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Inocentes, Ronaldo é o segundo da direita para a esquerda (Foto – Daniel Arantes)

O mundo da música mudou drasticamente nas últimas duas décadas. O que era encarado, na maioria das vezes, como arte, hoje é tratado, como comércio. No Brasil isso não é diferente.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no mês de julho de 2012, a população brasileira atual é de 193.946.886 habitantes, 1,67% superior à calculada no mesmo mês de 2011, que foi de 190.755.799 pessoas. Como o pensamento contemporâneo gira em torno da parte comercial, esse é um dos melhores e maiores mercados do mundo para serem explorados.

Por outro lado, as dificuldades encontradas pelos músicos brasileiros para exercerem o seu trabalho com dignidade são grandes. Por falta de recursos, a grande maioria deles é obrigada a assumir múltiplas funções dentro das suas carreiras, como empresário, assessor de imprensa, divulgador etc.

 A máxima de Andy Warhol

De certa forma, esse cenário “comercial” já tinha disso previsto há mais de 40 anos. Criador da Pop Art e mentor de uma das bandas mais importantes e influentes da história do rock, o Velvet Underground, o artista multimídia Andy Warhol declarou certa vez que, no futuro, todos teriam os seus quinze minutos de fama.

Nada mais real, atualmente. A música tornou-se uma mercadoria, vendida e exposta como tal. Daniel Azevedo, guitarrista e vocalista do Imperious Malevolence e do Axecuter, duas das mais importantes bandas da cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná e localizada no sul do país, acredita que “ser músico” envolve um sentimento que poucos têm. “Quem atua como músico, profissional ou não, deveria exercer a sua atividade por paixão”, afirma.

Segundo ele, são poucos os que encaram a música como forma de arte. “A grana não deveria ser o foco principal. Infelizmente, bons músicos geralmente não são valorizados ou recompensados. Quer ganhar muito dinheiro? Então não seja músico! Ou seja alguém que toca para as massas, deixando a qualidade artística de lado”, desabafa.

 

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Imperious Malevolence, Daniel é o primeiro do lado esquerdo (Foto – Facebook Imperious Malevolence)

 

A vida dos artistas brasileiros

Ronaldo Passos é guitarrista do Inocentes, uma das primeiras bandas do movimento punk no Brasil e, considerada por muitos, a maior de todas por ter se mantido fiel ao estilo durante os seus mais de 30 anos de carreira. Segundo ele, fazer rock, atualmente, não é uma tarefa fácil. “Ser músico de rock aqui no Brasil, terra do samba, axé, essas músicas com muito balanço e pouco conteúdo nas letras, não é fácil, mas quando o profissional é versátil ele tem muito trabalho”, analisa.

Os ritmos citados por Ronaldo são o “lado comercial” do maior país da América do Sul. Eles foram criados com um único objetivo: vender. Com uma excessiva exposição em todos os meios de comunicação do país, notadamente a TV, eles são consumidos maciçamente.

De acordo com dados do IBGE, em 2011, 59,4 milhões de lares tinham televisão no Brasil, 96,9% do total. O número supera o das residências que possuem geladeira, 58,7 milhões. Isso mostra o poder que a propagada de um produto qualquer pode ter sobre a população do país.

Um dos maiores problemas enfrentados pelos músicos brasileiros é o pagamento de direitos autorais. O tema é uma das principais reclamações entre os artistas. “O direito autoral é pago, mas você não tem acesso de verdade, a dados que mostrem o quanto sua música foi executada. Quando você vai receber, te entregam uma planilha com uma amostra de execuções e um valor a receber”, explica Ronaldo.

Estrutura

Em termos de instrumentos e locais para shows, em uma comparação com os anos 1980 quando o rock começou a tomar conta da mídia brasileira, Ronaldo acredita que as condições de trabalho melhoraram. “A estrutura dos lugares melhorou bastante nos anos 1980. A importação cresceu muito no Brasil e chegaram muitos equipamentos e instrumentos importados. Assim, as casas de show foram melhorando suas estruturas de som. Os instrumentos brasileiros também melhoraram muito”, analisa.

Apesar dessa evolução em termos estruturais e de acesso à instrumentos melhores, são raros os que conseguem viver somente de música. “Geralmente os músicos possuem um trabalho paralelo para poder segurar a barra. A música é uma loteria, eu gosto muito”, afirma Ronaldo.

Apesar de tantas dificuldades, o Brasil é um grande celeiro de músicos de qualidade, como João Gilberto, Caetano Veloso, Tom Jobim e João Bosco e, por sorte, ainda existem aqueles artistas que remam contra a maré da música comercial, fazendo com que o seu trabalho tenha a essência que sempre deveria ter: ser uma arte.