O Álbuns Clássicos de hoje traz a jornalista Katy Mary de Farias (43) falando sobre o disco “Heaven Up Here”, da banda inglesa Echo and the Bunnymen, lançado em 1º de junho de 1981.
O álbum foi produzido por Hugh Jones e gravado no estúdio Rockfield, no País de Gales. Ele ficou pronto em apenas três meses. A mixagem foi feita enquanto o grupo estava em turnê nos Estados Unidos. A história conta que o quarteto, (Ian McCulloch no vocal, Will Sergeant na guitarra, Les Pattinson no baixo e Pete de Freitas na bateria), gravava até às duas da manhã e depois ensaiava para a tour americana até as oito. Terminado o ensaio, eles dormiam até as dez, levantavam e reiniciavam todo o processo.
A foto da capa do disco foi tirada pelo fotógrafo Brian Griffin em Porthcawl, perto de Rockfield. A gravadora do grupo, a WEA, não gostou da imagem porque achava que ela precisava ter os integrantes da banda. Griffin fez as fotos dos quatro primeiros álbuns do Echo. A revista inglesa New Musical Express elegeu “Heaven Up Here” como o melhor álbum e a melhor capa do ano de 1981.
Em 2003 a revista inglesa Rolling Stone considerou “Heaven Up Here” como o 463º melhor álbum de todos os tempos.
Katy e os Bunnymen
A história de Katy com a banda começa em 1986, com o álbum “Porcupine”. Apaixonada pelo som do grupo, a jornalista dava início à sua coleção que hoje tem 45 vinis (entre álbuns e singles), 52 CDs, 12 DVDs e as três biografias oficiais lançadas. A fã acredita que o disco é o menos acessível, comercialmente, do Echo. “Eu definiria o ‘Heaven Up Here’ como enérgico e sombrio, um estado de espírito da própria banda. Por isso digo que é um álbum pesado, daqueles que você vai assimilando ao poucos depois de várias audições”, opina Katy. Ela acredita que “Heaven Up Here” é único na discografia do grupo em razão do grande salto musical que ele representa. “Eles espantaram pra bem longe a velha história do famigerado ‘segundo álbum’ que já foi fatal para muitas bandas”, analisa.
A jornalista já assistiu a seis apresentações do Echo and the Bunnymen. “A primeira vez que os vi ao vivo foi em 1987, no Rio. Foi um show que ficou na memória de todos, inclusive dos próprios músicos que sempre dizem em entrevistas que esse foi um dos melhores shows que fizeram”, conta. A apresentação foi exibida pela extinta Rede Manchete, na época.
A jornalista conta que a reação da banda ao presenciar a reação dos fãs foi de surpresa. Naquela época, não era tão comum os artistas internacionais incluírem o Brasil na rota de suas turnês. “O Ian não acreditava no que via. Uma plateia lotada, cantando alto as letras da banda, em um país que ele nem sonhava que um dia visitaria”, relembra. O grupo gostou tanto do Brasil que aproveitou para gravar, com direção de Anton Corjbin, o clipe da música “The game”, faixa do seu 6º álbum, “Echo and the Bunnymen”, lançado em 1987.
Em 2008, já com ingresso comprado e passagem reservada para assistir a banda no Royal Albert Hall, em Londres na Inglaterra, Katy teve uma surpresa. “Descobri que estava grávida da minha segunda filha. Ela nasceu próximo à data do show”, relembra. Como curiosidade, em 1983 o Echo foi o primeiro grupo de rock, depois dos Beatles, a tocar no Royal Albert Hall.
O Echo and the Bunnymen já se apresentou por três vezes em Curitiba, em 1999, 2006 e 2008. A jornalista já teve a oportunidade de conversar com os integrantes da banda, também, em três ocasiões. “O Ian e o Will são simpáticos. Ambos mostram interesse pelo que você fala, são curiosos. O Ian é extremamente educado, adora futebol e é torcedor fanático do Liverpool”, conta Katy.
O “pop perfeito”
Nos anos 1980/90, a imprensa europeia, principalmente a britânica, insistia em procurar o “pop perfeito”. Várias foram as bandas candidatas ao posto, do Lloyd Cole and The Commotions ao Stone Roses.
O Echo estava nessa lista. As texturas profundas e melancólicas das canções do grupo eram realçadas pelas letras , apesar de a mídia inglesa não dar muito crédito ao texto de Ian. O vocalista chegou a declarar que a imprensa não aceitava que alguém com 19 anos pudesse escrever algo que não fosse “facilmente compreensível”. Por conta disso, o músico nunca achou necessário que os álbuns do grupo viessem com encarte de letras. “Nossas letras não são do tipo que você lê o que está impresso e encontra um entendimento”, afirmava Ian.
Katy destaca três músicas do álbum. Uma delas é a faixa título. Segundo ela, o vocalista Ian McCulloch se incomodava com o fato de a mídia britânica cultuar muito a banda. “O nome do álbum remete a isso, a imprensa dizendo ‘onde estão os Bunnymen’ e eles respondendo ‘estamos aqui, acima de vocês’. A letra também conceitua isso”, explica.
“A promise” fala sobre frustração. O Echo sabe, como poucos, criar climas melancólicos e etéreos para as suas canções. “Mac diz que, desde os 13 anos, ele construiu certas morais e princípios que carregou consigo por muito tempo, mas que as coisas tinham mudado e a promessa não foi cumprida. Ele a considera uma música triste”, diz Katy.
“All my colours” é uma das mais belas faixas do álbum, construída sobre uma bateria marcada e soturna e as intervenções melódicas do guitarrista Will Sergeant. A letra fala sobre a perda de alguém e o fato de que pessoas se apegam a coisas que já passaram. “Para mim, essa música é Pete de Freitas na sua essência. Quando a ouço, é como se acabasse de ter saído de um show vendo ele por detrás da bateria”, diz Katy. Pete faleceu em 1989, em um acidente de moto.
A formação atual do Echo tem Ian McCulloch no vocal, Will Sergeant e Gordy Goudie nas guitarras, Stephen Brannan no baixo, Jez Wing nos teclados e Nick Kilroe na bateria. “Heaven up Here”, apesar de não ser um dos álbuns mais bem sucedidos, comercialmente, do grupo, consolidou o Echo and the Bunnymen como uma das maiores e mais criativas bandas do cenário britânico, posto que o quarteto ocupa até hoje.
Confira, na íntegra, o álbum “Heaven Up Here”.
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