Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Divulgação

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O Punk Rock é um estilo direto e sincero. Sem meias palavras, a maioria das bandas punks costumam abordar de forma crítica o mundo que as envolve. Um dos mais antigos representantes do Punk curitibano é o Repudiyo. Neste sábado (17), o grupo se apresenta no 92 Graus para comemorar seus 16 anos de vida e para lançar seu novo álbum, “Desgraça, Discórdia e Desgosto”.

O grupo nasceu no ano 2000 e o seu primeiro EP, “A Desigualdade Continua” foi lançado em 2002. Em 2006, a banda disponibilizou algumas músicas inéditas no Myspace. O trabalho não tinha nome. Em 2013, o Repudiyo chegou ao seu primeiro full length, autointitulado. O grupo também participou de algumas coletâneas em seus 16 anos de estrada. A formação atual do grupo tem Mcgaren (guitarra), Paregontas (baixo), Corvina (bateria) e Fofinho (vocal).

O novo álbum, “Desgraça, Discórdia e Desgosto”, está sendo lançado por uma cooperativa que envolve 13 selos de todo o país, entre eles o Metal Reunion (Rio de Janeiro), Cianeto Discos (Rio Grande do Sul) e o Fuckitall (Santa Catarina).

O CD foi gravado no Estúdio Passagem de Som, em Curitiba, com produção de Lucas Arbigaus e Fernando Cavalaro. “O álbum começou a ser composto logo após o término de gravação do nosso CD de 2013. Algumas músicas eu já levei prontas como, por exemplo, a ‘Destruição’ e a ‘Peculato’, na qual a letra só foi encaixada posteriormente”, diz Paregontas.

Assim como no EP “A Desigualdade Continua”, a gravação do novo álbum foi feita ao vivo. “Fizemos isso por vários motivos; Um deles é o fator grana, mesmo. No underground não vale a pena investir muito em gravações. Outro motivo foi que é muito mais a nossa cara gravar assim. Fica mais cru e sujo, como nós somos”, explica Paregontas.

Além das faixas autorais, o disco tem dois covers: “Worthless words” do Stomachal Corrosion, a “Culum bebedorum dominum non est” do New York Against Belzebu. O grupo também gravou uma versão Punk em português para a canção “Bella ciao”. “Ela é um hino antifascista italiano que foi composto durante a Segunda Guerra Mundial. Fomos a primeira banda da América do Sul a gravar essa música”, revela Paregontas.

A história fonográfica do Repudiyo, aliás, tem algumas particularidades. Afinal, a banda lançou seu primeiro CD somente em 2013, mais de uma década após o seu início. “Realmente, é um tempão mesmo, né? (risos)”, brinca Paregontas.

Um dos motivos para que isso acontecesse foram as mudanças na formação da banda após os lançamentos dos dois primeiros EPs. Ao mesmo tempo, a questão financeira também contribuiu para que o CD de estreia demorasse a sair. “Nós sempre esbarrávamos na falta de grana. Acho que dávamos menos importância para a gravação de material novo porque, além da grana, dá muito trabalho. Então, queríamos tocar e foda-se o mundo”, explica Corvina.

A frustração pela pouca repercussão das músicas lançadas no Myspace também fez com que o grupo repensasse a validade de gravar e lançar um novo trabalho. “Não conseguir fazer ‘nada’ com esse material, após tanto esforço para gravar, desanima qualquer um. No primeiro CD, nós tivemos ajuda de alguns amigos que têm um selo. O ‘Desgraça, Discórdia e Desgosto’, então, nem se fala! São treze selos dividindo os custos para a parada sair!”, complementa o baterista.

Ao mesmo tempo, a banda sempre fez da estrada o seu maior objetivo. “Sempre primamos por fazer shows, viagens e ter aquela proximidade com o público. Os custos no nosso país sempre foram complicados. Do nosso primeiro CD até o novo, existe um espaço de três anos. Vamos tentar lançar com essa frequência os nossos próximos trabalhos”, diz Fofinho.

Crossover

O som do Repudiyo é uma mescla de Punk, Hardcore e Heavy Metal conhecida como Crossover. Um exemplo perfeito do estilo é o álbum “Anarkophobia” (1991), do Ratos de Porão. “As influências que cada um carrega desde criança passam sempre por bandas de Metal. Acho que o Metal Punk sempre foi a cara da banda. Hoje em dia, a gente conseguiu mais maturidade para fazer melhores composições e arranjos. A tendência é seguir esse caminho do Crossover”, explica Paregontas.

Outro elemento presente no som do Repudiyo é o som mais extremo, como o Grindcore. “Eu, particularmente, tenho como maior influência essa escola do Grind, com menos interferência do Metal. Acho que fica interessante a bateria menos elaborada e com menos técnica, mais na grosseria mesmo”, diz Corvina.

Unindo esses elementos sonoros, o Repudiyo procura absorver as influências, mas ao mesmo tempo, manter uma cara própria na sua música. “A ideia é misturar tudo o que sempre curtimos e tentar criar, na medida do possível, uma sonoridade com nossa identidade. Essa mescla de sons e estilos desde o começo da banda é legal. Particularmente, eu adoro quando alguém pergunta como pode a chamar o nosso som ou que com que estilo devem nos identificar nos cartazes. Aí, vejo que acertamos”, complementa Fofinho.

Além das fronteiras

No início deste ano, o álbum “Desgraça, Discórdia e Desgosto” fez um caminho inusitado. O novo trabalho do Repudiyo foi lançado no Paraguai, em fita K7. “O Álvaro Bazan, do Korova HTM Records lá de Ciudad del Este, é nosso amigo de longa data. Ele resolveu lançar lá no Paraguai na ‘brodagem’ total, simplesmente por gostar do nosso som e querer divulgá-lo por lá”, explica Paregontas.

A atitude revela um lado pouco comum às bandas brasileiras: a intenção de interagir com outros grupos do continente sul-americano. “Nós sempre procuramos manter contato com a cena dos outros países da América do Sul. Isso se intensificou depois de 2013, com o lançamento do nosso primeiro CD. Com esse material, nós fizemos algumas trocas com gente de fora. Inclusive, isso despertou o interesse do selo Bombas de Odio, da cidade de Rosário, na Argentina, que acabou editando algumas cópias desse CD por lá”, complementa.

Seguindo essa linha colaborativa, o Repudiyo também costuma produzir e viabilizar shows de bandas de outros países em Curitiba. Isso acaba gerando contatos e convites para se apresentar fora do país. “O pessoal do Paraguai entrou em contato mais de uma vez, querendo que a gente fosse tocar lá. Infelizmente, ainda não conseguimos concretizar isso. Mesmo assim, o Bazan achou que seria interessante editar umas cópias do ‘Desgraça, Discórdia e Desgosto’, antes mesmo do lançamento aqui no Brasil”, explica.

O álbum foi lançado no Paraguai no formato Mini CD, uma forma mais barata de produção e que é bem recebida naquele país. Em Curitiba, o K7 foi lançado em setembro pelo selo Cholo Records. “Eles estão lançando algumas bandas nesse formato também e se interessaram pela Repudiyo quando souberam que nós estávamos com material pronto. Fizemos uma tour de dez shows em dez dias com esse material fresquinho na mão. Passamos por Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Foi louco!”, diz Paregontas.

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A cena curitibana

Não é segredo para ninguém que o cenário musical em Curitiba sempre foi difícil para bandas autorais de qualquer estilo musical. Entre a falta espaços para tocar e de apoio da mídia, na verdade, é o próprio público da cidade que pouco valoriza os artistas locais.

Mesmo com esses obstáculos, Paregontas acredita que é possível vislumbrar uma luz no fim do túnel. “A dificuldade é a mesma de sempre. Qualquer cidade enfrenta a falta de mais espaços e de apoio dos órgãos de cultura. Não acho que seja falta de público, porque ele existe, e muito. Aqui em Curitiba a cena está legal. Eu acredito que estamos passando por um bom momento. Existem várias bandas de ótima qualidade que arrastam um público fiel a cada show. Claro que poderia ser muito melhor, pois credito que muita gente não se interessa por música autoral. Ainda estão vivendo no século passado e gostam de sair para ouvir banda cover (risos), analisa.

A falta de interesse do público, acostumado e condicionado a ouvir sempre as mesmas bandas, também é um fator que compromete esse cenário. “Infelizmente, a galera tem um certo cabresto musical. As pessoas têm dificuldade para ouvir o ‘novo’, seja de qual estilo for. Curitiba tem muitas bandas de vários segmentos e estilos mas, infelizmente, a cultura do cover impera. Mesmo assim, acho que o som feito com sinceridade sempre estará por aí. Nós já estamos há 15 anos na estrada e ainda esperamos ficar por muito tempo”, complementa Fofinho.

Ideias e ideais

As letras e as mensagens que são passadas sempre foram muito importantes dentro do Punk. Mas hoje, como uma consequência dos “tempos modernos”, muitas bandas punk estão fugindo desses “princípios” básicos.

Não é o caso do Repudiyo. “Para nós, o que importa é a mensagem a ser passada em cada música. A nossa postura sempre foi e sempre será punk em relação à sociedade e a política”, diz Paregontas. “Como vamos falar de flores em meio à barbárie em que vivemos? Mas nada contra as bandas que preferem não passar uma mensagem importante, só diversão. Apenas não é a nossa opção”, complementa Corvina.

Ao lado de outros grupos que se mantêm fiéis ao que sempre acreditaram, como o Cólera e o Ratos de Porão, o Repudiyo ainda demonstra uma postura crítica em relação à política e à sociedade. “Para mim, a palavra Punk é um estilo de vida e cada lugar, país ou cidade tem sua peculiaridade. Os princípios são os mesmos, mas as nossas letras sempre serão contra toda forma de preconceito, racismo e machismo em geral. Somos a favor da liberdade individual de cada um, da igualdade entre gêneros e contra esse sistema arcaico em que vivemos. Procuramos sempre relatar o que vemos à nossa volta e, na medida do possível, tentamos passar algo positivo”, finaliza Fofinho.

O Repudiyo se apresenta neste sábado (17) no 92 Graus. O evento ainda terá shows de quatro importantes bandas do cenário local: Ovos Presley, Necrotério, MalKriados e Ex-Presidentes. A discotecagem será comandada por Clau S. Zombie e Rúbia Barreto.

Os ingressos custam R$ 10 (sem CD) e R$ 15 (com o CD novo do Repudiyo). Os bilhetes podem ser adquiridos no 92 Graus no dia do evento. A casa abre às 20h e os shows começam às 21h. O 92 Graus fica na Avenida Manoel Ribas, 108, no Centro.