Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira
Ironia, álcool, sexo e bom humor. Tudo isso faz parte do universo do Cafajeste Roque Clube. Descendente direto de bandas como o Camisa de Vênus e o Ultraje a Rigor, o grupo curitibano vem gradativamente conquistando o seu espaço.
O Cafajeste nasceu em 2008 e passou por diversas mudanças em sua formação até se estabelecer com Chris Ferreira (vocal), Gilberto “Big Gill” Horochovec e Rodrigo Minamizaki (guitarras), Adriano Minamizaki (baixo) e Tadashi Uada (bateria).
Em 2013 o grupo lançou o EP “O Bar Nosso de Cada Dia” e atualmente está trabalhando no seu primeiro CD, que deverá estar pronto no começo de 2016. “Gostaríamos de acelerar o processo para o disco sair antes, mas como estamos fazendo com recursos próprios e queremos um registro de boa qualidade, estamos produzindo com calma, para termos o melhor resultado”, diz Chris.
Enquanto o debut não vem, a banda tem feito shows, alguns deles antes de grandes nomes do Rock nacional, e tem chamado a atenção pela personalidade de sua música. No mês passado, por exemplo, o Cafajeste se apresentou na Ópera de Arame, abrindo o show do Camisa de Vênus. Além de mostrar o som do grupo para uma plateia maior, a apresentação foi ainda mais emblemática porque o Camisa é uma das maiores influências do quinteto curitibano. “O Camisa de Vênus, junto com o Ultraje a Rigor e o Raul Seixas, são as maiores referências no nosso trabalho. Foi um momento muito especial para a banda”, afirma Chris.
Sangue, suor e Rock ‘n’ roll
“Músicas autorais, de conteúdo machista e cafajeste, com boas pegadas de guitarra, vestimentas ao melhor estilo TV Macho do saudoso Zeca Bordoada e uma boa pitada de bom humor”. Essa é a definição que os integrantes do Cafajeste dão ao seu estilo musical.
Essa combinação acaba conferindo uma forte personalidade à banda, mas Chris faz questão de ressaltar que não existe preconceito ou apelação nessa definição. “A gente brinca com o universo masculino e com relacionamentos como se estivéssemos contando o nosso lado da história. É como se fosse um desabafo do homem, um grito de socorro. Tudo com muito bom humor, mas sem deixar de ser uma banda de Rock. A gente mete a mão nas guitarras mesmo. Fazemos Rock e gostamos de barulho”, explica o vocalista.
Um dos elementos mais fortes no som do Cafajeste Rock Clube é exatamente o humor, tanto nas músicas quanto na sua atitude no palco. Isso, de certa forma, vai na contramão do “patrulhamento” que a sociedade mantém atualmente e que em algumas ocasiões beira o conservadorismo. Diante desse prisma, qualquer atitude que fuja do comum pode ser encarada como desrespeito.
Apesar disso, a banda procura manter a sua identidade sem se “entregar” ao politicamente correto. “As nossas referências são todas dos anos 1980. As bandas, os programas de televisão, a publicidade, tudo era muito mais à vontade. Hoje em dia todo mundo se ofende mais facilmente, mas se a gente começar a se policiar pra não ofender ninguém, a nossa música acabaria sendo ‘pasteurizada’ e perderíamos nossa identidade”, explica Chris. “Não colocamos freios no processo de composição, mas nossas letras não são ofensivas ou preconceituosas. Claro que tem gente que não entende a brincadeira, mas lidamos com isso com bom humor também”, complementa.
Outro fato que chama a atenção do público nas apresentações da banda são os figurinos. Na Ópera de Arame, por exemplo, Chris entrou no palco vestido com um hábito usado por monges capuchinhos. “A ideia das roupas foi inspirada no Zeca Bordoada da TV Pirata. Só quem é mais antigo lembra disso. Como as nossas músicas buscavam atingir esse público mais adulto, já casado, que sabe da luta diária de um relacionamento, achamos que essa referência daria certo. E deu!”, explica o vocalista. “O que a gente não esperava era que o público mais jovem se identificasse com uma banda de ‘cafetões’. Felizmente temos conquistado um público bem variado”, complementa.
O Rock na capital das araucárias
Curitiba continua sendo uma cidade complicada para as bandas autorais. Sempre foi difícil para os artistas que investem em som próprio mostrarem os seus trabalhos. Não existe nenhuma novidade nisso. “É um círculo vicioso. O público se interessa pouco pelas bandas com trabalho próprio (muitas delas com qualidade e com muitos anos de experiência e estrada). Os proprietários de bares, por sua vez, não se interessam em promover a música autoral porque não há a expectativa de retorno financeiro para o seu negócio”, avalia Chris.
Apesar dessas dificuldades, o vocalista acredita que o cenário aos poucos vem conseguindo algumas conquistas importantes. “Em contrapartida, gradativamente, algumas bandas daqui estão conseguindo espaços para tocar em grandes eventos e festivais, até mesmo fora do país, com grande reconhecimento, fato pouco comum até então. Isso já é um sinal de melhora e mudança. Ainda é pouco, mas traz esperança em dias melhores. Banda autoral tem que ‘meter a cara’, colocar a faca nos dentes e ir ao front para mostrar a que veio. É o que temos feito, e tem dado certo até agora”, afirma Chris. “Desejamos que todos os envolvidos na cena, como músicos, público, mídia e contratantes, valorizem o que é feito aqui. Acreditamos que só assim poderá acontecer uma mudança significativa no cenário atual. Vamos mudar?!”, finaliza.
Confira duas músicas do show do Cafajeste na Ópera de Arame: “O Bar Nosso de Cada Dia” e “Essa Porra de Amor”.
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