Texto: Marcos Anubis
Fotos: Estela Zardo e Pri Oliveira
Curitiba é um cenário dificílimo para qualquer banda se manter na ativa. Afinal, a falta de apoio em todos os segmentos, principalmente por parte do público, é uma constante há décadas. Essa realidade acaba de fazer mais uma vítima, pois os integrantes do Division Hell, um dos nomes mais importantes do Death Metal curitibano, acabam de anunciar o fim da banda.
Os dois principais motivos que levaram a essa decisão são os que normalmente acabam resultando no fim das bandas curitibanas: a parte financeira e a falta de apoio do público. O mais surpreendente é que, no dia 28 de setembro, Hugo Tatara (vocal e guitarra), Renato Rieche (guitarra solo), Johnny Benson (baixo) e Caio Murillo (bateria) lançaram o álbum “Carpe Mortem”, o terceiro trabalho de estúdio do grupo e talvez o que melhor retrata o som do DH, que une peso e agressividade com a técnica e a temática singular das letras.
Como já existia a consciência de que enfrentariam essas dificuldades, afinal, os músicos do Division Hell estão na estrada há muitos anos, a banda resolveu tomar algumas atitudes. Assim, após os gastos com a gravação do álbum, que começou no início de 2018 e foi finalizado em setembro, o grupo decidiu que tocar essencialmente na capital paranaense não valeria a pena. A atitude é plenamente justificável porque praticamente não existe envolvimento nenhum da maioria do público curitibano com as bandas locais.
Levando isso em consideração, o grupo resolveu fazer turnês em outros estados, principalmente em São Paulo, para buscar outros ares e divulgar o som do Division Hell. Porém, as dívidas com a gravação do álbum, com a produção de camisetas e material da banda e com a própria turnê acabaram se acumulando, o que levou a difícil decisão de encerrar as atividades. “A fórmula deu certo, foram feitos vários contatos e a recepção do público ao som da banda foi bem legal! Porém, as dívidas que contraímos na estrada acabaram se acumulando e, somado a alguns outros detalhes importantes, levaram a difícil decisão de encerrar as atividades. Infelizmente, sem grana nós fazemos muito pouco ou quase nada. Chegou a um ponto no qual só tocar bem e compor coisas legais não estava adiantando. Existem vários detalhes que fizeram com que eu e o Renato decidíssemos que parar agora era o melhor pra nós”, explica Hugo.
Após dois meses fazendo alguns shows fora de Curitiba, a banda achou que as dívidas já não estavam compensando o esforço que o grupo fez para lançar o novo álbum. “A gente se deparou com uma encruzilhada. É diferente quando você é mais jovem, mas hoje o Hugo está casado, com filhos, então fica mais complexo de você conseguir traçar planos para a banda. Curitiba era uma cidade que eu já queria parar de tocar porque me incomoda essa bolha, esse desinteresse do público. Ao longo dos anos, nós fomos acumulando muitas coisas e tentando passar por cima das dificuldades, mas agora nós chegamos a um ponto no qual essa barreiras começaram a afetar a parte pessoal de cada um de nós. Foi muito dinheiro envolvido para fazer o CD”, explica Renato Rieche.
Nove anos de Death Metal
O Division Hell nasceu em 2010, após o fim do Legion of Hate, um dos grupos mais importantes do Death Metal curitibano. A formação inicial tinha Ubour Tatara (guitarra e vocal), Renato Rieche (guitarra solo), Gino Gaier (baixo) e Eduardo Oliver (bateria). Nesses nove anos de vida, a banda lançou o EP “Apokaliptika” (2011) e os CDs “Bleeding Hate” (2016) e “Carpe Mortem” (2019).
Em 2012, o baixista Gino Gaier saiu do grupo, sendo substituído por Hernan Rodrigues (que fez parte do lendário Infernal e, atualmente, toca no Ethel Hunter e no Giant Gutter From Outer Space). Hernan ficou até 2016, quando se retirou e foi substituído por Felipe Franco. No ano seguinte, foi a vez do baterista Eduardo Oliver deixar a banda, seguido pelo baixista Felipe Franco.
A partir daí, o Division Hell ficou resumido a Ubour e Rieche e a banda só voltou a traçar planos no fim de 2017, quando Ubour compôs a música “I am death” e os dois remanescentes resolveram remontar a banda. Com a entrada do baixista Johnny Benson e do baterista gaúcho Rubens Potrich, o quarteto iniciou as gravações do álbum “Carpe Morten”. Porém, Rubens mora em uma cidade próxima a Bento Gonçalves, no interior do Rio Grande do Sul, e essa dificuldade na logística de ensaios e gravações acabou culminando com a saída do baterista.
Apesar de enfrentarem várias mudanças na formação durante esses nove anos, o núcleo central do DH, com Ubour e Renato Rieche, permaneceu na luta para que o Division Hell tivesse o reconhecimento que merecia. “Nós trabalhamos bastante para fazer as coisas acontecerem e se você não fizer dívidas, você acaba não fazendo nada. Também tem a parte de decepção com o público porque quando você lança um álbum, você espera que as pessoas comprem, que compareçam aos shows. E nesses nove anos, foram poucas as vezes nas quais nós tocamos para um público grande. Isso faz parte da jogada, mas nessa altura da nossa vida é meio desgastante”, diz Rieche. “Eu acho que muita coisa na cena curitibana do Metal, principalmente no mais extremo, foi se perdendo com a internet. No começo, as pessoas ainda compartilhavam as coisas, mas com o tempo isso foi acabando”, finaliza Renato.
O Division Hell foi uma das bandas mais talentosas e criativas de Curitiba e, mesmo assim, sucumbiu a esse cenário nefasto que insiste em pairar sobre as bandas autorais da cidade e essa é mais uma situação que coloca em xeque a cena curitibana. Afinal, com tantas bandas e artistas autorais excelentes na cidade, por que o público não valoriza e apoia os grupos da capital paranaense?
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