O show do cantor e compositor Caetano Veloso, que aconteceu na última quinta-feira (11) no Teatro Positivo em Curitiba, provocou sentimentos bem antagônicos nos fãs. O motivo? Durante toda a apresentação, Caetano tocou poucas músicas mais “conhecidas” do grande público, como “A luz de Tieta” e “Um índio”, no bis.
A turnê é baseada no álbum “Abraçaço”, lançado no final do ano passado. O show teve início com “A bossa nova é foda”, primeira canção do disco. Desde o início foi possível perceber a interação e a sintonia entre o quarteto, no palco. Os músicos que o acompanham, batizados de BandaCê, (Pedro Sá na guitarras, Ricardo Dias Gomes no baixo e teclados e Marcelo Callado na bateria e percussão), com quem Caetano já lançou dois álbuns, “Cê” em 2006 e “Zii e Zie” de 2009, fornecem a parte instrumental perfeita para o cantor, ora com peso, ora com melodia e experimentação.
O palco do espetáculo era simples. Quatro cavaletes com quadros compunham o cenário. A iluminação era bem sutil, mantendo os músicos em um clima intimista. Durante todo o show, Caetano e sua banda tocaram as músicas em sequência, praticamente sem intervalo e sem comunicação com o público.
Após “Abraçaço”, terceira música do show, Caetano apresentou sua banda. “Esta é a BandaCê, felizmente em Curitiba”, disse. Depois, o cantor revelou um pedido feito nos bastidores. “Quem aqui está de aniversário? Eu recebi um bilhete de um homem, no camarim, dizendo que era aniversário de sua amada. Não consegui identificar quem era, então vamos dedicar essa música a todos os aniversariantes da noite”, falou. Em seguida a banda tocou “Parabéns”, também do disco recém lançado.
É claro que, após mais de 40 anos de carreira, músicos do porte de Caetano Veloso possuem autonomia para, literalmente, fazerem o que bem entendem no palco. Escolher o seu repertório é uma dessas benesses. Porém, a esmagadora maioria dos fãs queria ouvir músicas como “Tigresa”, “Odara” e “Leãozinho”, clássicos da carreira do cantor. “Eu já sabia que ele não tocaria os clássicos, mas a gente fica na esperança. A maioria das minhas preferidas não cabiam no ‘Abraçaço’. Achei uma pena ele não tocar ‘Odara’, que na minha opinião cabia e poderia ter substituído ‘Luz de Tieta’, tranquilamente”, afirma a jornalista Priscila Schip (24).
O grande momento do show foi a canção “Triste Bahia”, do álbum “Transa”, lançado por Caetano em 1972, quando estava exilado em Londres, na Inglaterra. “Convidado” a se retirar do Brasil governo militar que comandava o país, o músico produziu um dos discos de sua carreira. A união entre os idiomas inglês e português, entre o afoxé e o rock and roll, entre Monsueto e Beatles, deram uma personalidade única ao trabalho.
Outros destaques da apresentação foram “Eclipse oculto”, “De noite na cama”, “Você não entende nada” e “Um comunista”, essa com uma letra ao estilo Caetano Veloso, crítica e inteligente. “Um mulato baiano que morreu em São Paulo, baleado por homens do poder militar. Nas feições que ganhou em solo americano. A dita guerra fria, Roma, França e Bahia”, diz a letra.
Ao término de cada canção, o público aplaudia e ficava na expectativa de ouvir algum dos muitos clássicos da carreira do cantor, o que não aconteceu. Na volta ao palco, para o bis, Caetano tocou “Um índio” e “A luz de Tieta”. “Outro”, do álbum “Cê” lançado em 2006, encerrou a apresentação. Todos saíram do palco sem se despedir do público, de forma abrupta. Era nítido que isso fazia parte do roteiro do show, mas, para o público, ficou aquele gosto de “quero mais”.
Infelizmente, a produção do cantor não liberou filmagens durante o show.
Confira o clipe de “A bossa nova é foda”.
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