Mergulhar na vida e na obra de personagens tão marcantes na história da música brasileira, como Cazuza, Elis Regina e Luiz Gonzaga, é uma tarefa hercúlea. A jornalista Regina Echeverria, especializada em escrever biografias de grandes personalidades, dedicou boa parte da sua trajetória profissional a esse trabalho.
Regina já passou por grandes veículos da imprensa brasileira, como os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, além das revistas Veja e Placar. Entre seus livros mais importantes estão as biografias de importantes artistas da MPB como a cantora Elis Regina, em “Furacão Elis” (1985), o rei do baião Luiz Gonzaga, em “Gonzaguinha e Gonzagão, uma história brasileira” (2006), e o ex-vocalista do Barão Vermelho em “Cazuza, só as mães são felizes” (1997).
Essa paixão pelas biografias surgiu, mais fortemente, na metade dos anos 1980. “Depois de fazer o ‘Furacão Elis’, eu passei a ser procurada para escrever biografias. Também percebi que, no livro, havia um espaço para jornalistas como eu, especializados em escrever perfis de personalidades”, relembra.
Retratar a vida da “Pimentinha”, apelido daquela que é considerada a maior cantora da história da MPB, foi muito especial na vida da jornalista. “Elis era minha amiga e já havíamos combinado de fazer a sua biografia. O Gonzaguinha também foi meu amigo e o Gonzagão um artista que eu amava”, afirma.
Exagerado
Um de seus grandes trabalhos foi a biografia do ex-vocalista do Barão Vermelho, Agenor de Araújo Neto, o Cazuza. O convite para retratar a vida do artista partiu da mãe do cantor, Lucinha Araújo. Dentro do processo de pesquisa, algumas características da personalidade do “exagerado” chamaram a atenção da biógrafa. “Cazuza era um menino doce, com um grande coração e realmente interessado nos outros. Em momentos de crise, virava um exagerado, como ele mesmo cantou”, conta Regina.
O livro demorou apenas um ano para ser escrito, fato que pode ser explicado pelo grande número de amigos e parceiros do artista ainda vivos. Cazuza pertencia a uma geração que se preocupava imensamente com a letra, o texto das canções. Hoje, no rock nacional, essa preocupação quase não existe. “O Cazuza cresceu ouvindo música brasileira e convivendo com artistas. Fora isso, sempre foi um leitor voraz. Suas letras refletem isso”, diz.
Em 1985, o cantor saiu do Barão Vermelho em uma época em que a banda estava em plena evidência, após a apresentação no primeiro Rock in Rio. Sua carreira solo seguiu a mesma linha de sucesso, mostrando que seu talento sobreviveria. “Acho que ele queria mesmo era brilhar sozinho e não envolver os amigos em suas maluquices”, analisa.
Todo amor que houver nessa vida
Algumas pessoas foram muito importantes na vida do cantor. Uma delas foi o produtor Ezequiel Neves. Foi ele que levou uma demo do Barão Vermelho ao pai de Cazuza, João Araújo, fundador da gravadora Som Livre. Inicialmente, João não acreditava que a empreitada do filho pudesse ter futuro. “O Zeca foi um grande amigo, um incentivador e parceiro do Cazuza, fundamental para a carreira dele”, explica Regina.
Outro grande personagem na vida de Cazuza foi o cantor Ney Matogrosso. Sua influência na sua vida musical e pessoal é significativa. “O Ney também amava o Cazuza e, além de se apaixonar por ele, ainda trabalhou como iluminador em alguns de seus espetáculos”, relembra. Na última edição do festival Rock in Rio, realizada no mês de setembro passado, foi realizado um tributo a Cazuza. O grande momento do show foi a participação de Ney Matogrosso interpretando as canções “Codinome beija-flor”, “O tempo não para” e “Brasil”. A forma única e intensa com que Ney cantou as três canções foi emocionante.
Regina destaca uma música que expressa a personalidade do vocalista, dentro e fora da música. “Gosto de ‘Exagerado’, pois é um retrato fiel do Cazuza e do Ezequiel Neves. Serve para os dois”, finaliza. Regina Echeverria trabalha atualmente na biografia que contará a vida da Princesa Isabel, ainda sem previsão de lançamento.
Retratar a vida de uma pessoa não é apenas um trabalho complicado, que exige muito esforço na busca de fontes confiáveis e negociações com os personagens envolvidos, é também uma arte. Dentro desse segmento único, o jornalismo brasileiro tem em Regina Echeverria um de seus maiores representantes.
[…] é a autora da biografia “Cazuza – Só As Mães São Felizes”, de 1997. Leia neste link a matéria completa. “Só Se For A Dois” foi lançado em 1987 e trazia músicas como […]