Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Cesar Ovalle
A carreira do Raimundos é marcada pela superação. Afinal, o grupo sobreviveu a uma mudança importante em sua formação (a saída do vocalista Rodolfo, em 2001) e se reinventou após esse baque.
Fiéis aos seus fãs e a sua música, Canisso (baixo) e Digão (guitarra e vocal), integrantes da formação clássica do grupo, superaram as dificuldades e não deixaram esses obstáculos acabarem com a banda. “Todos os dias eu agradeço por ter continuado com o Raimundos. Demos uma grande volta no quarteirão e, hoje, posso dizer que fizemos a coisa certa. Tenho recebido muitas mensagens positivas dos fãs nas redes sociais, na rua, em todos os lugares! Estamos felizes fazendo o que mais gostamos e isso é visível em nossos semblantes. Eles não mentem”, afirma Digão.
Hoje, ao lado de Marquim (guitarra) e Caio (bateria), o grupo está prestes a completar 30 anos de estrada. Como “prêmio”, eles chegam ao que promete ser um dos maiores momentos da carreira do Raimundos.
Na próxima quinta-feira (17) e sexta-feira (18), a banda fará duas apresentações no Teatro Positivo, em Curitiba, para a gravação de um DVD/CD acústico. Celebrar a própria história de uma forma tão apoteótica é uma forma de afirmar, talvez até para eles mesmos: “nós sobrevivemos!”.
A gravação também será o primeiro registro ao vivo das canções mais recentes da banda com os “novos” integrantes. “Não só as novas como também as de outras épocas. Temos muitas músicas que não tiveram a oportunidade de serem trabalhadas e, nesse formato acústico, elas estarão divinamente maravilhosas sem perder o punch”, diz.
Curitiba, uma segunda casa para o Raimundos
A escolha do local para a gravação do novo trabalho do grupo não aconteceu por acaso. Na realidade, a relação do Raimundos com a cidade de Curitiba é antiga. Foi na capital paranaense, em 1995, que a banda gravou seu primeiro DVD ao vivo.
O show aconteceu na casa de shows Aeroanta, uma das mais importantes daquela época, e ficou na memória de seus integrantes por vários motivos. “O Aeroanta era um dos melhores lugares pra se tocar em Curitiba! Lembro de um garoto que foi ao camarim depois do show com a boca sangrando e sem os dentes da frente. Ele os tinha perdido dando um stage dive do palco e caindo de boca no chão. O mais louco é que ele não parava de sorrir! Teve também mulheres colocando a mão dentro das nossas bermudas… Ops, mas isso foi no Syndicate (risos)! Curitiba é demais!”, conta.
Um ano antes, em 1994, o Raimundos fez um dos shows mais marcantes da história da Pedreira Paulo Leminski. Naquele dia, debaixo de um calor infernal, a banda se apresentou na “Acid Tour” ao lado do Viper, do Sepultura e dos Ramones. Esse show faz parte da vida de Digão, até hoje, devido a um motivo muito particular. “Lembro de muitas coisas desse dia, principalmente, porque foi o último show que o meu irmão mais velho, o João, viu em vida. Foi muito especial para mim”, afirma.
Outra lembrança dessa apresentação que ainda é marcante para Digão é a violência que o público foi obrigado a enfrentar na entrada da pedreira. “Antes do nosso show, eu fui com o meu empresário na época ver uma confusão que estava rolando na entrada da pedreira. Vi policiais batendo nos fãs e isso mexeu comigo”, relembra.
De fato, são muitos os relatos sobre agressões contra os fãs que estavam na fila de entrada da pedreira naquela ocasião. Essa atitude violenta, muito comum em shows daquela época, acabou servindo como combustível para o Raimundos na hora de subir no palco. “Um pouco antes eu passei a bola para o Rodolfo sobre o acontecido e pedi que ele fizesse um discurso positivo antes da música ‘Bê a bá’. O público se sentiu abraçado naquele momento e quando a música entrou, foi uma das maiores ‘pogações’ que já vi na minha vida! Foi o melhor momento daquela tour com os Ramones e o Sepultura! Me senti o Romário passando a bola para o Bebeto fazer o gol na Copa de 1994 (risos)!”, complementa.
No ano 2000, o grupo também registrou algumas imagens do CD/DVD “MTV Ao Vivo” no antigo Curitiba Master Hall. Em função de todos esses momentos, a escolha de Curitiba para gravação do DVD se justifica plenamente. “Além da antiga ligação com a gravação do nosso primeiro DVD ao vivo, temos grandes parcerias que viabilizaram o processo como um todo. Tem também o fato de Curitiba ser um meio termo entre o sudeste e o extremo sul, por assim dizer, facilitando a ida da maioria dos nossos fãs ao show”, explica.
Forrócore
Vai ser interessante saber como as canções do grupo foram adaptadas para o formato desplugado. Afinal, o Raimundos foi um dos primeiros grupos do rock nacional a misturar os ritmos brasileiros ao Rock/Hardcore. Hoje isso é normal, mas naquela época (início da década de 1990) foi uma atitude inovadora.
O curioso é que a “definição” do som do Raimundos aconteceu quase que por acaso. “Foi por acidente. Ficávamos dando risadas e tocando em ritmo de forró as músicas do Zenilton. Aí, do nada, começamos a tocar em forma de Punk rock. Soou tão legal que a partir daí nasceu o ‘Forrócore’, que é um dos estilos que existe dentro do Raimundos. Não dá para definir o nosso som só como Forrócore”, analisa.
E esse caldeirão sonoro também incorpora outros elementos. “Nós passeamos por várias influências, que vão desde Hardcore, Ska e Metal até o Reggae, Punk, Brega Pião, baladas, etc. É indefinível!”, complementa.
O arranjo das canções
Para tornar a gravação em Curitiba ainda mais especial, as canções do show foram enriquecidas harmonicamente com o uso de um naipe de metais e de cordas. Durante esse processo de preparação, talvez a maior dificuldade tenha sido adaptar os arranjos das canções.
Como, basicamente, todas elas foram criadas pensando no peso das guitarras, a inclusão das cordas e dos metais exigiu um cuidado ainda maior. “Chamei o Jorge Bittar, que é um grande amigo daqui de Brasília e um tecladista muito requisitado na cidade. Nós fizemos juntos a maioria dos arranjos de piano, cordas e metais”, explica. Com toda essa transformação, o público certamente vai se surpreender com as novas versões, recriadas agora no formato acústico. “A ‘Deixa eu falar’ foi toda arranjada pelo Marquim e até os metais que já existiam nas velhas canções foram mexidos. Foi muito emocionante ver as músicas crescendo e tomando formas que nós não tínhamos ideia de que iam ficar tão gigantes!”, complementa.
Além dessa parte técnica, o Raimundos também fez questão de manter a conexão com os seus fãs. Para isso, a escolha do repertório teve a participação do público pela internet. Entre as músicas que farão parte do setlist estão “Eu quero ver o oco”, “Puteiro em João Pessoa” e “Mulher de fases”, que terá a participação do vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto.
Convidados
Para enriquecer ainda mais as duas noites no Teatro Positivo, a gravação do DVD terá várias participações especiais, entre elas a de Alexandre Carlo (vocalista do Natiruts), do grupo carioca Oriente e de Marcão (ex-guitarrista do Charlie Brown Jr.). A convidada mais inusitada é a cantora baiana Ivete Sangalo.
Apesar da surpresa, Digão afirma que os fãs vão se surpreender com a performance de Ivete. “Todos os que escolhemos têm uma grande ligação com o Raimundos! E outras comigo pessoalmente, que é o caso da Ivete Sangalo. A gravadora queria uma cantora de peso e citaram uns nomes que torceram nossos narizes (risos)! Mas aí eu me lembrei de uma pessoa que sempre foi ‘mil’ comigo em várias situações e fiz o convite. A Ivete me respondeu com um ‘claro’ que tinha sete ‘as’! Amor puro! Escreve aí que a participação dela será uma das mais emocionantes!”, afirma.
Outro convidado é o ex-baterista do Raimundos, Fred Castro, que fez parte da banda até 2005. A participação do antigo companheiro de Digão e Canisso deve ser um momento especial para os fãs mais antigos. “Nossa relação nunca se abalou com os nossos caminhos diferentes porque eles foram feitos para, volta e meia, a gente se reencontrar. O Fred ajudou a construir essa história e sempre a valorizou, mesmo não estando na banda fisicamente! Vamos ensaiar somente nesta quarta-feira (16), um dia antes do show. Mas já mandei as versões e elas estão na ponta da baqueta! Vai ser demais!”, diz.
O CD/DVD acústico deve ser lançado no início de 2017, depois do carnaval. A gravação acontece nesta quinta-feira (17) e sexta-feira (18) no Teatro Positivo. “Curtam, cantem, dancem e sejam felizes como a gente é com vocês!”, finaliza Digão. A casa abre às 20h15 e o show começa às 21h15. A censura é de 16 anos. Menores de 16 anos entram acompanhados pelos pais ou por um responsável legal.
Os ingressos ainda estão disponíveis. Os valores são: Plateia Vermelha – R$ 188 (inteira) e R$ 98 (meia-entrada). Plateia Azul – R$ 178 (inteira) e R$ 93 (meia-entrada). Plateia Amarelo – R$ 168 (inteira) e R$ 88 (meia-entrada). Plateia Roxo – R$ 158 (inteira) e R$ 83 (meia-entrada). Plateia Laranja – R$ 148 (inteira) e R$ 78 (meia-entrada). Plateia Rosa – R$ 138 (inteira) e R$ 73 (meia-entrada). Plateia Verde – R$ 128 (inteira) e R$ 68 (meia-entrada).
A meia-entrada é válida para estudantes, pessoas acima de 60 anos, professores, doadores de sangue e portadores de necessidades especiais (PNE) e de câncer. Já está incluso o valor de R$ 8 de acréscimo por bilhete referente à taxa de administração Disk Ingressos. É obrigatória a apresentação do documento previsto em lei que comprove a condição do beneficiário, na compra do ingresso e na entrada do teatro.
Os bilhetes podem ser adquiridos no site Disk Ingressos, na loja da empresa no Shopping Palladium (de segunda a sexta, das 11h às 23h, aos sábados, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h), nos quiosques instalados nos shoppings Mueller e Estação (de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h), no Call center pelo fone (41) 3315-0808 (de segunda a sexta, das 9h às 22h, e aos domingos, das 9h às 18h), na bilheteria do Teatro Positivo (de segunda a sexta, das 9h às 21h, e aos sábados, das 9h às 18h), e na bilheteria do Teatro Guaíra (de terça a sábado, das 12h às 21h).
O Teatro Positivo fica na Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, no Campo Comprido.
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