Texto:Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Pri Oliveira
Capa do CD: Anderson L.A./Divulgação Motörbastards
Ao ver o baixista e vocalista do Motörbastards, Carlão Bastard, você poderá pensar que está em uma realidade paralela. O motivo é a impressionante semelhança física do curitibano com o falecido líder do Motörhead, Lemmy Kilmister. Certamente, a ligação entre os dois vai além disso. Carlão é um dos maiores fãs do Motörhead no Brasil e isso o impulsionou a montar uma banda tributo ao trio inglês.
O grupo nasceu em 2009 e foi batizado de Motörbastards como uma homenagem a Lemmy e seus asseclas. Mas foi em 2014 que a banda passou também a compor e a tocar as suas próprias músicas. “Eu sempre pirei nessa história de tocar Motörhead, mas só comecei a procurar músicos para isso em 2009. De lá pra cá, até essa formação, passou bastante gente pela banda”, diz Carlão.
A formação atual do grupo tem Carlão Bastard (baixo e vocal), Alysson Irala (guitarra) e Antonio Trevisan (bateria). Todos são músicos experientes e que fizeram, ou ainda fazem parte de bandas importantes na cena Metal curitibana.
Carlão é um dos fundadores do Aqueronte, um dos pioneiros no Black Metal da capital paranaense. Antônio também é baterista do Imperious Malevolence, uma das forças do Death Metal nacional há mais de 20 anos. Alysson faz parte do Sad Theory, uma das mais antigas bandas curitibanas do gênero. Com toda essa bagagem, o Motorbastards estava fadado a ser um power trio.
O debut
“Divisão Rock‘n Roll”, o primeiro álbum do Motörbastards, foi lançado no final do ano passado. O CD reúne as várias influências dos integrantes. “Tem desde Chuck Berry até Black Metal”, diz Antônio. As gravações foram realizadas entre janeiro e novembro de 2014 no estúdio do guitarrista Alysson Irala, o Funds House Studio. A produção foi da própria banda.
Como o grupo dispunha dessa facilidade de horários para a gravação e produção, o álbum acabou demorando mais do que esperado. “É bom quando você produz o seu disco, porque ele não tem custo. Mas também é complicado porque nunca tem um ponto final. Chegou um momento em que a gente resolveu terminar de uma vez porque ninguém aguentava mais” (risos), diz Alysson.
O CD conta com a participação de vários músicos curitibanos, entre elas a do vocalista Marcelus, do baixista Silvio Kruger e do guitarrista Thomas Jefferson, todos do Motorocker, e do multi-instrumentista Mutant Cox (Sick Sick Sinners, 99 Noizagain e Hillbilly Rawhide).
As letras de “Divisão Rock‘n Roll” abordam fatos rotineiros no mundo do Rock, como a estrada e tudo o que a cerca. Boa parte das músicas do álbum nasceram literalmente nesse ambiente. “Nós tínhamos muito tempo sobrando durantes as viagens, nas vans. Às vezes nós terminávamos os shows às quatro da manhã e ficávamos até o amanhecer fazendo músicas”, diz Antônio.
Shows fora de Curitiba
O Motörbastards tem se apresentado seguidamente fora da capital paranaense, principalmente no interior do estado. De acordo com Carlão, alguns motivos são essenciais para essa opção. “Como nós não temos muito tempo para ensaiar e ficar mudando o nosso repertório, preferimos não tocar tanto em Curitiba para não virar ‘arroz de festa’. Algumas bandas tocam todo mês por aí e, dessa forma, fica uma situação chata tanto para o artista quanto para o público”, explica. “O Sepultura teve que sair do Brasil. Aí está o maior exemplo de como funciona a música em nosso país, não só em Curitiba”, complementa.
Outro fator que faz a diferença na hora de montar a agenda da banda é o financeiro. Fora de Curitiba, tanto no interior como em outros estados, o cachê pago aos músicos é bem maior. “Os caras pagam mais! Não tem muito segredo. Curitiba não paga bem as bandas. Talvez ‘eles’ achem que pagam, mas fora pagam mais”, diz Alysson. “A gente adora morar aqui, gosta do povo daqui, é claro. Mas fora, no interior do estado, por exemplo, esse lance do ‘trato’ é bem diferente”, complementa Antônio.
Autoral x Cover, a eterna batalha
Aos poucos o Motörbastards vem se firmando como uma das melhores bandas autorais da cidade. Apesar disso, o grupo não deixou de fazer os shows tributo ao Motörhead por dois motivos: o financeiro e o sentimental. “Às vezes as pessoas até falam coisas como: ‘essa banda aí, fica fazendo cover’. Cara, música é entretenimento, de qualquer forma. Não importa se é sua ou dos outros, ela é universal!”, diz Carlão.
A realidade é que as bandas cover, inexplicavelmente, despertam muito mais a atenção dos jovens curitibanos do que os artistas autorais. “Se nós investirmos R$ 500 mil, como fazem com os sertanejos, é claro que a banda vai dar certo e vai vender”, analisa Alysson. “O cover paga os nossos equipamentos. O autoral não paga”, complementa.
A morte do ídolo
A morte do líder do Motörhead, no dia 28 de dezembro em Los Angeles, pegou o mundo do Rock de surpresa. Apesar de estar enfrentando problemas de saúde desde 2013, Lemmy ainda carregava a fama de “indestrutível” por ter sobrevivido a anos de excesso sem, aparentemente, nenhuma consequência: até aquele momento. “Para mim, foi como seu eu tivesse perdido alguém da família. Eu tenho o Motörhead como minha referência desde criança”, diz Carlão. “Eu sempre quis fazer o cover justamente por esse amor. A história do Lemmy é foda demais. O Motörhead quebrou todas as barreiras de preconceito e de rótulos. Foi a única banda que fez isso”, complementa.
Após a morte de Lemmy, as apresentações do Motörbastards ironicamente passaram a ser mais concorridas. “Isso nos ajudou, é claro. Como nós já tínhamos uma história como cover do Motörhead, as pessoas passaram a nos chamar. Antes era eu quem ligava para marcar e, agora, eles passaram a nos contatar”, conta Carlão.
Outra mudança foi no perfil do público que vai aos shows do tributo. “Como acontece quando um artista famoso morre, as pessoas agora ficam do começo ao fim agitando em todas as músicas”, diz Alysson.
O futuro
Para celebrar a vida e a obra de Lemmy Kilmister, Carlão está trabalhando na organização de um “Motörhead Day”. Se a ideia se confirmar, o evento deve acontecer anualmente, a partir de 2017, em Curitiba ou no Rio de Janeiro.
Por ora, o Motörbastards segue divulgando o álbum “Divisão Rock‘n Roll” e já pensa em um novo trabalho para 2017. “A ideia é lançar um EP em janeiro para, quem sabe, em junho do ano que vem já termos um novo álbum”, finaliza Carlão.
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