”, analisa Vermelho.

Apesar desse cenário nebuloso, o músico acredita que a qualidade dos grandes artistas ainda é levada em conta. “Sinto que a música ao vivo continua cada vez mais sendo um diferencial. E nós todos, 14 Bis, Flávio Venturini e Sá & Guarabyra, nos sentimos muito à vontade no palco, tocando, cantando e interagindo com o público”, complementa.

 

Arte e poesia que resistem ao tempo

 

Ao longo de seus 35 anos, o 14 Bis passou por mudanças de formação e também enfrentou o nascimento e morte de diversos estilos musicais no Brasil. A sobrevivência da banda em meio a esse mar de dificuldades talvez se deva ao um motivo puro e raro, atualmente: qualidade e paixão pela arte. “Acredito que a boa música sempre permanece. O mesmo vale para a poesia das letras. As nossas canções dizem coisas que são atemporais, sem se ater a modismos, apenas nos influenciando pelas mudanças que acontecem no lado tecnológico e de atualização do ‘som’, nas gravações e shows. Mas a essência da música permanece e se torna cada vez mais atual”, opina Vermelho.

 

Os “voos” em Curitiba

 

A relação do 14 Bis com o público curitibano é estreita e carinhosa. Além disso, a história da banda com o local da apresentação de hoje, o Teatro Guaíra, vem desde o começo de sua carreira. “Curitiba tem uma tradição de cultura muito grande, não só no lado artístico, como também como uma cidade modelo de organização por todo o país. O Teatro Guaíra é excelente e, das diversas vezes que nos apresentamos aí, me lembro muito de quando fizemos o show ‘14 Bis Ao Vivo’ (2006). Contamos com um ótimo quarteto de cordas da cidade, com quem eu ensaiei nossos arranjos para orquestra, e fizemos um show maravilhoso”, relembra.

 

Olhando para frente

 

A carreira de muitos artistas acaba sendo calcada no que fizeram no passado. Não é o caso do 14 Bis. O último trabalho de estúdio do grupo foi “Outros Planos” (2004), mas uma notícia animadora e que gera muita expectativa é que existe a possibilidade de a banda gravar em breve um novo álbum de inéditas. “Isso vai acontecer naturalmente. Já temos bastante material, mas atualmente estamos com este show que segue por todo o país. Além disso, o 14 Bis continua se apresentando em locais tão distantes quanto o interior da Bahia, Belém do Pará, São Paulo, Vitória, Rio, e em outubro faremos uma excursão pelo Rio Grande do Sul, aonde não nos apresentamos há tempos”, revela Vermelho.

O fato é que uma das funções ou capacidades que a música tem é a de oferecer um bálsamo momentâneo para as pessoas. Mergulhar em melodias e poesias de grandes artistas é sonhar, de certa forma, com uma realidade melhor. Um novo trabalho ofereceria à música brasileira um retorno a essa fonte poética e melódica que não é mais vista com tanta regularidade.

Por enquanto, no “Encontro Marcado”, o público terá uma amostra do que pode estar vindo por aí. “Acredito que o país esteja em um momento de valorizar as coisas que tragam sonhos, esperança, com qualidade, profissionalismo e alegria de vida. E isso é o que representa nosso ‘Encontro Marcado’. Além, é claro, de uma grande amizade que nos une”, afirma Vermelho.

14 Bis, Sá & Guarabyra e Flávio Venturini apresentarão nesta noite em Curitiba uma união de talentos que poucas vezes foi vista na música nacional. Animados com seu trabalho e planejando a continuidade de sua carreira, Vermelho e seus companheiros esperam uma grande noite ao lado dos fãs curitibanos. “Sem dúvida o ‘Encontro Marcado’ será um ótimo espetáculo no Teatro Guaíra, que tem todas as condições para se ouvir (boa) música”, finaliza. O show começa às 21h15. Confira neste link todas as informações sobre o espetáculo.