Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Reprodução

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Falar do Sisters é falar de Andrew Eldritch. Figura central da banda, o vocalista sempre fez questão de se mostrar como a própria “encarnação das trevas”. Para isso, sua indumentária inclui óculos escuros, uma bengala estilizada, roupas pretas e, principalmente, uma voz grave e sinistra que se tornou a sua maior característica.

A história da banda começou em 1980, quando Andrew estudava Letras na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Nessa época, ele conheceu o guitarrista Gary Marx e, como os dois tinham ideias musicais parecidas, acabam decidindo montar uma banda.

Ao lado de Marx e Eldritch estavam o guitarrista Wayne Hussey e o baixista Craig Adams, dois talentos da música sombria que depois sairiam para formar um dos ícones do estilo: o The Mission. Essa é considerada a formação clássica da banda.

Um fato curioso do Sisters é que eles não tinham baterista. Isso ficava a cargo de um certo Doktor Avalanche, que na verdade era uma bateria eletrônica Oberheim DMX. O nome “The Sisters of Mercy” foi escolhido a partir de uma música de Leonard Cohen chamada, é claro, Sisters of Mercy.

“In the western sky my kingdom come”

“First and last and always” (1985), seu disco de estreia, é talvez a grande pérola na discografia do grupo. Nas dez faixas do álbum, o ambiente sombrio criado pelas camadas de teclados e guitarras fazem o fundo para a voz cavernosa de Eldritch. A própria bateria eletrônica, que poderia tornar o som menos orgânico, acabou ajudando a criar um som etéreo e atmosférico, perfeito para os devaneios do vocalista.

Ali estão clássicos do mundo gótico como “Black Planet”, “Walk Away” e “Marian”, onde Andrew Eldritch desfila todo seu “romantismo”: “Eu ouço você chamando, Marian. Através da água, através da onda. Eu ouço você chamando, Marian. Você pode me ouvir te chamando. Salve-me da sepultura, Marian”, diz a letra.

A produção ficou a cargo de David M. Allen, que também trabalhou com outros grupos importantes nos anos 1980/90, como The Cure, Depeche Mode, The Human League e Clan of Xymox.

A luta de egos

Durante a turnê do disco, Wayne Hussey se desentendeu com Eldritch, pois queria mais espaço na banda para compor e cantar. Ao final da tour, em um show no Royal Albert Hall, em Londres, o vocalista se despediu do público, dando sinais de que o Sisters encerraria suas atividades.

Como as desavenças se tornavam cada vez mais corriqueiras, Wayne e Craig acabam saindo da banda, seguindo os passos de Gary Marx que também já tinha pulado do barco. Apesar de todo o seu talento, Andrew Eldritch se viu sozinho.

Na época, explicando os motivos que levaram à desintegração da formação inicial da banda, Andrew afirmou: “Eles me perguntaram: O que vamos fazer nas novas canções? Eu disse: ‘Que tal isto, isto e isto?’. Mas, infelizmente, o primeiro ‘isto’ que eu citei tinha muitos acordes por minuto e Craig não quis tocá-los”, disse.

Hussey, de sua parte, disse que após o rompimento, Eldritch reformulou seu pensamento sobre as composições: “A maioria das canções que estamos tocando no The Mission foram rejeitadas por ele para o segundo álbum do Sisters. Isso é irônico, porque atualmente ele vê os nossos shows e me diz que elas são muito boas”, afirmou.

Após a inevitável separação, foram cinco anos de rivalidade e disputas jurídicas. Inicialmente, ambas as partes concordaram em não usar a nomenclatura The Sisters Of Mercy. Apesar do trato, Hussey e Craig queriam um nome que os associasse à sua ex-banda e acabaram escolhendo The Sisterhood.

Obviamente, Andrew se sentiu lesado ao ver que o antigo companheiro havia “quebrado” o acordo de cavalheiros. Além disso, Sisterhood também era o nome do fã-clube do The Sisters of Mercy. Assim, Andrew rapidamente registrou o nome The Sisterhood e, em seguida, lançou o álbum “Gift”, que significa Veneno, em alemão. A disputa terminou nos tribunais, com a dupla Hussey e Craig sendo obrigada a rebatizar a sua nova banda. Surgia assim o The Mission.

Andrew ficou com o The Sisters of Mercy, assumindo, além do vocal, as guitarras e teclados. Com essa nova formação, que ainda tinha a baixista Patricia Morrison e o célebre Doktor Avalanche, o Sisters voltou à ativa em 1987, com o álbum “Floodland”. Mas essa é outra história.

Apesar de todas as brigas que culminaram com a implosão do grupo, essa primeira formação do The Sisters of Mercy ficou marcada com uma fantástica reunião de três talentos da música Dark, ou Gótica para os mais moderninhos. Dela, surgiu um dos maiores álbuns do estilo, que ainda hoje é uma referência para os inúmeros grupos que deram continuidade ao legado do Sisters.