Certamente você já ouviu a canção “Bebendo vinho”, gravada pelo Ira!. O que poucos sabem é que o autor da música é Wander Wildner, uma das figuras mais importantes do movimento punk brasileiro. Ex-vocalista da banda gaúcha Os Replicantes, ele mantém, em seu trabalho solo, a mesma postura e ferocidade que sempre caracterizaram a sua trajetória na música.
O cantor esteve na linha de frente dos Replicantes de 1984 a 1989. Depois da sua saída, ele participou das bandas Sangue Sujo, Máquina Melequenta e Los Encarnados. Sua carreira solo teve início em 1995, quando voltou para Porto Alegre.
Em 2003, quando o baterista Carlos Gerbase, que tinha assumido os vocais dos Replicantes desde a saída de Wander, resolveu se retirar do grupo, o cantor foi, novamente, convocado para a função. “Eles me chamaram para voltar. Fizemos duas turnês na Europa, gravamos um disco de inéditas e dois ao vivo no estúdio”, conta.
Paralelamente ao Replicantes, o artista continuou dando sequência à sua produção individual. “Em 2006, tive que sair novamente porque ficou difícil conciliar com o meu trabalho solo”, afirma. Os anos ao lado do grupo, porém, marcaram a carreira de Wander. “Aprendi a fazer músicas com eles. Foram muitos shows, gravamos vários discos, fizemos vários vídeos”, relembra.
Com tantas bandas que se destacam no rock nacional, quando se fala de artistas gaúchos, o público porto alegrense, que apoia as bandas locais fortemente, precisa ser ressaltado.
A cena gaúcha
A cena musical da cidade de Porto Alegre sempre revelou grandes bandas para o país. Defalla, Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós, Garotos da Rua, todos eles surgiram na capital gaúcha.
Na matéria publicada no último dia 11 pelo Cwb Live falando sobre o cenário que envolve a música curitibana, que você pode ler nesse link, vários músicos da cidade revelaram uma realidade que não agrada a todos.
Em Porto Alegre, essa cena veio sendo construída ao longo dos anos. “Ela não foi criada de uma vez, isso vem acontecendo há muito tempo. Desde quando me lembro, nos anos 1970, sempre existiram várias rádios que tocavam os artistas locais. Até hoje é assim e isso ajuda a manter a cena”, explica Wander.
Apesar desse histórico de apoio, o vocalista acredita que, nos últimos 13 anos, o cenário vem se enfraquecendo. “A partir dos anos 2000, o rock de Porto Alegre caiu bastante. Não apareceram muitas bandas interessantes, talvez porque não surgiram locais. Para existir cena, é preciso que existam pontos de encontro”, analisa.
The Clash, Sex Pistols, Inocentes, Replicantes… O movimento punk ainda resiste após mais de 30 anos do seu surgimento?
O punk no século 21
A atitude crítica contra o sistema e a contestação das leis vigentes eram algumas das bandeiras do movimento punk. E no século 21, essas diretrizes ainda existem? “O que eu mantenho é a minha forma de criar músicas e seguir na estrada, sem pensar na critica, na mídia e no público, fazendo o que estou a fim”, afirma Wander. Se nos anos 1980 o rock era o carro chefe das rádios no Brasil, hoje ele está quase excluído, dando espaço ao sertanejo e a outros ritmos “populares”.
Wander acredita que o “jabá”, velho artifício usado por artistas que consiste em pagar aos veículos de comunicação para que as suas músicas sejam executadas maciçamente nas emissoras, é o grande vilão da atualidade. “Muitas mudanças ocorreram no país, a partir dos anos 80. A globalização, o fortalecimento da sociedade capitalista e consumista no Brasil e, principalmente, o ‘jabá’, que domina a programação da maioria das rádios”, critica.
Como o rock, hoje, é quase um forasteiro na mídia, em geral, existem muitos obstáculos que uma banda, independente da sua qualidade, precisa atravessar para chegar ao grande público. As dificuldades encontradas pelos artistas independentes, atualmente, como a falta de apoio da mídia, parecem não incomodar o cantor. “Para mim é fácil, é só seguir trabalhando, criando músicas, gravando discos e fazendo shows”, afirma.
Em 1988, na festa de dois anos da extinta e mítica rádio Estação Primeira, foi realizado um show no Palácio de Cristal, ginásio do Círculo Militar de Curitiba, com as bandas Nenhum de Nós, Os Mulheres Negras, Defalla, Os Replicantes e o Ira!.
As lembranças que o vocalista tem sobre as suas apresentações na capital paranaense não parecem estar entre as melhores. “Toquei em todos os piores lugares de Curitiba, os mais quentes, com o pior som!”, diz.
Seguindo só no seu caminho, como diz a letra da canção “Bebendo vinho”, Wander lançou seis discos de estúdio em sua carreira solo. “Baladas Sangrentas” de 1997, “Buenos Dias!” de 1999, “Eu Sou Feio… mas Sou Bonito! “ de 2001, “Paraquedas do Coração” de 2004, “La Canción Inesperada” de 2008 e “Caminando y Cantando” de 2010.
Questionado se existe previsão de lançamento de um novo trabalho, Wander salta a sua veia punk e dispara. “Lançarei depois que terminar de compor as músicas e gravá-lo, ou seja, quando ele ficar pronto!”, sentencia. Em um mundo onde o “politicamente correto” tornou-se regra, fazendo com que os artistas sejam padronizados e sem opinião, na grande maioria dos casos, Wander é um dos raros músicos que se mantém fiéis ao que são, aos seus ideais e crenças, e isso é louvável.
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