Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira
A carreira do trio Os Paralamas do Sucesso se confunde com a própria música brasileira. Formado em 1983, o grupo foi um dos primeiros artistas brasileiros a desbravar o que, naquela época, era um terreno completamente desconhecido: o rock nacional.
Hoje, 35 anos depois, Herbert Vianna (vocal e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) estão chegando ao seu 14º álbum de estúdio. E mais do que isso, a banda se mantém como uma das mais populares do país.
Nesse sábado (30), os Paralamas se apresentaram no Teatro Positivo, em Curitiba, iniciando um novo capítulo em sua rica trajetória. O show foi o primeiro da nova turnê e do novo álbum da banda, ambos batizados como “Sinais do Sim”.
Com o teatro lotado (todos os ingressos foram vendidos), os Paralamas iniciaram o show com duas músicas do novo trabalho: a faixa-título e “Itaquaquecetuba”. Em seguida, o grupo enfileirou clássicos do rock nacional, entre eles, “Meu erro”, “Uns dias”, “Ska”, “Mensagem de amor” e “Saber amar”. Uma surpresa foi a execução de “Dois elefantes”, música que não costuma fazer parte do repertório do trio.
O setlist do show teve 30 músicas, sendo quatro do novo álbum. Foram poucos os momentos em que Herbert conversou com o público. Logo no começo, ele elogiou a relação muito próxima que a banda sempre teve com os fãs curitibanos ao longo de sua carreira. No mais, as canções foram tocadas praticamente sem intervalo entre uma e outra.
Um dos momentos mais fortes do show foi a execução de “Selvagem” e “O Beco”, com suas letras mais do que atuais. Entre as novas composições, “Medo do medo” e “Sinais do sim” parecem ser a mais incisivas e as que foram mais bem recebidas pelo público.
A cozinha dos Paralamas, formada por Bi e Barone, é tranquilamente uma das mais coesas e poderosas do mundo. A qualidade técnica, a criatividade e o entrosamento dos dois são impressionantes. Herbert também estava visivelmente à vontade e isso se refletiu em sua performance na guitarra e na empostação de seu vocal. O excepcional João Fera (teclados), que na prática é o “quarto Paralama”, pois está com a banda desde 1986, além dos excelentes Monteiro Jr. (saxofone) e Bidu Cordeiro (trombone), completam a formação na turnê.
Depois do megassucesso “Alagados”, o grupo saiu brevemente do palco e voltou para apresentar mais quatro músicas, entre elas a nova “Teu olhar”. O clássico “Óculos” encerrou o show.
Curitiba quase sempre é a cidade escolhida para os artistas brasileiros iniciarem as suas turnês. Um dos motivos que explicam essa preferência é a “fama” que o curitibano tem de ser exigente.
Diz a máxima que, se a tour começar bem na capital paranaense, ela será um sucesso em todo o país. Então, levando em conta a lotação total e a empolgação do público no Teatro Positivo, Herbert, Bi e Barone podem se preparar para mais uma temporada fantástica.
Confira três músicas do show: “Teu olhar”, “Selvagem” e “O beco”.
A volta aos estúdios
“Sinais do Sim” é o primeiro trabalho dos Paralamas desde “Brasil Afora” (2009). Apesar desses oito anos sem gravar, ao que parece, a química entre o trio não se alterou nesse “reencontro” para compor. “Foi um processo de longo termo. Salvamos tempo na nossa agenda para nos dedicar ao material novo. Levou bastante tempo até que sentimos que era hora de registrar tudo em um álbum”, revela Barone.
O título do álbum também parece indicar uma afirmação do grupo, no sentido de continuar a produzir material novo. “Esse título foi escolhido primeiro porque é o nome de uma das músicas. Depois, porque representou bem o trabalho como um todo, no momento em que o mundo e o nosso país vivem um clima de retrocesso geral. Lembrei agora do ‘Yes, we can’ da campanha do Obama. O poder do ‘sim’ é forte”, explica.
“Sinais do Sim” é composto por 11 faixas, todas inéditas. Três são composições de outros artistas: “Cuando Pase El Temblor”, do músico argentino Gustavo Adrián Cerati, “Medo do Medo”, da rapper portuguesa Capicua em parceria com João Ruas, e “Não Posso Mais”, do cantor e compositor Nando Reis. O álbum foi gravado no Rio de Janeiro e a mixagem foi realizada em Los Angeles pelo produtor Mario Caldato Jr.
Durante a sua carreira, o Paralamas compôs algumas músicas incisivas abordando o caos social brasileiro. “Perplexo” é um exemplo dessa veia crítica que é uma das cacterísticas do trio. Além disso, a canção “Que país é esse?”, da Legião Urbana, faz parte dos shows do Paralamas há muitos anos.
O novo álbum também reflete um pouco do cada vez mais turbulento cenário político do país. “Nós já fizemos muita contestação social em nossas músicas. Sempre que houve o clamor, era espontâneo e direto. ‘Sinais do sim’ é uma música que pode ter esse entendimento. Mas gravamos uma versão da música ‘Medo do medo’, da rapper portuguesa Capicua, que é bem explícita sobre como o medo é usado de forma oportunista em nossa sociedade”, diz.
A estreia da nova turnê em Curitiba mostrou claramente que os Paralamas do Sucesso ainda têm muita lenha para queimar em sua fogueira criativa. Ver um dos precursores do rock brasileiro, quase quatro décadas depois, ainda se colocando na linha de frente da música nacional, é uma grande notícia.
Confira o nosso álbum de fotos do show.
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