Texto: Marcos Anubis
Foto da banda e revisão: Pri Oliveira
Capa do álbum: Reprodução/Facebook The Shorts
Curitiba sempre foi um celeiro de bandas com influências britânicas. Já na década de 1990, grupos como o Magog e o C.M.U. Down absorviam essas referências, mas o faziam com criatividade e personalidade. Atualmente, o The Shorts é um dos grandes expoentes dessa “especialidade curitibana”.
O quinteto nasceu no começo de 2014 e sua formação atual tem Natasha Durski (vocal), Taís D’Albuquerque e Daniel K. (guitarras), Andreza Michel (baixo) e Babi Age (bateria), ambas também integrantes do Uh La La!.
A banda transparece várias referências em seu som, entre elas o Lush, Loop, My Bloody Valentine, Hole e Mazzy Star. Esses diferentes caminhos se juntam e imprimem uma personalidade clara, sem fazer com que o The Shorts soe como uma cópia de outros artistas. “Nós somos pessoas muito diferentes. O legal é que cada um trouxe uma coisa que acabou nos complementando”, diz Natasha.
O debut
Tudo isso pode ser ouvido claramente no EP de estreia da banda. “Serendipity”, sem exageros, é uma obra-prima. Nas harmonias das canções, guitarras e vocais calmos são seguidos pela fúria do wall of sound e pela agressividade da cozinha visceral de Andreza e Babi.
O álbum foi gravado no estúdio Audio Stamp, do músico Virgílio Milléo, e teve a pré-produção e produção de Ruth Varella. A masterização e a mixagem foram realizadas no Estúdio Costella, em São Paulo, pelo músico Chuck Hipolitho (ex- Forgotten Boys).
As quatro faixas do debut, “Happy Lies”, “Devil’s Song”, “Change of Skin” e “Easy Way Out” são muito bem construídas. Enquanto Babi e Andreza mantêm a pulsação rítmica, as guitarras de Taís e Daniel se alternam nos riffs e climas etéreos, essenciais para definir o som da banda. Já o vocal de Natasha tem uma entonação que mistura Blues e Jazz, lembrando a forma de cantar da vocalista do Mazzy Star, Hope Sandoval. Como todo bom lançamento, “Serendipity” já começou a dar frutos. O grupo acaba de gravar seu primeiro clipe. A música escolhida foi a que abre o álbum, “Happy Lies”.
A famigerada “cena curitibana”
O The Shorts tem se apresentado seguidamente fora de Curitiba. No mês passado, por exemplo, a banda tocou no Rio de Janeiro e neste fim de semana fará um show no Taliesyn Rock Bar, em Florianópolis. Seria isso um reflexo de uma cena curitibana que ainda se mostra complicada? “No alternativo você sempre vai pelas beiradas. Eu toco há mais de 15 anos na cena e na minha visão, além das casas, o público também peca bastante. Eles preferem ficar três horas em uma fila e pagar para ver uma banda cover em vez de ir a um bar que tenha músicos excelentes tocando, às vezes até de graça”, analisa Babi.
Mesmo diante desse cenário já tradicionalmente nebuloso para quem acompanha a música curitibana há algum tempo, onde falta de apoio e poucas opções de lugares para tocar são fatos comuns, o quinteto acredita que o seu público vem sendo construído aos poucos e tem se mostrado fiel ao trabalho do The Shorts. “Felizmente nós estamos atingindo um público mais jovem. Eu vejo isso como uma vantagem porque eles compram camisetas, vão aos nossos shows, divulgam o nosso trabalho e seguem a banda”, opina Natasha.
Alguns exemplos de como melhorar a cena musical de Curitiba, segundo a vocalista, podem ser encontrados no Nordeste do país. “Em Natal todo mundo ajuda a divulgar, não existe ‘invejinha’ entre as bandas. A cena de lá cresceu porque as pessoas fazem tudo em conjunto. Em Curitiba existem muitas bandas boas. Nós não estamos como elas porque falta união, mídia, público…”, compara. “Ninguém é obrigado a gostar de tudo, mas vamos divulgar porque aquela pessoa também está batalhando. Isso ajuda”, complementa Babi.
Em 2016 a banda pretende lançar seu primeiro full-length e o novo trabalho já está em fase de pré-produção. “Antes nós não tínhamos nem perspectiva de quando iríamos lançar um disco, agora nós temos um horizonte”, finaliza Natasha.
O The Shorts é uma das grandes surpresas da cena curitibana nos últimos anos. Mostrando logo em seu primeiro EP uma qualidade incrível em suas composições, a esperança é de que Curitiba não sepulte, por falta de apoio, mais um dos grandes talentos gerados pela capital paranaense. Ouça na íntegra o EP “Serendipity”.
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