Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Clayton Clemente/Reprodução Facebook Ratos de Porão

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A história do Ratos de Porão se confunde com o Punk Rock brasileiro. Afinal, a banda está completando 35 anos de trajetória e ainda se mantém firme na ativa e a seu modo: sem dar a mínima para opiniões alheias.

Nesta sexta-feira (8), João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) se apresentam no Jokers. A abertura será das bandas curitibanas Repudiyo, Bloqueio Mental e Repelentes.

Curitiba, aliás, é uma das cidades onde o Ratos tem mais público. Alguns shows, por exemplo, como uma apresentação no extinto Syndicate, no começo da década de 1990, tornaram-se lendários entre os fãs. “A primeira vez que fomos tocar em Curitiba foi em 1987, mais ou menos. Naquela ocasião, nós fomos de ônibus e ficamos em um hotelzinho melhor. Foi um show bem punk,  simples, não tinha nem iluminação, nada. Eu nunca tinha ido a Curitiba, então, eu lembro perfeitamente dos táxis cor de laranja e tal. Foi bem marcante”, conta João Gordo.

A fama do Ratos na capital paranaense é compreensível pois, na realidade, a cidade é um berço de bandas punk. Desde o começo dos anos 1980, com a Carne Podre e a Contrabanda (depois Beijo AA Força), a capital paranaense sempre teve uma cena forte e criativa. “Ultimamente eu não conheço muita coisa, mas eu sempre tive contato com as bandas de Curitiba. Isso desde a época do Pinheads. Eu cheguei a produzir uma demo e alguns shows deles em São Paulo”, diz.

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Clássicos

No início de 2017, o Ratos também veio a Curitiba na turnê que comemorava os 26 anos do álbum “Anarkophobia” (1991). O disco é considerado um marco não só na carreira da banda, mas também no Rock brasileiro. A mescla de Metal, Punk e Hardcore, de certa forma, ditou os rumos que o estilo seguiria nos anos seguintes no Brasil.

No entanto, ironicamente, o CD, apesar de toda essa aura cult, é visto com ressalvas pela banda. “Eu acho que, na época, a gente deu uma exagerada no Metal. Existem partes que a gente não gosta muito, principalmente em alguns trechos de bateria e vocal. Nós demos um passo maior do que as pernas, mas ele é um ótimo disco e lançou a gente para o mundo do Metal”, diz.

Na visão da banda, a obra-prima do Ratos é o álbum “Brasil” (1989). “Pra gente, o nosso disco de Crossover é o ‘Brasil’. Na época ele foi superbem-feito, desde a capa até a última música. É uma crítica monstro ao país. O CD é perfeito, não existe nenhuma parte que faça a gente passar um pouco de vergonha”, analisa.

Falando em crítica, uma das grandes características do som do Ratos é a contestação social das letras da banda. Músicas como “Igreja Universal” ou “Amazônia nunca mais”, por exemplo, são retratos fiéis da realidade brasileira nas últimas décadas.

João afirma que essa consciência foi se desenvolvendo aos poucos, na medida em que a banda ganhava corpo. “O Punk é anarquista, então, daí já vem uma contestação fudida, mas nós só fomos nos conscientizar de ideologia política muito tempo depois. Sempre fomos porra-louca pra caralho e a nossa visão política era primitiva, comparado com o que é hoje. Isso veio com o movimento punk, aquela contestação que veio lá da ditadura, até meio ingênua, pois nós éramos muito jovens, e foi crescendo com o passar dos anos”, analisa. “As minhas letras são inspiradas no que acontece ao meu redor, tanto na parte política e social quanto em coisas que acontecem comigo. Como nós gravamos vários discos seguidos no final dos anos 1980, começo dos 1990, esse período é bem explicado nas letras”, complementa.

A bagagem internacional que João Gordo e sua banda carregam também ajuda a construir esse cenário lírico. Afinal, seguramente, o Ratos é uma das bandas brasileiras que mais se apresentaram no exterior, principalmente na Europa.

Esse, aliás, é outro “troféu” que o grupo pode exibir com orgulho, pois a banda foi desbravar o continente europeu muito antes de isso virar uma rotina entre os artistas do Brasil. “Hoje, é muito fácil fazer turnê. Nós fomos meio que pioneiros porque fizemos turnês fora do país antes do Sepultura. Antes do Ratos, só o Cólera tinha feito turnê na Europa, em 1985. Os Incríveis também foram, quando eles eram o The  Clevers (risos). Nós fomos em 1989 e o Sepultura foi no ano seguinte. A partir dali, nós tocamos todo ano na Europa ou nos Estados Unidos”, conta.

Vivenciar a rotina das bandas em outros países também faz com que o Ratos consiga estabelecer um paralelo entre essas duas realidades. “No Brasil tem muito produtor pilantra. Principalmente nos lugares mais longínquos, os caras tem aquele tipo de pensamento bem brasileiro mesmo. O cara paga todo mundo, mas não paga a banda, ou paga a banda, mas não paga o resto. Lá fora isso é mais difícil de acontecer”, compara.

Já em relação ao público, João acredita que não existe diferença. “Por causa da internet, da globalização, o reconhecimento da galera é igual. O público da Croácia é igual ao de Curitiba”, diz.

O mais recente álbum do Ratos é “Século Sinistro” (2014) e, ao menos por ora, o grupo não parece disposto a encarar o estúdio novamente. “Não estamos pensando em porra nenhuma! Nós demoramos oito anos para fazer o nosso último disco. A gente nunca ensaia. É meio complicado porque cada um mora em um canto. Somos todos pais de família velhões. Não somos mais jovens a mil por hora, somos tiozões a mil por hora ou um pouco mais devagar”, diz.

Veganismo

Quem acompanha as redes sociais do vocalista do Ratos percebe o engajamento de João em relação à causa vegana. Gordo, inclusive, tem um canal no YouTube chamado “Panelaço”, no qual recebe convidados e prepara receitas veganas. “De três ou quatro anos para cá eu virei vegano e me sinto bem não compactuando com JBS, com essas pilantragens e com a exploração e a crueldade animal. Automaticamente, com os meus programas, eu também acabo influenciando muita gente. Isso é muito legal porque quanto mais pessoas deixarem de comer carne ou produtos de origem animal, quem sai ganhando sempre são os bichos”, finaliza.

As apresentações de hoje no Jokers começam às 21h. Os ingressos custam R$ 65 e ainda estão à venda no site Sympla (onde existe o acréscimo da taxa de serviço da empresa), na loja Dr. Rock (Rua Emiliano Perneta, 297, loja 4, Shopping Metropolitan. Fone: 3024-0669) e no próprio local. Na hora do show, o valor será de R$ 70. O Jokers fica na Rua São Francisco, 164, no Centro.