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“Psychocandy”, um marco do rock inglês (Foto – Silvia Rebelo)

 

O Álbuns Clássicos de hoje traz o livreiro Mauro Sniecikowski (43) falando sobre o álbum “Psychocandy”, da banda escocesa Jesus And Mary Chain.

Lançado em novembro de 1985, o disco de estreia do Jesus causou tamanho impacto que alçou a banda, rapidamente, ao hall das mais importantes e inovadoras do rock inglês, na época. A formação que gravou o álbum tinha os irmãos Jim e Willian Reid nas guitarras e vocais, Douglas Hart no baixo e Bobby Gillespie na bateria, que pouco tempo depois sairia do grupo para formar o Primal Scream.

O JAMC, formado em 1984, mesclava a inovação do Velvet Underground com a doçura pop dos anos 80. O chamado “wall of sound”, muro de som, que a banda conseguia criar com a distorção de suas guitarras era, ao mesmo tempo, belo e ensurdecedor. “O álbum causou um grande impacto com suas guitarras distorcidas, feedback, crueza e, ao mesmo tempo, muita doçura. Três acordes e um soco na cara”, analisa Mauro.

Na opinião do fã, a banda veio para preencher uma lacuna que havia na música mundial, na época. “Na primeira metade dos anos 80, algumas coisas me irritavam na sonoridade da época. Curtia The Cure, Joy Division, Queen, Dire Straits, alguma coisa de heavy metal, mas a maioria do que estava acontecendo eu achava chato”, diz.

Mauro descobriu o Jesus And Mary Chain ouvindo uma fita cassete que um amigo trouxe da Inglaterra. “Foi paixão à primeira ouvida. Logo saiu o disco no Brasil e não hesitei em comprar. Tenho ele até hoje. Lembro de uma resenha feita pelo Kid Vinil para a revista Roll, onde ele dizia que ‘Psychocandy’ tinha vindo para varrer o lixo que estava sendo produzido, na ocasião”, conta.

Ainda hoje o álbum é lembrado pelos ingleses. No ano 2000, a revista Q Magazine elegeu “Psychocandy” o 86º melhor álbum de todos os tempos. Já em 2006, a mesma revista fez uma lista com os 40 melhores álbuns dos anos 1980. O disco de estreia do Jesus ficou em 23º. Toda a cena independente inglesa deve muito ao pioneirismo do Jesus And Mary Chain. O shoegaze, por exemplo, estilo musical de bandas como o My Bloody Valentine e o Ride, bebeu na fonte dos irmãos Reid, em sua essência.

 

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A coleção de discos, CDs e livros guardada por Mauro (Foto – Silvia Rebelo)

 

Os destaques

A faixa que abre o disco, “Just like honey”, com sua beleza agressividade, é destacada por Mauro. “Desde o primeiro acorde ela corre pelas veias, ácida, feito azeite, combatendo todos os radicais livres até lubrificar os ouvidos. Foi emocionante escutá-la em ‘Lost In Translation’, (filme de Sophia Coppola). É uma música atemporal”, afirma.

“Never understand” é outra canção que está entre as preferidas do fã. “Eu e alguns amigos chegamos a pedir para que eles tocassem ela ao vivo, quando estiveram em Curitiba, mas o Willian Reid nos disse que eles não gostavam mais da canção. Por quê? Ficamos sem resposta”, relembra.

Um show histórico em Curitiba

Em 1990, o Jesus And Mary Chain fez um único show em Curitiba, no Palácio de Cristal, o ginásio do Círculo Militar. Mauro e alguns amigos, também fãs da banda, seguiram os irmãos Reid em todos os locais em que eles estiveram, da chegada ao aeroporto até o restaurante onde o grupo jantou. “Encontramos os caras em um mercado, assistimos a passagem de som, conseguimos entrar no vestiário, transformado em camarim, e os caras lá, deitadões naqueles bancos duros de vestiário, todos com cervejas na mão”, conta Mauro. Os fãs conseguiram até conversar, rapidamente, com os membros do grupo. “Trocamos algumas palavras. O Jim Reid era mais quietão, na dele. Os outros eram mais acessíveis”, complementa.

A experiência única ficou na memória do fã, até hoje. Assistir a um show de uma banda tão underground, fora da grande mídia, não era um fato comum, naqueles tempos. “Foi sensacional. O Círculo Militar estava cheio, o palco era todo negro com uma estrela prateada enorme atrás onde eram projetadas imagens, durante as músicas”, conta.

A presença do Jesus And Mary Chain na cidade é um prêmio que os fãs, como Mauro, guardam até hoje com orgulho. “Lembro que, no fim, a banda foi saindo do palco, um por um, até ficar somente o Willian Reid. Quando ele finalmente saiu, deixou sua guitarra soando por mais alguns bons minutos até as luzes se acenderem e o show acabar. Fantástico!”, finaliza.

Confira as duas canções de “Psychocandy” destacadas por Mauro: “Just like honey”, “Never understand”.