Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira
O músico, cantor e compositor norte-americano impressionou o público com um repertório que não deve nada aos seus tempos de Talking Heads
Nos anos 1980, as notícias que chegavam ao público brasileiro pelas páginas das revistas de música da época falavam muito sobre a inventividade do Talking Heads. “A banda mais criativa do mundo”, diziam os críticos. Nessa segunda-feira (26), no Teatro Positivo, em Curitiba, David Byrne mostrou a real dimensão desse “rótulo”. Afinal, o cantor, músico e compositor norte-americano é o grande símbolo dos Talking Heads.
Antes do show, o público olhava para o palco vazio e se perguntava onde estariam o cenário e os equipamentos. Na se via nada, a não ser um cérebro “descansando” em cima de uma mesa no centro do palco. Dos lados, uma espécie de cortina circundava o tablado e permitia que se visse a movimentação dos músicos na penumbra.
De forma clara, a intenção desse minimalismo era voltar a atenção das pessoas para a música. No teatro paranaense, o diretor Rafael Camargo tem usado um conceito muito semelhante que ele chama de “teatro mínimo”. Dentro dessa ideia, só o essencial de figurino, luz e som são usados. O que se veria nas quase duas horas de show seria mais ou menos isso.
Sozinho no palco, sentado em uma cadeira, David iniciou a apresentação com “Here”, faixa de seu mais recente álbum, “American Utopia”, que acaba de ser lançado. Aos poucos, os dez músicos de sua banda foram se juntando para formar uma base sonora, ao mesmo tempo potente e delicada.
O repertório do show reuniu clássicos imortais do Talking Heads, como “Burning down the house” e “Once in a lifetime”, e músicas novas, como a excelente “Everybody coming to my house”, faixa de “American Utopia”.
Diferentemente da apresentação no Lollapalooza no sábado (24), que aconteceu de dia, Byrne teve a oportunidade de mostrar toda a dramaticidade cênica que o seu novo show pode oferecer. A luz, por exemplo, foi usada de forma muito inteligente em “Blind”, pérola que abre o álbum “Naked” (1988), dos Talking Heads. Um holofote foi posicionado em frente aos músicos e o efeito criava sombras gigantes na parte de trás do palco. Com a movimentação dos músicos, esses espectros pareciam caminhar para cima do público. Simples e genial! Como em uma peça de teatro, Byrne e sua banda também fizeram várias coreografias no palco, tudo de forma ensaiada, mas sem exageros.
World Music
No final dos anos 1980, Byrne foi um dos grandes nomes do que, na época, foi batizada de World Music. A ideia era reunir ritmos e influências de vários estilos musicais. Nessa onda, ele lançou um dos álbuns que se tornaram referência no gênero, “Rei Momo” (1988). Hoje, 30 anos depois, o disco continua sendo atual e relevante. Essa semente plantada há três décadas continua influenciando a obra de Byrne. No show no Positivo, por exemplo, o público pôde ouvir Samba, Jazz, MPB, Soul, Heavy Metal…
Depois de “Burning down the house”, aplaudida efusivamente, a banda se retirou rapidamente do palco. De volta, o grupo tocou “Dancing together” e “The great curve”, dos Talking Heads, quando até uma bola de futebol foi colocada para os músicos “baterem uma bolinha” ao som de uma batucada tipicamente brasileira.
Na sequência, a banda saiu mais uma vez do palco e voltou para encerrar o show com “Hell you talmbout”, versão para a música de Janelle Monáe, música que cita nomes de pessoas afro-descendentes norte-americanas que foram assassinadas pela polícia e em confrontos raciais. Antes, Byrne explicou o contexto da canção e fez um parelo entre os Estados Unidos e o Brasil. “Com a sua permissão, nós trocaremos os nomes pelos de pessoas do Brasil”, disse. Poucos fãs perceberam, mas a canção cita nomes de ativistas que lutaram pela igualdade social nos dois países. Logo de cara, o primeiro nome a ser cantado foi o da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada no início deste mês no Rio de Janeiro. “Diga o nome dela!”, repetia a banda em coro.
No final, David Byrne e sua banda foram aplaudidos de pé pela plateia que percebeu que tinha presenciado um show daqueles que ficam marcados na memória. Gênios possuem várias características que os tornam diferentes. Uma delas é “fazer muito de pouco”. Aos 65 anos de idade, Byrne mostrou que a modernidade está na cabeça dos artistas.
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