A cantora gaúcha apresentou o show de maneira impecável, nessa sexta-feira (5), no Teatro Guaíra
Prestar tributo a um determinado artista é uma atitude que nem sempre é bem sucedida, por mais que exista a melhor das intenções.
Afinal, músicas são criações que trazem uma carga de interpretação extremamente pessoal que, na maioria dos casos, refletem de maneira cristalina os sentimentos e a maneira de pensar daquele artista. Além disso, a comparação com as versões originais é inevitável e, em alguns casos, bastante cruel.
Levando em conta todas essas questões, ao aceitar o convite para participar da criação do show “Gal – Coisas Sagradas Permanecem”, a cantora, instrumentista e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto conseguiu fazer uma homenagem belíssima a Gal Costa, que faleceu em novembro do ano passado.
Nessa sexta-feira (5), no Teatro Guaíra, em Curitiba, o público curitibano viu de perto o novo projeto de Calcanhotto e teve a chance de viver uma grande e sincera celebração do legado de Gal Costa. A realização do espetáculo foi da Parnaxx e da Brasilidades.
Pérolas
Adriana abriu o show cantando “Recanto escuro”, faixa do álbum “Recanto” (2011), seguida por “Baby”, uma composição de Caetano Veloso que foi um grande sucesso na voz de Gal e também foi gravada pelos Mutantes, em 1968.
Adriana Calcanhotto é uma cantora que se entrega de corpo e alma a cada música que interpreta. Justamente por causa dessa característica, ela conseguiu tomar para si as músicas eternizadas por Gal e, em vez de fazer um simples cover, transformá-las em versões que trazem um toque bem pessoal.
No setlist do show, Adriana incluiu músicas de diversas fases da trajetória de Gal, entre elas, “Índia” (faixa-título do disco homônimo, lançado em 1973), “Solitude”, canção do álbum “Caras e Bocas” (1977), e “Livre do amor”, que faz parte do álbum “A Pele do Futuro” (2018).
Entre os grandes momentos do show, dois se destacam: “Negro amor” (canção gravada por Gal em 1977 no álbum “Caras e Bocas” que é uma versão de “It’s all over now, baby blue”, de Bob Dylan) e a sensacional “Vapor barato”, uma composição de Wally Salomão que foi um grande sucesso na voz de Gal e também ganhou outras versões sensacionais, entre elas, as da banda carioca O Rappa e do maranhense Zeca Baleiro.
Durante toda a apresentação, a conexão que Adriana tem com os fãs ficou muito clara, pois não foram poucos os momentos nos quais a cantora recebeu o carinho do público por meio de declarações inflamadas e aplausos.
Um legado imortal
A ideia de criar o show “Gal – Coisas Sagradas Permanecem” partiu de Marcus Preto, que foi produtor e diretor artístico de vários shows e álbuns de Gal Costa nos últimos nove anos. Para colocar essa iniciativa em prática, ele decidiu utilizar as datas das apresentações que já estavam previamente agendadas para Gal em todo o Brasil.
Outro fator que dá ainda mais credibilidade a homenagem é a banda que acompanha Adriana, pois ela é composta por quatro músicos que estiveram ao lado de Gal nos últimos sete anos: Pedro Sá (guitarra e violão), que participou da turnê do álbum “A Pele do Futuro” (2018), e o trio Fabio Sá (baixo), Limma (teclados) e Vitor Cabral (bateria e percussões), que acompanhou Gal Costa na última turnê que ela fez, “As Várias Pontas de Uma Estrela” (2021).
A direção do espetáculo é dividida por Calcanhotto e Marcus, com o cenário concebido por Omar Salomão, filho do poeta e letrista Waly Salomão.
Eu sou amor da cabeça aos pés
Na parte final do show, Adriana cantou “Bloco do prazer”, que fez o público se levantar para dançar e entrar no clima de festa que a música pede.
Em seguida, Calcanhotto saiu brevemente do palco, sob os aplausos do público, e voltou trazendo um clima mais introspectivo para o show, ao cantar a belíssima “Um dia de domingo”. Durante a música, Adriana tomou a canção para si e fez com que o público se emocionasse profundamente. Esse foi o momento no qual a presença de Gal se fez mais forte durante o espetáculo e os fãs sentiram isso.
Posteriormente, para encerrar o show, Adriana abriu a blusa e deixou os seios à mostra para cantar “Dê um rolê”, música do álbum ao vivo “Fa-Tal – Gal a Todo Vapor” (1971), que tem a emblemática frase “eu sou amor da cabeça aos pés”.
A atitude faz menção ao ano de 1994, quando Gal costumava cantar a música “Brasil”, de Cazuza, e mostrar os seios como uma maneira de manifestação política.
O que chama atenção é que Calcanhotto conseguiu fazer quase discretamente essa conexão pois, em nenhum momento, ela deixou o peito completamente nu ou teve alguma atitude de teor apelativo.
Adriana se despediu dos fãs e saiu antes do fim da música, enquanto a banda terminava a execução da canção. No final, as cortinas do palco do Guaíra foram fechadas, deixando os fãs ainda sob o impacto do que tinham acabado de presenciar.
“Gal – Coisas Sagradas Permanecem” é um belo tributo a uma das maiores vozes que a MPB já teve. Dentro desse projeto, Adriana Calcanhotto tem todo o mérito por saber oferecer uma homenagem à altura de Gal Costa, tanto na questão musical quanto em termos de postura.
Confira os vídeos das músicas “Um dia de domingo” e “Dê um rolê”, gravadas ao vivo no show de Adriana Calcanhotto no Teatro Guaíra.
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